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Coluna do LAM

Trânsito interditado na Praia de Icaraí

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Fechar a Praia de Icaraí para fazer eventos é uma tosca tradição que atende, principalmente, o lado provinciano – no mau sentido. Aquela conversa “arrebentei!, parei a Praia de Icaraí”.

Já passou o tempo em que a interdição da principal via de Icaraí atrapalhava apenas a vida do bairro. Hoje, causa confusão na cidade toda. Afinal, Niterói não para de crescer e passar pela Praia de Icaraí é uma obrigação para milhares de pessoas dentro de ônibus, carros, táxis, carros de aplicativos. Esses milhares formam a “maioria silenciosa”*

De um lado, a cidade ganha novos túneis, novos acessos, novos projetos, mas os zumbis do atraso não param de assombrar. Em geral, a interdição é feita aos domingos quando, em tese, os habitantes podem relaxar. Em tese. Quando a Praia fecha, o transtorno entra em cena. A cidade e sua maioria silenciosa são obrigadas a entubar a ordem e ter que conviver com:

– tumulto nas vias internas, sobrecarga na Roberto Silveira, com reflexos na Marques do Paraná, de um lado, e São Francisco, do outro. Ou seja, para tudo.

– sumiço dos ônibus. Outra “tradição” que acompanha o sumiço dos táxis.

– sumiço dos carros por aplicativos que, ainda por cima, os raros que insistem em trabalhar entram em modo “dinâmico” e ficam até 80% mais caros.

Muito se fala em vontade política, mas tão ou mais importante é a coragem política. A prefeitura é pressionada todos os dias por várias organizações, desorganizações, igrejas, entidades civis (ou não) que exigem pacote completo: interdição da Praia de Icarai para a realização do seu negócio (é sempre o item número um), verba, banheiros químicos, etc. Há quem avance e exija cachê, trios elétricos, fogos de artifício.

O pedido vai contra a qualidade de vida da cidade, rasga os princípios da cidadania, ignora a civilidade e a consideração, mas ainda assim os envolvidos  ficam “comovidos” e abraçam a “luta” dos arrivistas. E acontece tudo o que não deveria acontecer. A população perde e a Praia de Icaraí é interditada, para fúria, angústia, ansiedade de milhares e milhares de pessoas que pagam a conta. Literalmente. É quando a coragem política se entrega e a maioria silenciosa anota em seu implacável caderninho.

Uma curiosidade: interditar a Praia de Icaraí para atender a uma meia dúzia dá mais votos do que respeitar o direito da população de ficar sossegada?

Este ano, mais uma vez, a Praia de Icaraí foi interditada para a passagem de “blocos” de Carnaval. Num fim de tarde, chamou atenção uma gritaria na Moreira Cesar (eu estava de bicicleta) onde umas pessoas aflitas tentavam fechar a porta de uma farmácia que uns bêbados queriam invadir. A PM chegou, levou uns dois e acabou.

Fui pedalando para a Praia de Icaraí onde me deparei com cenas chocantes. Gente brigando, gente xingando atirando latas para todos os lados. As janelas de todos os prédios, onde reside boa parte da maioria silenciosa, estavam fechadas. Muito barulho e medo.

No meu caso a coisa ficou mais grave quando, indignado com uma facção do bando que balançava ferozmente um Citroen preto parado (não havia como andar) com uma família dentro porque o motorista se recusava a abrir o vidro e perder tudo. Foi na altura da Mariz e Barros. Desesperado, o motorista acelerou e levantou dois ou três que tentavam fechar o caminho. Ninguém se machucou.

Peguei o celular para fazer uma foto e uns 10 vieram para cima aos berros “tasca o malandro”. Derrubaram a minha bicicleta mas consegui ficar em pé e pegar a corrente do cadeado para tentar me defender, mas para minha sorte um time de futebol deixou a areia e veio me socorrer porque, é lógico, eu seria linchado. A facção de 10, virou 20, 30. Muito tenso e pensando “esses marginais são pagos com o meu dinheiro” consegui sair e, pedalando, subi a Estrada Froes onde havia dois deles que, sem bando, não eram nada. Fui em frente.

A Praia de Icaraí tem o trânsito interditado várias vezes ao ano, mas em se tratando de dadas fixas Niterói perdeu a sua Praia no Carnaval e no Reveillon. De 31 de dezembro para 1 de janeiro o bairro todo é tomado por turistas de outras cidades (90%) que vem festejar a virada aqui a sua maneira. Muitos (não todos, é lógico) defecam e urinam nas ruas, param carros em frente a garagens, vans piratas dominam o transporte público, garrafas de vidro são lançadas no meio da rua. Imagino o que a heroica Clin recolhe no final dessa milionária esbórnia.

Nada, absolutamente nada, sob qualquer pretexto, deveria permitir  a interdição do trânsito na Praia de Icaraí, nem passagem de funeral de presidente da república. A gestão moderna das cidades deixa claro que evitar tumulto evita mais violência, mais custos, mais desassossego. A cultuada “tolerâcia zero” de Nova Iorque, nos anos 80, proibia qualquer aglomeração.

Até quando atraso  vai assombrar Niterói?

P.S. – O Bloco das Piranhas não voltará a desfilar em Icaraí. É boato. O bloco permanece na avenida Amaral Peixoto.

 

De https://www.opuspesquisa.com/blog/eleitoral/maioria-silenciosa/ Maiorias silenciosas são grupos de pessoas acomodadas politicamente, que não se envolvem ou expressam suas opiniões e sentimentos em relação a política publicamente.

O conceito de maioria silenciosa se popularizou no governo do ex presidente americano Richard Nixon, quando em 1969 pediu à população americana apoio nas atividades militares no Vietnã. Foi a maioria silenciosa que garantiu esse apoio a Nixon, ainda que houvesse muitas manifestações se opondo a guerra por parte das minorias ativas.

Mesmo não se mostrando para a sociedade, as maiorias silenciosas têm um grande poder nas decisões políticas de um país, visto que em um processo de eleição é a maioria que determina a escolha do representante.

Como exemplo desta situação, temos o caso da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Isto ocorreu pelo fato da mídia normalmente buscar informação onde há acesso mais fácil e com maior potencial de repercussão.

@@@ Um leitor chamou atenção e fui conferir. Passando pela Padaria Colonial (Moreira Cesar com Miguel de Frias) estava superlotada, todas as mesas ocupadas num começo de noite,m dia de semana. É uma casa tradicional na cidade que sempre primou pela educação e gentileza dos funcionários (bem orientados, bem treinados), além da qualidade dos produtos e preços justos.

É o caso também da também tradicional Beira Mar (Moreira Cesar com Presidente Backer), qualidade nota mil dos produtos.

Só que as franquias que atuam nesse setor de padarias, ao contrário, primam pela grosseria, má vontade, esculacho da maioria dos funcionários, principalmente em relação aos idosos. Além de praticar preços exorbitantes e oferecer produtos de qualidade muito além do questionável.

 

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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