Como em todos os bairros de Niterói, em Icaraí o “toque de recolher” da bandidagem soa no inconsciente coletivo às oito da noite, hora que a população deve fugir para casa. Apesar de receber uma facada mensal pagando o IPTU que está entre os mais caros do Brasil, o habitante de Icaraí paga também, como toda Niterói, a Taxa de Iluminação Pública, todo mês cobrada na conta de luz. Aliás, sempre achei que essa taxa é bi tributação, logo ilegal. Bem, fato é que só um louco caminha pelo bairro, “equipado” com iluminação arcaica, velha, fraca de tanto uso. A cor da luz é âmbar, que a produção de cinema chama de “cadavérica” por não definir bem pessoas e objetos. É o deleite da bandidagem.
A desordem em Icaraí tem como destaques alguns ícones, além de iluminação 18. O Campo de São Bento, por exemplo, a maior e mais importante área verde do bairro virou um feirão. Leia sobre a sua dramática situação aqui em https://colunadogilson.com.br/o-bento-nao-e-mais-nosso-campo/ . É incrível que o esculacho tenha chegado a esse ponto, que a lambança tenha imperado de vez. Isso no maior bairro da cidade, maior zona eleitoral, que possui uma secretaria regional da prefeitura e, dizem, uma associação de moradores.
No mal conservado calçadão da praia, os pagadores de impostos são obrigados a conviver com um chiqueiro chamado quiosque (FOTO), clássicos da poluição visual e da falta de higiene. Estão lá desafiando a lógica urbanística, protagonizando a baderna e absolutamente impunes. Inexplicavelmente impunes. As áreas desses quiosques só crescem e, daqui a pouco, o calçadão vai virar feirão de Acarai, um barraco colado no outro.
O cidadão precisa ir a uma farmácia na Gavião Peixoto. A calçada (esburacada, cheia de irregularidades) está tomada de camelôs autorizados pela prefeitura que ocupam ¾ do espaço. Nada contra eles, mas poderiam ocupar menos. Os pedestres praticamente caminham em fila indiana, driblando obstáculos entre as ruas Pereira da Silva e Lopes Trovão, alguns xingando baixinho. Não consigo entender como os lojistas permitem, calados, essa lixarada na porta de seus estabelecimentos.
Os proprietários de fato das principais ruas do bairro não são os suados pagadores de impostos mas a gangue de flanelinhas, que vem de fora a rodo e fazem o que querem. Por exemplo, a Tavares de Macedo foi loteada entre eles, na maior cara de pau. O trecho entre Otávio Carneiro e Lopes Trovão tem dois donos, entre Lopes e Presidente Backer outros dois, entre Backer e Pereira da Silva outros dois proprietários, entre Pereira e Álvares de Azevedo mais dois mas entre Álvares e Miguel de Frias são quatro proprietários. É que dois achacam os motoristas (preferência para mulheres e idosos) e outros dois param o trânsito, provocando congestionamentos crônicos. Guarda Municipal? Não existe na Tavares de Macedo e nas outras vias ela não se mete nisso porque a Guarda Municipal não se mete em nada.
O trânsito em Icaraí passou da condição de piada para caos absoluto. Os sinais (semáforos, como diz a prefeitura) são velhos, desregulados e muitos estão encobertos por “indivíduos arbóreos”como a prefeitura chama as árvores. Por exemplo, na rua Álvares de Azevedo, das sete da manhã as nove da noite, leva-se de 10 a 15 minutos para passar pelo trecho de míseros 100 metros entre Pereira da Silva e Gavião Peixoto. Uma vez por mês aparece um guarda, ou operador de trânsito mas nada muda. O funcionário fica no cruzamento de Álvares com Gavião fazendo o que o sinal velho e burro faz. Luz verde, o sujeito apita para andar, quando dá vermelho, manda parar. Detalhes: na Álvares de Azevedo o sinal fica fechado 90 segundos e apenas 30 aberto.A Prefeitura ia fazer uma reformulação no trânsito de Icaraí, mas não se fala mais nisso.
Na área social, o drama da população de rua só aumenta. Famílias inteiras, idosos, muitas crianças de colo, habitam as calçadas sob marquises de lojas comerciais. Ali dormem, comem, fazem as necessidades e suplicam ajuda. Icaraí é um bairro generoso e, muitas vezes no passado, moradores faziam rondas levando sopa quente para essas pessoas. Infelizmente a insegurança pública obrigou os voluntários a largar as rondas tarde da noite, mas ainda assim eles tentam matar a fome dos que precisam mais cedo.
Nós sustentamos uma secretaria (mais um placebo?) de nome pomposo: Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, trono perpétuo de uma petista. Ela ganha a eleição para vereadora, dá posse ao suplente e assume a secretaria que tem sede, gente, ar condicionado, carros (Chevrolet Classic com ar condicionado) mas não faz absolutamente nada. Alegam que a população de rua de Icaraí (e do resto da cidade) é abordada mas se nega a ir viver nos abrigos. E fica por isso mesmo.
