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Pinheiro Junior: Mesmo espírito do ‘foca’ aos 87 de idade e 70 de profissão

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Ele trabalhou e dirigiu os mais importantes jornais do país. José Alves Pinheiro Junior, o capixaba mais niteroiense dessas terras de Arariboia, profissional completo que sabia fazer de tudo com talento e rapidez numa redação, completa 87 anos, na terça-feira (16/11), com o mesmo espírito de “foca” (jornalista principiante) quando chegou aos 18 anos no Última Hora.

Com sete décadas de profissão, tem um currículo do tamanho de um “tijolão”, como se dizia no jargão do jornalismo impresso dos textos infindáveis. Pinheiro Junior mantém um olhar crítico sobre a profissão cujo ingresso ensaiou em um jornalzinho mimeografado que produzia no Liceu Nilo Peçanha.

– Chego aos 87 anos com aquele mesmo espírito do foca que se inaugurava aos 18 anos cheio de ideais humanos e de defesa da comunidade e do bem comum. Continuo acreditando que honestamente muda-se de opinião sem se despojar de fundamentais princípios. Esse escopo é posto realmente à prova quando observamos que os senhores da mentira parecem haver tomado o poder – diz Pinheiro Junior a propósito das hoje tão (mal)faladas fake news.

Personagem do livro “Samuel Wainer – o homem que estava lá”, de Karla Monteiro, que conta a história do jornalista que revolucionou a imprensa na década de 50, Pinheiro Junior foi repórter, editor e diretor da Última Hora. Morador de uma vida inteira do tranquilo bairro de Fátima, em Niterói, mantém o faro apurado da notícia. Não deixa passar em branco um fato ou foto na sua frente. Ligado na internet, posta no Facebook ou manda pauta pelo Zap para algum companheiro em atividade.

A internet deu maior velocidade à comunicação, isto é inegável. Mas em quanto ela aumentou a responsabilidade do jornalista em checar com rapidez a informação? Pinheiro Junior diz como:

– Os senhores da mentira criaram uma espécie de subversão da verdade com versões oficiais que se chocam sempre com a capacidade do repórter de apurar os fatos reais e separá-los das distorções e ficções. Podemos estar lembrados que sempre foi mais ou menos assim. Agora, porém, parece que a mentira conquistou apoios tecnológicos capazes de interferir na apuração. É aí que entra o jornalismo de pesquisa e investigação, impondo ao repórter responsabilidades não maiores, porém mais refinadas. Como por exemplo fazer uso de   ferramentas da internet, como o Google, com mais conhecimento e responsabilidade. Se antes as nossas preciosas enciclopédias impressas eram dóceis e estáticas, os imprescindíveis esclarecimentos para pesquisa agora exigem novas e aguçadas habilidades inclusive mentais. Eis então que o jornalismo se transforma em agente social que o projeta como “o quarto poder”.

Qual seria a relação das fake news de hoje com os antigos jornais sensacionalistas, aqueles que o povo dizia que se torcesse sairia sangue?

– A chamada imprensa amarela ou marrom do passado não se exauriu. Antes se converteu em ponta de lança do engodo e das fake news fazendo uso das redes sociais.

O repórter deve ser fiel ao fato ou à “verdade” do dono do jornal?

A verdade nunca deixará de ser a melhor notícia, mesmo que haja interesse financeiro inconfessável em jogo. Donos de jornais sabem muito bem disso.

O homem por trás da notícia

Capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, Pinheiro Junior nasceu com o jornalismo nas veias. Ainda rapazinho e aluno do Liceu Nilo Peçanha editava o jornal mimeografado do mais tradicional colégio público de Niterói.

Em 1955, concluiu o curso de jornalismo na Faculdade Nacional da UFRJ, onde nunca foi apanhar o diploma. Começou a trabalhar como repórter da Última Hora, de Samuel Wainer, onde fez de tudo. Foi chefe de reportagem, editor e diretor até o fechamento do jornal por questões políticas e econômicas.

O premiado jornalista fez seu debut na UH com a série de 30 reportagens “Juventude Transviada”, publicada em 1955 mostrando o comportamento dos jovens cariocas moradores da Zona Sul carioca.

Sua ascensão foi rápida. Inteligente, competente e sagaz passou logo para o comando da redação sem perder a flama de repórter. Chefiou a redação de importantes órgãos de imprensa: Última Hora, O Jornal, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, A Crítica de Manaus, O Fluminense e O Globo. E mais as revistas Manchete, Brasil Mais e Revista da Semana. Atuou nas tevês Globo, Rio e Educativa, sempre em funções jornalísticas. Produziu programas para as rádios MEC e JB.

Imortal da Academia Fluminense de Letras, ocupante da cadeira 11, que tem como patrono José Clemente, Pinheiro diz que “se rejuvenesceu escrevendo novelas e romances”. Está com mais dois livros prontos. Um já editado para lançamento talvez em fevereiro: “A febre de notícias ao entardecer”. A pandemia atrasou este lançamento. O outro está em retoques: “A fúria da casa grande”.

– Mas minha fúria pelo romance começou há muito tempo com “Mefibosete e outros absurdos”. Continuou com  “A Última Hora (como ela era)”, “Bombom ladrão” e a cumplicidade de coautoria em “Aventuras dos meninos Lucas-Pinheiro”, “Voo de Ícaro” junto com Byafra (sobrinho), e o ‘Esquadrão da Morte”, com o repórter Amado Ribeiro.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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