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O governador e o bordel de virgens

Escrito por Luiz Antonio Mello às 08:16 do dia 27 de junho de 2020
Sobre: Política blindada
  • Governador Witzel e Gabigol
27jun

Governador Witzel e GabigolDesde o berçário leio, pelo menos, dois jornais por dia. Um hábito que acabou me levando ao jornalismo. Penso que só existe uma maneira de tentarmos melhorar a política: participando dela, direta ou indiretamente. Quem procura se informar está, sim, participando da política.

O grupo do “não quero mais saber de política porque nada muda, continua a mesma vergonha” está brindando e blindando a bandidagem. Para melhorar, só metendo a colher, se aprofundando e não deixando para lá. Não é tacando fogo na casa que vamos resolver o curto circuito.

Mesmo procurando me manter ultra bem informado até um debate de candidatos na TV eu nunca havia ouvido falar no nome Wilson Witzel. Em lugar nenhum. O dono do seu partido, o PSC, pertence a fina flor do baixo clero da política, o polêmico pastor Everaldo, aquele com carinha de santo que teve apenas 0,75% dos votos nas eleições presidenciais de 2014.

Desafiando as pesquisas e a lógica, com aval e apoio dos Bolsonaro (de quem se tornou inimigo) Witzel ganhou a eleição e virou governador do Estado do Rio no tal Vesúvio da “nova política”, uma espécie de bordel de virgens*. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, ele obteve 4.675.355 (59,87%) dos votos válidos, ou seja, quase 60% do eleitorado fluminense o colocaram no Palácio Guanabara.

Importante deixar claro que ele, o presidente, os prefeitos, senadores, deputados, vereadores, todos foram escolhidos pelos eleitores. Ninguém invadiu dando tiros, golpes, rasteiras. Todos foram eleitos e se a população achou melhor distribuir cheques em branco para desconhecidos, anônimos, sem pedir referências ou sequer consultar o SPC, a culpa não é da democracia.

Em plena desumana pandemia de Covid-19, no dia 26 de maio o governador foi alvo de uma operação da Polícia Federal, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Segundo o jornal Valor Econômico, foi “por suspeita de envolvimento em esquema de desvio de até R$ 700 milhões de um total de R$ 850 milhões em recursos federais, destinados ao combate do coronavírus no Estado. O inquérito em que Witzel é investigado foi aberto em 13 de maio e solicitado na véspera pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. Ele coloca o governador no topo de organização criminosa que teria superfaturado preços até de caixas d’ água dos hospitais de campanha do Rio.”

Os contratos do governo Witzel na pandemia somariam mais de R$ 1 bilhão, entre a montagem de hospitais de campanha e aquisições de respiradores, máscaras e testes rápidos.

Os novos políticos que causaram frenesi nas eleições de 2019, modificaram o cenário. Para pior. Nadam na lama com a tranquilidade de quem come uma Língua de Gato da Gato da Kopenhagen.

Histórico hospedeiro mor da jogatina e da mediocridade, o chamado “Centrão”, bando de parlamentares que atua nas sombras do Congresso, poucas vezes abrigou tantos parasitas virgens. Aprenderam rápido.

Os noviços são a maioria na gastança. Veja quem gasta mais nesses links:

https://www.camara.leg.br/transparencia/gastos-parlamentares

https://glo.bo/3dyry9p

O governador Witzel pode ser pavão misterioso, mas é um ser humano e como ser humano dá prioridade a própria pele. Afinal, ninguém consegue jogar xadrez sentado no maçarico. Será julgado pelos deputados da Alerj que, por 69 a zero, decidiram pela análise do impeachment. Curiosamente, votaram também parlamentares presos na Operação Furna da Onça, que, recentemente, retomaram os mandatos.

Para evitar o impeachment, o governador foi as compras. Para tentar obter o apoio de 35 deputados, metade do parlamento, ele estuda oferecer a Secretaria de Educação — que tem o segundo maior orçamento do estado — e a robusta Secretaria de Governo, responsável pelos programas Segurança Presente e Lei Seca.

De acordo com o jornal Extra “Witzel já tem estratégia para tentar retardar o julgamento do processo de impeachment. Ele vai apostar as fichas na negociação de cargos, para aumentar a base de apoio na Alerj.”

Famoso por fanfarronadas aparições bombásticas, como pousar de helicóptero na ponte Rio-Niterói para abraçar snipers da polícia ou se ajoelhar diante de um jogador de futebol, até por vaidade o governador não vai entregar o osso fácil. Nem que para isso, pare de trabalhar e deixe o estado a míngua, como já ficaram profissionais de saúde (em plena pandemia!) que não receberam seus salários.

Se o impeachment passar, quem assume é o vice, o cantor Cláudio Castro, também do PSC, logo, outro amarra cachorro do pastor Everaldo. Na hipótese de Witzel ser preso, será o sexto governador do RJ no espaço de quatro anos. Vexame mundial.

*Bordeis de virgens não são inéditos. Entre 1348 e 1353 Giovanni Boccacio escreveu a lasciva “Decameron”, coleção de novelas. Uma delas, trata do tema e foi filmada pelo genial e saudoso Pier Paolo Pasolini (1922-1975) em 1971, em versão turbo e descabelante que está no You Tube. Foi refilmada recentemente, em versão familiar, tipo comédia de Sessão da Tarde, disponível na Netflix com o nome de “The Little Hours”.

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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