Pobre Icaraí.
Precisamos de uma proposta séria de geração de trabalho e renda, principalmente para dar oportunidades REALISTAS à população de baixa renda (justamente essa cuja presença no bairro mais “branco” da cidade causa tanto asco e repulsa). Vamos continuar esperando a indústria do petróleo voltar a jorrar dinheiro? E se não voltar? Quais são as idéias novas para incentivar, por exemplo, a pequena agricultura comunitária para abastecer os bairros? A criação de animais em espaços reduzido para produção de alimentos, por exemplo, cabras? As pequenas docerias de bairros, ao invés dessas novas e caríssimas redes de franquias sei lá vindas de onde, que cobram “os tubos” para venderem bolos com gosto de nada? As pequenas oficinas de manutenção e limpeza de bicicletas? Aliás, Niterói é um local ideal para se utilizar bicicletas, pois as distâncias são reduzidas e a topografia em geral é generosa, portanto, geremos trabalho com TUDO que se refere às bicicletas. Porque não se incentiva as pessoas a hospedarem viajantes em suas casas a preços bem mais baratos que hotéis, uma tradição que existe há décadas em muitos outros países (a cidade pode ter atrativos interessantes para turistas, e não precisaríamos construir tantos hotéis). Alternativas existem, mas é preciso esquecer velhos ranços e conservadorismos e tentar o que nunca foi tentado. Há que se ter um pouco de inteligência e bastante boa vontade e disposição para sair do sofá e para deixar o carro em casa.
Icaraí tem um IPTU escorchante , mais caro do que Zona Sul do Rio, e um abandono total. Pior ainda é o morador do Vital Brazil pagar o mesmo IPTU da Moreira Cesar é viver driblando buracos e bandidos . Niterói acabou , o Rio tb , estamos lascados, valeu pela grande matéria !!!
No Ingá consegue ser pior alem de enotrarse entre diversos morros fe favela já houve incêndio e a escada magirius teve de ingressar por outro prédio no incêndio.O proprietário petdeu tudo.Na Arthur Tibau não entra água nem corpo bombeiro nem ambulância para socorro.No ano retrasado morreu uma senhora porque o192 não entrava e os paramédicos quando atender a vítima só deu tempi chegar a ambulância do 192 que ficou a 500 metros do local.Carro pipa não entra nedsa rua.Há mais de 3 anos a comunidade pagas todos seus impostos e além de não ter a minima assistência tem uma árvore caindo no meio da rua podendo trazer ene prejuízos.O povo é passivo e frouxo.Tristemente covarde.
O fato também é que só sabemos reclamar. Na hora que podemos agir (eleições), vem aquela amnésia instantânea e esquecemos de tudo isso. Quem elege essa cambada
de incompetentes então?
Excelente. Verdade. Vergonha.
Excelente reportagem. Nós vemos totalmente desamparados, em um lugar sem lei, sem prefeitura, em nada. Nossas crianças estao com pânico, não querem mais sair de casa e suplicam aos pais que também não. Pelo valor que pagamos de IPTU e outros impostos é melhor que nós mesmos façamos a administração dessa cidade sitiada, sem lei e sem liberdade. Fora prefeito.
Resido no Inga alguns meses, sou do Rio ..pelo menos lá temos o número 1746 da prefeitura .. sempre reclamei de tudo e fui atendida..Rio está um csus ,aqui acho pouco mais tranquilo…Frustrada com hospitais,.fórum muito cansativo na espera..população grande com pouca estrutura…o Rio tem suas deficiências..mas vc consegue resolver tudo mais rápido…
Melhor reportagem que li aqui em muito
tempo. Falou sobre Icaraí, mas podia ser Ingá, Centro, SF, Santa Rosa e tantos outros bairros da outrora bela Niterói.
Gostei muito do relatorio que fez abordagem completa do nosso bairro. Conseguiu tocar em todos os pontos negativos que assolam o bairro. Diariamente temos que fazer um balabarismo para andar nas calçadas e cada dia mais difícil trafegar de carro nas vias citadas. Queremos e é nosso direito a ordem urbana, que não está ocorrendo por negligência de quem tem o poder de agir. Situação que se agrava a cada dia que passa. Considero como fato mais grave, as famílias de pedintes e os cracudos nas ruas intimidando os idosos e os jovens que acuados acabam sendo obrigados a dar dinheiro. Não aceito. Quero providências, é nosso direito é dever das autoridades competentes. É lamentável. Até quando vamos suportar. Tá cada dia mais complicado.
Realista e muito elucidativo. Porque somos abandonados ??????????????
Além disso uma coisa que muito incômoda e os caixas eletrônicos não abrirem de 18:00 de sexta feira até 10:00 de segunda por motivo de segurança,e também são tantos mendigos que você fica intimidada,precisamos nos unir e cantar mais do prefeito.