Passei a semana andando muito, especialmente no Centro de Niterói onde, me disseram, as campanhas eleitorais estão mais ardentes. O que vi foram algumas dezenas de pessoas empunhando meia dúzia de bandeiras, um ou outro santinho, pouca abordagem e a impressionante frieza do cidadão, ignorando tudo.
“É tudo a mesma coisa”, “cansei de acreditar”, “não adianta nada”, comentavam as pessoas que abordei. A multidão andava reto, sem parar, não discutia, não batia boca, parecia anestesiada, insensível, dormente, ignorando os nomes de candidatos e candidatas que prometem um novo país. “A moda agora é dizer que não é político, é dizer que é político novo, que não é farinha do mesmo saco, mas se chega lá vai mergulhar no brejo também. Estou cansado!”, desabafou um eleitor de 77 anos”.
Niterói sempre foi uma cidade que respirava política. Em épocas pré-eleitorais, houve muita briga em bares, mesas viradas, tapa na cara, discussões apaixonadas. As apurações no ginásio do Caio Martins eram feitas sob tensão, representantes de partidos e candidatos a todo momento levantavam suspeitas. Lá fora o pau comia.
Hoje, esse mormaço, esse silêncio. De vez em quando uma discussão no facebook, um bloqueia o outro e fim. Tudo muito digital demais. Claro que há fortes motivos para que muitos eleitores desprezem a eleição, a começar pela Lava Jato que prendeu muito peixe grande. O que senti ouvindo as pessoas é que além da Lava Jato há outros fatores subjetivos como, por exemplo, vereadores que concorrem a vagas de deputado estadual e federal. “Usam Niterói como trampolim na maior cara de pau, sabendo que se perderem vão continuar com o empregão na Câmara dos Vereadores”.
Alguns candidatos já previam essa reação. “Sabemos que muita gente não entende que quando um vereador se torna deputado vai ser melhor para cidade”, comentou um assessor de campanha que logo foi rebatido por uma professora de São Gonçalo: “A primeira coisa que vocês fazem quando tomam posse é sumir de Niterói. Voltam quatro anos depois como se nada tivesse acontecido…vocês acham que somos o que?”
Os candidatos tem sentido a frieza do eleitor de uma maneira geral e acham que reconquistá-lo é o primeiro desafio que vão enfrentar. Entre os que são vereadores há um receio: perder essa e também a próxima eleição municipal em 2020 por causa da indignação do eleitorado que se sente usado. “De certa maneira eles tem razão, mas acho que os candidatos sérios, com uma boa biografia, merecem uma chance para mostrar o que pode ser feito para cidade num outro contexto político”, explicou um deles por telefone.
Sentindo o desprezo, muitos estão concentrando o fogo nas periferias e também em São Gonçalo, Maricá, Itaboraí, onde, segundo alguns deles, “o eleitor vibra mais”.
É o caso de esperar para ver.