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Coluna do LAM

Os niteroienses que não conhecem Niterói

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Muitos dos novos niteroienses que não conhecem Niterói começaram a mudar para cá no começo dos anos 1990, em especial para Região Oceânica que hoje tem 68.987 habitantes, 14,2% da população da cidade. A 199ª Zona Eleitoral — que engloba toda a Região Oceânica, Maria Paula, Rio do Ouro, Várzea das Moças e Vila Progresso — foi a que mais cresceu na cidade: chegou a 65.659 eleitores, um salto de 10,2% em relação ao pleito de 2012.

No começo dos 90 Niterói estava em primeiro lugar no IHDM, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, da ONU. É uma medida com três indicadores do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. Com 0,837 no IDHM a cidade, hoje, está na sétima colocação.

A década foi marcada, também, pelo início da intensa migração interna de parte da classe média local em busca da qualidade de vida e dos preços dos imóveis muito mais baixos na Região Oceânica. Muita gente trocou e troca Icaraí, Ingá, Santa Rosa e outros bairros pela R.O.  Os que mudaram em busca de sossego, com certeza, encontraram. Na maior parte do ano as praias de Itacoatiara, Camboinhas, Piratininga, Itaipu ficam vazias, entregues aos seus “locais”.

Como o boom de crescimento da R.O. começou com pessoas de fora (principalmente do Rio), formou-se o que o sociólogo e jornalista J.A. Xavier, já falecido, chamou na época de “Autoestrada Itacoatiara – Barra”, pessoas que mal conheciam Niterói, “passando por cima da cidade para ir trabalhar ou se divertir. Só se deslocam da Região Oceânica para a própria Região Oceânica ou para o Rio.” Essa “autoestrada” ainda existe pois é raro encontrar algum morador daquela área frequentando shows, bares e restaurantes nos bairros mais centrais da cidade como São Francisco, Icaraí e Jardim Icaraí.

Como ocorreu na Barra da Tijuca, a região Oceânica de Niterói ganhou vida própria e se tornou, na prática, uma espécie de “principado” de Niterói. Há moradores que ainda sonham com a sua emancipação, um tema que foi freneticamente debatido no passado e devidamente engavetado pela sensatez.

Os novos niteroienses que chegaram e chegam a R.O. em geral estudam ou trabalham fora de lá, muitos no Rio e arredores. Nos fins de semana e feriados evitam deixar a Região preferindo as praias, casa de amigos – também por lá – ou restaurantes, quiosques e bares locais. “Moro há 22 anos em Camboinhas e quando quero assistir a um show prefiro sair do trabalho (no Rio) e ir direto pelo Rio mesmo. Confesso que mal conheço Icaraí, São Francisco ou o Centro de Niterói porque o trânsito lá embaixo é muito complicado, é difícil estacionar. E tem o fato de eu não saber o que está acontecendo em Niterói porque não chega muita informação a respeito por aqui. Só recentemente fui saber que há ótimos cinemas no shopping Multicenter, como iria adivinhar?”, comenta um administrador de empresas.

Os niteroienses que não conhecem Niterói não só existem como são milhares. Os que vivem na Região Oceânica gostam da vida “de cidade do interior, todo mundo se conhece”, mas sofrem com constantes quedas de luz, buracos em muitas ruas, problemas com a internet. Uma indignação comum são as ocupações irregulares que destroem áreas verdes, principalmente nos morros. Não importa se é mansão ou barraco querem um freio definitivo no visível avanço dos palácios e favelas na R.O.

De acordo com O Globo de 17 de maio de 2015 “em Itaipu, a favela do Rato Molhado avançou sobre a Reserva Darcy Ribeiro e encostou no muro do condomínio Vale de Itaipu. Um morador chegou a denunciar a derrubada de árvores, mas o poder público nada fez.” O síndico do condomínio acompanhou a aparição dos primeiros barracos ali. Segundo ele, no início dos anos 90 o condomínio tentou em vão murar a área antes de a favelização ocupar os dois lados do morro.

Também causa revolta aos habitantes a morte das lagoas de Itaipu e Piratininga que ao longo das décadas ganharam muitos projetos mas, a rigor, nada foi feito.

A Região Oceânica cria a sua própria estrutura. Já existem por lá colégios e faculdades de qualidade, muitos médicos e outros profissionais liberais mantém consultórios e escritórios na região, que conta, ainda com uma boa rede bancária e todos os tipos de serviços e comércio farto. Restaurantes e quiosques estão investindo em shows de artistas locais e há uma casa de show e dança, mas poderia haver muito mais.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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