Neste 2020 de eleições para prefeito e vereadores, o Estado volta aos locais de seus crimes mostrando a sua face mais perversa. Seus representantes, sempre usando a democracia como refém e concubina, farão a tradicional peregrinação regada a mentiras e promessas pelas veias e becos da miséria humana, simbolizadas por favelas e outras sub habitações humilhantes, indignas, nefastas.
Traficantes de ilusões, os auto proclamados representantes do democracismo vão caçar votos para as eleições prometendo regularizar abismos assassinos, reformar casas construídas em solo condenado e prometer dezenas, centenas, milhares de documentos legalizando áreas proibidas.
O desprefeito do Rio, bispo (com b minúsculo) crivella (com c minúsculo), com certeza o pior que infestou a cidade maravilhosa desde 1 de março de 1565, quando foi fundada, golfou que a culpa da tragédia da chuva dos últimos dias é do povo que joga lixo nas encostas, nos canais, nos rios. Não, desprefeito. A culpa é do Estado, inclusive você, que permitiu e permite que milhões de pessoas habitem áreas condenadas graças ao bacanal de votos.
Não acredito que milhões de pessoas vão morar em favelas erguidas em área condenadas porque querem. Desde o fim da Segunda Guerra, quando boa parte da população brasileira trocou o campo pelas cidades, o inchaço urbano começou. Filha legítima do populismo, uma versão heavy metal da canalhice, a politicagem eleitoreira imediatamente começou a cafetinar os retirantes que passaram a morar em áreas criminosamente inabitáveis. Oferecidas em troca de votos.
Os espertos manipuladores conseguiram até glamourizar as favelas, obrigando que as chamem de comunidades, o que causa indignação em muitos favelados, entre eles o jornalista e fundador da Agência de Notícias das Favelas, André Fernandes. No site da A.N.F. ele escreveu:
“Tenho observado há muito tempo que a elite e a grande mídia tenta chamar as favelas de comunidades e isso me traz uma grande indignação, pois do meu ponto de vista, isso nada mais é que uma tentativa de descaracterizar a favela e amenizar a situação de pobreza extrema que vive nossa cidade.
Lembro sempre, para os que estão chamando as favelas de comunidades, que os condomínios de luxo, que essas pessoas que estão tentando descaracterizar essa nomenclatura moram, são comunidades. Sim! Os condomínios de luxo ou prédios na Barra, Leblon e Ipanema, constituem comunidades, porém não são favelas. Favela é favela e comunidade é comunidade!. O artigo está no site da A.N.F. em https://www.anf.org.br/favelas-ou-comunidades/
Ao contrário do que muitos fingem não saber, Democracia é um sistema forte. Quem anda fora dos trilhos da lei e do bem comum o trem passa por cima. Mas por aqui, em prol de si mesmos, os maus políticos e similares investiram e investem pesado na impunidade, burlando a Lei, insuflando a desordem.
Se uma área está condenada pelo Estado é proibido habitá-la. Ponto final. E quem habitar terá que se entender com a Lei. Há tempos entrevistei um brasileiro que foi expulso dos Estados Unidos porque fraudou o odômetro de um carro alugado, baixando a quilometragem. Quando devolveu o carro foi preso na locadora e levado para uma Corte. O juiz perguntou se ele tinha adulterado o odômetro e o brasileiro disse que não. “Tem certeza?”, perguntou três vezes o magistrado, o brasileiro continuou negando e acabou deportado e ainda pagou uma multa monumental. Ele mentiu na Corte e a democracia por lá não perdoa invencionice.
A democracia exige uma gigantesca e cara rede de proteção que envolve polícias, justiça, parlamentares. É assim que funciona no mundo desenvolvido, mas no Brasil os cafetões da democracia estimulam atos ilícitos e o “coitadismo” do povo.
