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Coluna do LAM

Praia de Icaraí: proibida para os cidadãos, liberada para a bandalha

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Um vizinho ali da esquina, do alto de seus sábios 91 anos, costuma dizer que “a Praia de Icaraí não é mais de Icaraí há muitos anos. Eu pago pela farra dos outros, fazer o que?”.

Engenheiro “fazedor de pontes”, como ele diz, seu Dario conta que a pedido da família parou de frequentar a Praia de Icaraí há uns 20 anos por ter se envolvido em uma briga. “Uns sujeitos que não eram do bairro jogavam futebol perto da arrebentação, e apesar de eu ter avisado, fingiram que não me viram e levei uma bolada no rosto. O tempo fechou. Eu me arrependi, muito. Me arrependi de tentar frequentar a “minha” praia, me arrependi por não reconhecer a minha derrota como cidadão e acabar envolvido numa briga”.

Desde então, filhos, filhas, netos e netas imploram para que seu Dario não volte mais a Praia de Icaraí, apesar dele morar a uma quadra.

A história poderia ser outra se a prefeitura adotasse com os maus cidadãos o mesmo rigor que emprega para proibir o acesso a praia de meio dia as 16 horas por causa da Covid 19. Era só usar o mesmo “exército” da Guarda Municipal e partir das 16 horas em diante e botar ordem no uso da areia, evitar excessos, confusão. Mas a medida não daria a mesma visibilidade.

Não é à toa que muita gente paga o IPTU mais caro de Niterói para morar no bairro que não tem o direito de usufruir.

Terça-feira, cometi o abuso de ir caminhar na Praia na areia dura, junto ao mar. Pulei na areia em frente ao Cinema Icaraí (não há degraus), tentei caminhar, mas não consegui passar da Presidente Backer. Toda a faixa de areia na beira d’água estava tomada de marmanjos e marmanjas jogando altinho, antiga linha de passe.

Ostentando o tradicional egoísmo dos boçais ignoravam a presença de outras pessoas que queriam passar. Caminhando entre eles, com bola e tudo, consegui chegar ao segundo grupo (fica um grudado no outro), lembrei da bolada que seu Dario levou e para evitar estresse maior voltei para a calçada.

Do Cinema Icaraí até a Ary Parreiras a areia dura da praia está infestada de altinho e a areia fofa, em cima, foi ocupada pelo pessoal que dá aulas de ginástica. Resta ao pagador de IPTU que mora no bairro a faixa intermediária de areia, chamada há séculos de “zona do cocô”, também conhecida como Saara por causa do calor. Em outras palavras, resta ao contribuinte (e que contribuinte!) a xepa da Praia de Icaraí.

 

Farta ingratidão

Quando a pandemia começou uma campanha foi feita pedindo que as pessoas comprassem no comércio de bairro. Valorizassem os locais para que empregos fossem mantidos, etc.

O “muito obrigado” de muitos desses comerciantes é o cavalar aumento, descarado e ganancioso, dos preços. Não me refiro a óleo de soja e outros itens cujos preços chegaram à lua porque o governo deixou que os produtores exportassem mais do que recomenda o bom senso.

Falo do pequeno/médio comércio. Uma padaria aqui perto mandou chumbo: aumento médio de 30%, em muitos casos 40%. Os serviços, em muitos casos, aumentaram 50% e até 80%.

Isso se chama ganância, ingratidão. Causa a impressão de que ser solidário é coisa de otário.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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