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Coluna do LAM

O Estado é o grande vilão

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Favela do Caniçal, no Cafubá. Antes (2005) e depois (2015).

Neste 2020 de eleições para prefeito e vereadores, o Estado volta aos locais de seus crimes mostrando a sua face mais perversa. Seus representantes, sempre usando a democracia como refém e concubina, farão a tradicional peregrinação regada a mentiras e promessas pelas veias e becos da miséria humana, simbolizadas por favelas e outras sub habitações humilhantes, indignas, nefastas.

Traficantes de ilusões, os auto proclamados representantes do democracismo vão caçar votos para as eleições prometendo regularizar abismos assassinos, reformar casas construídas em solo condenado e prometer dezenas, centenas, milhares de documentos legalizando áreas proibidas.

O desprefeito do Rio, bispo (com b minúsculo) crivella (com c minúsculo), com certeza o pior que infestou a cidade maravilhosa desde 1 de março de 1565, quando foi fundada, golfou que a culpa da tragédia da chuva dos últimos dias é do povo que joga lixo nas encostas, nos canais, nos rios. Não, desprefeito. A culpa é do Estado, inclusive você, que permitiu e permite que milhões de pessoas habitem áreas condenadas graças ao bacanal de votos.

Não acredito que milhões de pessoas vão morar em favelas erguidas em área condenadas porque querem. Desde o fim da Segunda Guerra, quando boa parte da população brasileira trocou o campo pelas cidades, o inchaço urbano começou. Filha legítima do populismo, uma versão heavy metal da canalhice, a politicagem eleitoreira imediatamente começou a cafetinar os retirantes que passaram a morar em áreas criminosamente inabitáveis. Oferecidas em troca de votos.

Os espertos manipuladores conseguiram até glamourizar as favelas, obrigando que as chamem de comunidades, o que causa indignação em muitos favelados, entre eles o jornalista e fundador da Agência de Notícias das Favelas, André Fernandes. No site da A.N.F. ele escreveu:

“Tenho observado há muito tempo que a elite e a grande mídia tenta chamar as favelas de comunidades e isso me traz uma grande indignação, pois do meu ponto de vista, isso nada mais é que uma tentativa de descaracterizar a favela e amenizar a situação de pobreza extrema que vive nossa cidade.

Lembro sempre, para os que estão chamando as favelas de comunidades, que os condomínios de luxo, que essas pessoas que estão tentando descaracterizar essa nomenclatura moram, são comunidades. Sim! Os condomínios de luxo ou prédios na Barra, Leblon e Ipanema, constituem comunidades, porém não são favelas. Favela é favela e comunidade é comunidade!. O artigo está no site da A.N.F. em https://www.anf.org.br/favelas-ou-comunidades/

Ao contrário do que muitos fingem não saber, Democracia é um sistema forte. Quem anda fora dos trilhos da lei e do bem comum o trem passa por cima. Mas por aqui, em prol de si mesmos, os maus políticos e similares investiram e investem pesado na impunidade, burlando a Lei, insuflando a desordem.

Se uma área está condenada pelo Estado é proibido habitá-la. Ponto final. E quem habitar terá que se entender com a Lei. Há tempos entrevistei um brasileiro que foi expulso dos Estados Unidos porque fraudou o odômetro de um carro alugado, baixando a quilometragem. Quando devolveu o carro foi preso na locadora e levado para uma Corte. O juiz perguntou se ele tinha adulterado o odômetro e o brasileiro disse que não. “Tem certeza?”, perguntou três vezes o magistrado, o brasileiro continuou negando e acabou deportado e ainda pagou uma multa monumental. Ele mentiu na Corte e a democracia por lá não perdoa invencionice.

A democracia exige uma gigantesca e cara rede de proteção que envolve polícias, justiça, parlamentares. É assim que funciona no mundo desenvolvido, mas no Brasil os cafetões da democracia estimulam atos ilícitos e o “coitadismo” do povo.

Assim que a primeira pessoa é impedida de construir em cima de uma barreira prestes a desabar começa a gritaria geral. Maus políticos, maus religiosos, maus jornalistas, todo mundo vai para onde um bem orquestrado protesto já estará sendo encenado. Corruptas, ou lenientes, ou arregadas, as instituições botam o galho dentro, o barraco é construído, meses depois é destruído pelas chuvas, morre todo mundo e voltam para o local os mesmos atores: maus políticos, maus religiosos, maus jornalistas para amplificar a lamúria.

Em Niterói as construções irregulares avançam impiedosamente. Em plena praia de Itaipu, que qualquer imbecil sabe se tratar de área de proteção ambiental, e sem qualquer licença para a obra, foi construído o escandaloso “Camarote Itaipu”, restaurante e pousada, no final do ano passado. A prefeitura disse que iria demolir, mas o Globo de 11 de novembro último informou que suspenderam a demolição. Aliás, quem olha o morro das Andorinhas em Itaipu percebe a ocupação desenfreada de uma favela “mais elegante”, classe média.

Em janeiro de 2014 já havia ocorrido fenômeno semelhante. Uma mansão estava sendo construída no Morro da Viração, aos pés do Parque da Cidade. Na época o então vice prefeito Axel Grael esbravejou em entrevista ao Globo: “O que vemos ali é uma obra enorme, acintosa, que provoca um significativo impacto paisagístico. Suspendemos a construção do imóvel e instauramos uma comissão para verificar como foi feito o licenciamento”. Conclusão: a mansão foi construída, está lá e ponto final.

Essa mesma prefeitura garante que não há expansão de construções irregulares na cidade e, naturalmente, diz que o assunto é “problema nacional”. Desmatamento, trânsito, população de rua, sob essa ótica obtusa e esperta, também devem ser vistos como problemas nacionais, ou seja, “não é assunto meu, dane-se” como insinua bispo crivella que, infelizmente, não é bispo Sardinha.

Se as pessoas moram em lugares condenados é porque o Estado permite. A impunidade do Estado dá sinal verde para que se jogue lixo nos morros, rios, valões, que as milícias construam prédios sem licença matando gente e devastando a mata atlântica.

Mas não há coitadinho nesse tosco enredo. Proibir as ocupações com o uso da lei e todos os outros descalabros seria o ideal. Mas para isso os governos tem que ter lastro moral, iguaria cada vez mais rara e obscura.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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