Quando vi a foto que Caíque Fellows fez do por do sol na praia de Itaipu, imediatamente pedi autorização para colocá-la na capa de minha página no Facebook. Amigo, arquiteto, fotógrafo de mão cheia, intelectual de primeira e muitíssimo gente boa.
Lembrei, com saudade, dos fogs de Itaipu. Não tem explicação, só comoção. Eles são muito raros, pouca gente os viu. Se aproximam da areia trazidos por uma bruma azulada que, lentamente, faz a volta e ruma em direção ao canal de Camboinhas, a direita da praia.
Nos anos 90, meu cachorro Titã (um basset marrom, raça também chama de dachshund) uivava quando o fog passava. Aliás, há quem diga que esse fog tem poderes mágicos, especialmente quando os que apreciam uma boa bebida atingem a cota de oito garrafas de cerveja.
Anos atrás o grande amigo Hélio Nóbrega (Helinho), o Neno, dono do Sabino Bar (Neno, por que você fechou aquele nirvana?) eu e outras pessoas passamos o Réveillon lá, sentados no deck do bar, na cara do mar. Noite azulada, tráfego intenso de estrelas cadentes, satélites. Chegamos cedo, umas 10 da noite, quando uma bruma varria lentamente a beirada do mar tendo ao fundo as luzes da entrada da Baía de Guanabara e, também, de parte de Copacabana.
Não vi, mas senti o fog. Estávamos todos calados, submersos em devaneios de fim de ano turbinados pelas estrelas, o mar escuro, as luzes da metrópole ao longe. Foi durante um desses fogs que escrevi “Copacabana, meu amor”, um artigo muito fraco, cartesiano, careta, vestido de tergal que, sei lá porque, muita gente gostou.
Chegou a meia noite. Nós nos abraçamos (acho que o Milton Almeida, o Miltão, também estrava lá), desejamos Feliz Ano Novo, e na sequência eu caminhei para o lado esquerdo da praia, mergulhado em minhas orações de agradecimento, sobretudo, pela existência daquele lugar mágico. Helinho também deu uma caminhada no sentido oposto e meia hora depois estávamos celebrando a chegada de mais um ano no deck do bar do Neno.
Aquela praia tinha alma. Me disseram isso lá atrás, no final nos anos 1970. Um astral diferente, inexplicável, que levava para lá muitas pessoas especiais. Lembro da “criação” da República de Itaipu num fim de tarde daqueles. Atualmente tento voltar a frequentar a praia, mas tudo mudou. Não conheço mais ninguém, lá. Aliás, não conheço mais ninguém em Niterói, invadida por “estrangeiros” de outros lugares atraídos pela especulação imobiliária estimulada por governos também tomados por “estrangeiros”. Antes, andar pela Moreira César era encontrar com 10, 15 conhecidos. Hoje? Ninguém. Gente estranha. Muita gente estranha.
Também por isso gosto de escrever aqui no site Coluna do Gilson, um ligar onde niteroienses autênticos se encontram, observam, opinam com intimidade.
A foto do Caíque lá em cima mostra a alma de Itaipu, que ela só exibe para quem confia. E o Caíque conhece bem a essência desse lugar mitológico que se transforma, se reinventa, totalmente blues de Chicago que habita os corações mais sensíveis e encachaça os fígados dos imbecis que nos domingos de verão transformam essa acrilírica praia numa versão mais sórdida dos brejos do fundo da baía. Pobre Itaipu.
Se pudesse riscava os domingos do calendário.
Ah! É verdade. Saudades de Itaipu, saudades de Niterói.
Bela foto do meu priminho, Caique.
Também já vi e me emocionei com o fog de Itaipu. Não é para todos.