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Coluna do LAM

Os velhos no Brasil e em Niterói

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Não é novidade que os velhos no Brasil são desprezados. Por todos. O poder público, a sociedade em geral, muitas famílias tratam a pessoa que chega ao epílogo da vida como um traste, um entulho.

Na Europa, Ásia e EUA, em geral são tratados como sábios, conselheiros, entidades quase sagradas. Aqui, além das dificuldades físicas inerentes a própria idade os velhos, em geral, tem que sobreviver com uma aposentadoria humilhante, seu plano de saúde é o mais caro, os carros nas ruas não o respeitam, os bancos querem que eles se danem e os obriga a lidar com aplicativos e outras engenhocas com o objetivo de chutá-los porta a fora.

Velhos para a economia são massa falida no quesito grana, que é a única coisa que importa. Sugiro ao leitor que tem Netflix que assista ao filme “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, que é baseado numa infame história real e mostra o suplício de um idoso que não tem o direito de desconhecer alta tecnologia.

Muitas famílias veem o velho como estorvo. Em muitos casos, filhos, netos, bisnetos o ignoram. No fim da vida o velho, que a culpa judaico cristã brasileira prefere chamar de idoso, ganha como “prêmio” um tratamento vil. A marketagem da culpa inventou a cínica expressão “terceira idade” que algum moleque turbinou para “melhor idade”.

Vemos todo o tipo de campanha por aí. Gente aguerrida defende crianças, as minorias e tudo mais, mas quase ninguém lembra dele, do velho, daquele que nasceu, lutou, teve filhos, criou, educou, pagou impostos, trabalhou muito e no final se torna lixo numa sociedade egoísta, egocêntrica, ególatra em todos os níveis que não cansa de parir para mamar nas tetas do estado.

Velhos sofrem de rejeição afetiva nas bilionárias mansões, coberturas, palácios. Velhos sofrem de rejeição afetiva em favelas, muquifos. Se há um lamentável elemento que une ricos e pobres no Brasil é o seu revoltante desprezo pelos velhos. A sociedade brasileira é nefasta, cruel, desumana, cínica. O seu retrato está estampado nos suínos que eleitos que ocupam o congresso nacional, é a cara do PT, dos “movimentos sociais” que agem como milícias e extorquem 400 reais de miseráveis que a desgraça chutou para dentro daquele prédio-favela em São Paulo que pegou fogo e desabou. Há outros 150 na cidade, com milícias sociais que até candidato a presidente da república tem. Odeiam os velhos porque a vida os mostrou, há tempos, que é uma corja. Os velhos sabem disso. Os velhos avisam. Também por isso, os velhos vão para o saco.

Em geral, os governos nada (ou pouco) fazem pelos velhos porque eles não dão votos, não geram muitos impostos. Uma espécie de “sucata humana” que é vista como um traste no meio da casa atrapalhando o caminho, ou, a toda hora passando na frente da televisão.

Em Niterói… bem, basta ver as calçadas da cidade, ocupadas pela baderna social (essa sim, gera votos porque os vende) forçando idosos cadeirantes a desviar pelas ruas. Motoboys que usam descaradamente as calçadas de Niterói passam por cima, ciclistas passam por cima, ao desviar para a rua, carros, ônibus, vans, todos passam por cima “daquele lixo”. Muitos xingam.

A única providência que a prefeitura tomou em prol dos velhos foi criar um cabide de emprego para pistolões chamado Secretaria dos Idosos. Ela existe e tem endereço: Avenida Amaral Peixoto 171 (parece deboche) sala 401. Querem saber o que a secretaria faz? É só ligar para lá, telefone 2620-7775.

A covardia contra o velho está na essência da alma brasileira, terra que cultua a eterna juventude. Todos os dias lemos citações histéricas do tipo “Fulano, o mais jovem político…”, Beltrana, a mais jovem chef de cozinha”, e por aí vai, como se ser jovem fosse um ato heroico. Velhos? Só aparecem quando há uma grande tragédia.

Os índios quando eram índios (viraram um triste bando de esfarrapados, doentes e famintos usando calções adidas de terceira de mão doados por safados) o viam como sábio, preparado para aconselhar, apontar, sugerir. Entre os esquimós e aborígenes, idem. No entanto, entre muitos civilizados, o velho não passa de um imprestável utensílio.

 

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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