Assim que a primeira pessoa é impedida de construir em cima de uma barreira prestes a desabar começa a gritaria geral. Maus políticos, maus religiosos, maus jornalistas, todo mundo vai para onde um bem orquestrado protesto já estará sendo encenado. Corruptas, ou lenientes, ou arregadas, as instituições botam o galho dentro, o barraco é construído, meses depois é destruído pelas chuvas, morre todo mundo e voltam para o local os mesmos atores: maus políticos, maus religiosos, maus jornalistas para amplificar a lamúria.
Em Niterói as construções irregulares avançam impiedosamente. Em plena praia de Itaipu, que qualquer imbecil sabe se tratar de área de proteção ambiental, e sem qualquer licença para a obra, foi construído o escandaloso “Camarote Itaipu”, restaurante e pousada, no final do ano passado. A prefeitura disse que iria demolir, mas o Globo de 11 de novembro último informou que suspenderam a demolição. Aliás, quem olha o morro das Andorinhas em Itaipu percebe a ocupação desenfreada de uma favela “mais elegante”, classe média.
Em janeiro de 2014 já havia ocorrido fenômeno semelhante. Uma mansão estava sendo construída no Morro da Viração, aos pés do Parque da Cidade. Na época o então vice prefeito Axel Grael esbravejou em entrevista ao Globo: “O que vemos ali é uma obra enorme, acintosa, que provoca um significativo impacto paisagístico. Suspendemos a construção do imóvel e instauramos uma comissão para verificar como foi feito o licenciamento”. Conclusão: a mansão foi construída, está lá e ponto final.
Essa mesma prefeitura garante que não há expansão de construções irregulares na cidade e, naturalmente, diz que o assunto é “problema nacional”. Desmatamento, trânsito, população de rua, sob essa ótica obtusa e esperta, também devem ser vistos como problemas nacionais, ou seja, “não é assunto meu, dane-se” como insinua bispo crivella que, infelizmente, não é bispo Sardinha.
Se as pessoas moram em lugares condenados é porque o Estado permite. A impunidade do Estado dá sinal verde para que se jogue lixo nos morros, rios, valões, que as milícias construam prédios sem licença matando gente e devastando a mata atlântica.
Mas não há coitadinho nesse tosco enredo. Proibir as ocupações com o uso da lei e todos os outros descalabros seria o ideal. Mas para isso os governos tem que ter lastro moral, iguaria cada vez mais rara e obscura.
O tema é complexo.
Sobre a construção da mansão no Morro da Viração, o proprietário deve ter conseguido autorização do poder judiciário (com letra minúscula de propósito) para finalizar o empreendimento. Juízes, procuradores e desembargadores não são eleitos, mas são historicamente representantes de classe (a alta) e defendem seus interesses.
Enquanto pobres se amontoam em morros e favelas, há vários imóveis vazios, sem cumprir nenhuma função social, espalhados por bairros centrais e nobres. Há várias propriedades rurais ociosas, o que impede o assentamento de pessoas no campo, com terra para habitar e trabalhar. Muitos desses imóveis são devedores de valores volumosos em impostos. Em uma cultura que defende ferrenhamente a propriedade privada, essas posses são intocáveis, mesmo causando prejuízo à sociedade. Quando movimentos sociais se cansam de esperar pela ajuda do Estado e tomam para si imóveis em situações irregulares – MST e MTST, por exemplo – são prontamente tratados pela elite e pela grande mídia (também mancomunada com a elite) como bandidos, terroristas, e outros insultos. Novamente, o poder judiciário, em seu projeto de segregação racial e social no país, costuma dar razão para qual lado, dos pobres ou dos proprietários?
A atual administração federal decidiu reduzir todo o investimento em programas sociais, inclusive o de moradia para a população mais carente. A classe média, também preconceituosa e segregacionista, é contra esta administração? Ou será que ela acredita que agora sim o país está no caminho certo?
Quem é o real responsável pelo caos social e humano que estamos mergulhados há 500 anos?
Excelente matéria.
O MP e a prefeitura só age em cima de quem pode pagar .
Não fiscalizam as crescentes construções nas comunidades ,quero ver promotor indo no morro .
Terra sem lei.
Mas a máscara está caindo,está semana já foi o terceiro preso e até antes da eleição o nosso infeliz prefeito será preso novamente.