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MP pede cassação do vereador Carlos Macedo pela nomeação de fantasmas

Escrito por Gilson Monteiro às 10:32 do dia 28 de agosto de 2020
Sobre: Rachadinha em Niterói
  • Carlos Macedo, vereador
28ago

Carlos Macedo, vereadorO Ministério Público estadual ajuizou ação civil pública requerendo à Justiça a cassação do vereador Carlos Macedo por improbidade administrativa pela nomeação, desde 1993, de funcionários fantasmas nos quadros funcionais da Câmara Municipal e da Prefeitura de Niterói. O MP requer, ainda, a suspensão dos direitos políticos do acusado e o pagamento de multa de R$ 1,9 milhão.

Macedo preside na Câmara de Vereadores a Comissão de Fiscalização Financeira, Controle e Orçamento. Ele ainda responde à ação criminal como suspeito de ter sido mandante do assassinato do vereador eleito Lúcio do Nevada, em 2012. Carlos Macedo teria encomendado o crime por motivos políticos, para assumir o cargo de vereador após a morte do titular. A pedido de sua defesa, seu julgamento, depois de sucessivos adiamentos, deverá ser  realizado na Comarca da Capital em data ainda a ser marcada.

A ação ajuizada agora pelo MP, distribuída à 4ª Vara Cível de Niterói,  destaca que Macedo, vereador desde 1993, valeu-se de seu cargo e de sua influência para determinar e autorizar a nomeação de diversas pessoas para o exercício de funções públicas.

De acordo com as investigações conduzidas pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC/MPRJ), o político, auxiliado diretamente por sua então chefe de gabinete, Mariana Soares Queiroz da Silva, nomeou Luiz Alberto Mendonça da Silva, Paulo de Tarso Balzana e Maria Zélia Silva para o exercício de cargos comissionados, sem que os mesmos desempenhassem qualquer função pública.

Esses funcionários não ocupavam efetivamente seus cargos, ficando à disposição dos interesses privados de Carlos Macedo.

Além da perda do mandato, o MPRJ requereu à Justiça que determine a suspensão dos direitos políticos do vereador, de acordo com as sanções previstas no artigo 12, incisos II e III da Lei nº 8429/1992, e o pagamento de multa de R$ 1.924.524,02.

Os demais réus, por terem sido exonerados há mais de cinco anos, deverão ressarcir os cofres públicos nos valores de R$ 962.262,00, no caso de Mariana (correspondente à soma atualizada das remunerações pagas aos funcionários-fantasmas), R$ 819.594,47, no caso de Maria Zélia, R$ 103.174,58, por parte de Paulo de Tarso, e R$ 39.492,96 no caso de Luiz.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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One thought on “MP pede cassação do vereador Carlos Macedo pela nomeação de fantasmas

  1. NOSSO PRIMEIRO FUNCIONÁRIO FANTASMA

    As câmaras municipais vêm da época da colonização do Brasil. Competia aos vereadores¹ taxar os ganhos dos artífices, baixar posturas, determinar a conservação de logradouros, estabelecer jornadas de trabalho e julgar as injúrias verbais e pequenos furtos.

    Ao criar uma vila na Colônia, os portugueses logo construíam o Pelourinho² – marco da vila – e convocavam os homens bons³ para elegerem os vereadores. A primeira localidade formada nesses moldes administrativos foi a Vila de São Vicente, SP, em 1532.

    Conforme as dimensões do município, cada Mesa da Vereação era formada por dois, três ou quatro vereadores e um ou dois juízes ordinários. Serviam a ela um procurador, um tesoureiro, um distribuidor e vários escrivões e tabeliães.

    Enquanto os almotacés (fiscais), alcaides (oficiais de justiça) e outros funcionários menores eram escolhidos pelas câmaras, a eleição de juízes ordinários, vereadores e procuradores era rodeada de um ritual rigoroso, realizado a cada três anos:

    1 – Reunido o conselho dos homens bons, sob a coordenação dos atuais juízes e vereadores, eram escolhidos seis eleitores por votação escrita e secreta, apurada publicamente.

    2 – Depois de juramentados, esses eleitores eram distribuídos em três duplas, devendo cada uma delas apresentar uma lista com candidatos para todos os cargos, assinada.

    3 – Depois, o juiz copiava os nomes para uma relação – chamada de “pauta” – verificando que não houvesse parentes (até o quarto grau) propostos para ocuparem cargos no mesmo período. Essa operação era conhecida como “apurar as pautas”.

    4 – Os nomes eram colocados em bolas de cera, chamadas de “pelouros”. Pauta e pelouros eram colocados num saco de couro, com divisões para cada um dos cargos, e guardados numa arca ou cofre com três fechaduras. As chaves eram distribuídas entre os vereadores, para que nenhum deles pudesse, individualmente, alterar o conteúdo dos pelouros.

    5 – Terminado o mandato da mesa atual – geralmente na virada do ano – a população se reunia em torno do pelourinho e os nomes eram extraídos por um menino menor de sete anos. De cada três candidatos propostos era sorteado um nome.

    Embora os mandatos fossem anuais, a formação dos nomes era feita a cada três anos, para poupar trabalho. Guardados os pelouros em segurança, bastava, durante o rito de abertura e proclamação dos eleitos, a presença da população urbana para garantir a lisura do ato.

    No Rio de Janeiro, a primeira eleição de vereadores foi em dezembro de 1567, quase três anos após a fundação da cidade. Uma curiosidade é que os vereadores, mensalões à parte, eram remunerados com cera, que tinha grande valor e era muito consumida na forma de velas para iluminação em geral e principalmente em dias de festas.

    Como desde aquela época os vereadores tinham pouca produtividade e viviam protelando as decisões, o povo dizia que eles não trabalhavam, apenas ficavam ali para “fazer cera” (ganhar seu pagamento), dando origem a esta expressão, ainda em voga. A Câmara Municipal era no alto do Morro do Castelo – a cadeia no térreo, os vereadores no segundo andar.

    O primeiro empregado da câmara do Rio foi o português João de Prosse, nomeado por Estácio de Sá. Como a eleição só ocorreu em 1567, ele ficou quase três anos recebendo pagamento sem trabalhar. O primeiro servidor público carioca foi, portanto, um legítimo funcionário fantasma!

    ¹ VEREAR – administrar

    ² PELOURINHO – tem origem na arquitetura, na bola que encimava uma coluna de alvenaria (em latim, “pirorium”). Erguido na praça principal da vila, o pelourinho era um emblema da administração e local de castigo dos criminosos e escravos fugidos.

    ³ HOMENS BONS – eram os adultos livres, do sexo masculino (nobres, fidalgos, proprietários, militares e o clero) que não tivessem – no conceito da época – “marca de nação infecta”, ou seja, mouros, judeus ou seus descendentes.

    Celso Serqueira

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