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Niterói ‘larga o barco’, deixando Espaço Boechat abandonado em São Francisco

Escrito por Gilson Monteiro às 16:33 do dia 28 de outubro de 2021
Sobre: Talento desmerecido
  • Espaço Ricardo Boechat
28out

Espaço Ricardo BoechatEnquanto São Paulo continua homenageando o jornalista Ricardo Boechat, falecido naquela cidade em fevereiro de 2019, num acidente de helicóptero, Niterói – terra onde viveu e que sempre enalteceu – larga o barco. O que deveria ser uma pracinha com seu nome no bairro São Francisco, está abandonada.

Santo de casa só faz milagre na Prefeitura de Niterói se der Ibope e servir ao marketing eleitoreiro. O jornalista do bordão “toca o barco”, consagrado pelo seu talento reconhecido por três Prêmios Esso (o maior da carreira jornalística), está esquecido. Logo pela cidade que tanto amava e divulgava seus encantos através das suas colunas em O Globo, Jornal do Brasil, programas na rádio Band News e nas TVs Bandeirantes e Globo.

Na semana passada, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, deu o nome do jornalista Ricardo Boechat ao viaduto Paraíso, na Zona Sul de São Paulo. Antes, a prefeitura de Niterói dera o nome dele, em novembro de 2020, a um pequeno espaço no calçadão da praia de São Francisco, em frente de onde ele jogava suas peladas num campinho de areia.

Sem fazer comparações nem nada contra – até porque eram dois estilos completamente diferentes e em áreas distintas –, o consagrado ator Paulo Gustavo (que também enalteceu Niterói onde quer que fosse) teve rapidamente seu nome dado à badalada Rua Moreira César, em Icaraí, quando mal acabara de falecer. E mais. Está sendo lembrado com a instalação de duas estátuas, uma do ato e outra da personagem Dona Hermínia, no Campo de São Bento.

Espaço Ricardo BoechatEnquanto isso, aquele pequeno espaço na praia de São Francisco com o nome de um dos maiores jornalistas brasileiros, até hoje não recebeu nenhuma simples plaquinha. Morador do bairro, o competente e eclético arquiteto Marcio Franco da Cruz já fez um projeto para o espaço, inspirado no bordão “toca o barco”, que o jornalista usava em seu programa matinal na BandNews.

O arquiteto propôs, para criar o formato de um barco, que seja utilizado o mesmo tipo de pedra natural já presente no local. O assoalho interno do “barco” formado pelas pedras deverá ser revestido com porcelanato madeirado. No centro está prevista a instalação de uma escultura representando Boechat sentado, com um pé descalço sobre uma bola e outra calçando seu chinelo.

Márcio Franco da Cruz diz que Boechat “certamente odiaria” ser representado de pé, paletó e gravata sobre um pedestal. O projeto do espaço “Toca o Barco” foi entregue por Marcio ao ex-secretário estadual de Educação, Comte Bittencourt, para que este levasse a proposta arquitetônica ao governo municipal. Ao que tudo indica, o projeto jaz esquecido em alguma gaveta empoeirada.

Não fosse a edição e o lançamento em Niterói, em 2019, pela Máquina de Livros, da coletânea Toca o barco – Histórias de Ricardo Boechat contadas por quem conviveu e trabalhou com ele, o querido jornalista estaria esquecido pela sua cidade do coração. Nascido na Argentina, Boechat mudou-se pequeno para Niterói onde viveu com a família em São Francisco até largar o Centro Educacional e ir para o Diário de Notícias onde tudo começou. Foi em 1969. Manteve uma relação de profunda e incendiária paixão e amor por Niterói, em especial por São Francisco, o seu bairro.

Com organização e edição de Bruno Thys e Luiz André Alzer, o livro que já teve mais de duas reimpressões, dada a sua grande procura, traz histórias e bastidores fascinantes contados por 32 colegas que trabalharam, conviveram, sofreram e se divertiram com o Boechat. São eles, este colunista ao lado de nomes consagrados da imprensa, como Ana Cláudia Guimarães, José Simão, Ancelmo Gois, Datena, Leilane Neubarth, Fernando Mitre, Gilda Mattoso, Joaquim Ferreira dos Santos, Milton Neves, Angela de Rego Monteiro, Luiz Megale, Aluizio Maranhão, Rodolfo Schneider, Flávio Pinheiro, Telma Alvarenga.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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9 thoughts on “Niterói ‘larga o barco’, deixando Espaço Boechat abandonado em São Francisco

  1. O Irmão do Ricardo Boechat,o vereador eleito pelo PDT e falecido antes de tomar posse em janeiro de 2021,deve estar muito chateado aonde estiver e a família do Ricardo BOECHAT,também com o que sua matéria Gilson Monteiro,revelou!
    Esqueceram do querido BOECHAT!
    Trabalhei com ele no Palácio Guanabara no governo do Moreira Franco e nós jornalistas estamos abismados com o DESCASO da prefeitura de Niterói com o nosso “TOCA O BARCO!”LAMENTÁVEL!

  2. Que vergonha!!! Os niteroienses negaram, através da consulta popular, a mudança do nome da rua Moreira Cesar para Paulo Gustavo. Mas o prefeito rapidamente foi lá e trocou todas as placas. Que importância tem um humoristazinho para a cidade? Se estão pensando em apoiar um ex-prefeito presidiário, que até hoje não mostrou a carta convite para estudar na Universidade de Coimbra, a concorrer ao governo do estado do Rio, esperar o que desses políticos?

  3. Desde 2013 este Governo é muito bom em fazer marketing político. Haja vista a pajelança que fizeram na inauguração do Mercado Municipal que não estava concluído, ou seja, após um ano o mesmo não está pronto até hj.
    Lamentável.

  4. Certamente, Rodrigo Neves e seus seguidores não homenagearam Ricardo Boechat, por sua independência como jornalista e crítico dos maus feitos das três esferas de poder. Boechat nunca se curvou as manipulações da máquina pública, via empresas de publicidade etc…
    Pelo visto Gilson, Niterói vai ter que sair desse novo fundo do poço que esteve aprisionada por grupos políticos como o dominante para priorizar a cultura e a história de suas grandes personalidades pensantes com Ricardo Boechat!
    Sem demérito ao ator Paulo Ricardo, afirmo: as biografias são incomparáveis se o critério fosse de serviços prestado e prestígio a Cidade pela representative nacional a Moreira César do passado seria RICARDO BOECHAT hoje.
    Niterói desde a saída de Waldenir Bragança está perdida em termos de cultura, com obras faraônicas inspiradas em Fidel Castro e Oscar Nieamaier sempre tendo como base o populismo. Seja o populismo comunista seja de gênero, palavra da moda!

  5. Parabéns Gilson você sempre atento as mazelas dos políticos aproveitadores da nossa cidade. Parabéns estamos sempre atentos a sua coluna.

  6. Já estava com um nó na garganta, sem pode falar (por motivos éticos) sobre os atos demagogicos do atual e do ex-prefeito de Niterói. Ambos sempre transformaram em palanques políticos as homenagens que inventavam. Até as “homenagens postumas”. Foi assim que com relação ao querido Boechat e, agora, com Paulo Gustavo. O ex e o atual prefeito nunca se preocuparam com os sentimentos das familias e dos amigos dos “homenageados”. Só se preocupam com os dividendos políticos. É triste.

  7. Pois é! Vivemos uma geração bem estranha da história.
    Nossos verdadeiros referenciais são colocados na margem da HISTÓRIA.Eu conheci Boechat ainda como assistente do SWAN.
    E o que ganhou nome da Moreira César nunca vi!
    Vida maluca!

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