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Pandemia da infâmia

Escrito por Luiz Antonio Mello às 08:20 do dia 6 de junho de 2020
Sobre: Coronarruptos
06jun

A asquerosa avalanche de denúncias de corrupção em plena pandemia da Covid-19 (muitas já comprovadas) mostra o desprezo absoluto dos sicários pela vida humana. Para eles, o que vale é dinheiro na conta, não importa a origem, os meios. O genocídio é rotina.

Lamentavelmente, em Niterói os casos de Covid-19 somavam na quinta-feira (04/06, às 19h), 3.357, com 122 óbitos registrados pelo Ministério da Saúde. No Brasil a pandemia caminha para as 35 mil mortes, uma tragédia histórica, desprezada solenemente pelas quadrilhas que traficam respiradores, máscaras e outros insumos.

Uma infâmia que envolve gestores públicos, empresários, todo tipo de meliantes, que sabem, sim (não há como negar), que por causa dos desvios, do superfaturamento, da venda de material sucateado, dos golpes, muita gente morreu. Morre. Vai morrer.

Crimes como esses, cometidos durante a pandemia, podem se tornar hediondos com ampliação de penas que hoje vão de 10 a 15 anos de prisão. Pela proposta, a condenação iria a até 30 anos de prisão.

O endurecimento de pena é o que propõem dois projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados, em Brasília.

O que lemos, ouvimos e assistimos na imprensa profissional, são desculpas esfarrapadas e muita mentira. “Eu não sabia que isso estava acontecendo”; “está tudo na forma da Lei”; “é fake news”, os sicários dão as mesmas desculpas que davam os bandidos condenados pela Lava Jato.

Nesse “liberou geral” criado pela ausência de licitação por causa do estado de calamidade, há também muita mentira, dissimulação, informações desencontradas. Por exemplo, os sete hospitais de campanha anunciados para o RJ viraram o pedaço de um (no Maracanã, apenas ¼ funciona) cujas obras foram anunciadas pelos clarins das mentiras, enrolações e golpes.

Na hora de matraquejar promessas, muitos desses ardilosos posam de defensores do povo, paladinos da ética, derramam lágrimas de crocodilo. Quando flagrados no bote, culpam a “politização do Judiciário”, criminalizam a imprensa, a oposição e até os chineses.

A ganância da corrupção foi mais forte do que o medo da Operação Lava Jato que enjaulou poderosos, entre eles ex-presidente, ex-governador, empresários, etc. Do alto da sua onipotência e arrogância, os corruptos da pandemia acham que um raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Sentem-se superiores a tudo e a todos, mandam a Lava Jato as favas, debocham da Justiça.

O Ministério Público Federal e os estaduais, junto à Polícia Federal, estão investigando denúncias. Trabalham no Estado do Rio, São Paulo, Santa Catarina, onde houver negócios sujos pondo em jogo a vida alheia. Quanto mais cutucam, mais ratos aparecem.

É triste, revoltante, indignante, uma infâmia saber que existe gente lucrando com a desgraça alheia em pleno Século 21.

P.S.  “ A probidade não tem cúmplices”. Millôr Fernandes (1923-2012).

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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6 thoughts on “Pandemia da infâmia

  1. Infelizmente a grande parte da população não vota, eles trocam votos. Por isso não sou a favor de eleição obrigatória isso tinha que acabar nesse país. Somos obrigados a tudo?
    Governadores e prefeitos “se dando bem” e o povo morrendo.

    1. Quem não participa do processo decisório perde o direito de reclamar de qualquer coisa. Se esconder da decisão é coisa de gente medíocre.

  2. Cuidado com a supervalorização da operação Lava Jato, que serviu apenas para interferir nos resultados das eleições de 2018. Basta ver que fim levou seu principal representante, o ex juiz e ex paladino da justiça (minha sonora gargalhada pare ele: ‘quá, quá, quá’…), Sergio Moro.

    A corrupção no Brasil continua correndo solta, agora mais às escondidas do que há 5 anos. As leis do país e a estrutura do judiciário são planejadas e implantadas para fechar nossos olhos para os criminosos de colarinho branco e punir apenas os crimes cometidos pelos pobres, aqueles ditos crimes contra o patrimônio: furtos, roubos de veículos, assaltos à residências, etc. Outra modalidade favorita de punição e encarceramento é a dita “guerra às drogas”, que amontoa em jaulas fétidas apenas negros pobres pegos com trouxinhas de maconha e saquinhos de cocaína, deixando soltos os barões do tráfico, que moram em luxuosas residências dentro e fora do país, e usam o tráfico para lavar dinheiro e manter fortunas em paraísos fiscais. Recomendo se informar sobre os mecanismos de lavagem de dinheiro e de transferência deste dinheiro para paraísos fiscais. O troço é aterrador. Um lembrete: pobre de favela não tem dinheiro na Suíça.

    Essa é uma ideia de pais que foi aqui estabelecida em 1500, e vem apenas se repetindo e se sofisticando ao longo do tempo. Desde a chegada dos europeus (malditos!) esta terra passou a ter donos, que vislumbravam aqui a oportunidade de enriquecer às custas da exploração do trabalho escravo, para então usufruir na Europa da riqueza adquirida. Quem não se submetesse à exploração era rotulado de vagabundo, de indolente, de preguiçoso, de marginal, e o sistema punitivo elaborado por esses invasores europeus tratava de domesticar e controlar os explorados.

    Séculos se passaram a aprendemos com o tempo que os crimes cometidos pelos pobres são mais graves, e os branquinhos estão apenas investindo na economia, fazendo sua roda girar. Consagramos algumas máximas irrefutáveis, tais como “empresário gera emprego e renda. Empresário valoriza o trabalho. Quem reclama das condições de trabalho e exige direitos é vagabundo. Empresário é vítima inocente da corrupção do Estado, e nada pode fazer contra ela.” Tudo falácia dos invasores para invisibilizar seus crimes e demonizar os pobres, que são, em sua maioria, negros, mestiços e pardos.

    O Estado ainda é a única alternativa viável de proteção social e de promoção da justiça para todos. É preciso melhorá-lo para que os aproveitadores, políticos de carreira ou empresários pilantras, não se aproveitem dele para benefício próprio. Só a consciência do cidadão comum e seu engajamento político poderá melhorar o Estado. A tarefa cabe a todos nós, sem exceção. Rejeitar essa tarefa é entregar o Estado aos abutres.

  3. Texto perfeito, a não ser pelo oitavo parágrafo. Todos sabemos que entre as perversidades que turbinaram essa crise, estão a politização do judiciário, a atuação deprimente da imprensa, e que os canalhas que nos roubam estão mancumunados com os comunistas chineses. As afirmações desse parágrafo destoam de tal forma do restante do texto que parece um enxerto.

    1. Correção: estão mancomunados com os canalhas capitaloides americanos, aqueles mesmos que adoram explodir bombas nos países que cospem no lixo produzido pela Disney e pelo McDonald’s..

  4. Infelizmente essas mazelas são apenas repetições do que já se desenhou desde sempre. Não é segredo e a população ajuda, quando ignora a política e o que nela se faz. Tenho fé, não a religiosa, mas a fé humana, que tenta resgatar do fundo da alma um lampejo de mudança. Está difícil, mas não impossível.

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