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Medo do Covid-19 reduz procura por outros tratamentos e consultas médicas

Escrito por Gilson Monteiro às 16:37 do dia 12 de junho de 2020
Sobre: Doenças crônicas
12jun

Médico Felipe Ribeiro, coordenador do Centro Integrado de Soluções Médicas do CHN

A curva de infecções e mortes por Covid-19 no Brasil ainda é preocupante – dados recentes mostram que o país já apresenta mais de mil óbitos diários. Para controlar a pandemia, grande parte da população tem se isolado em casa, seguindo as recomendações. No entanto, especialistas observam que o medo da infecção também tem afastado os pacientes com doenças crônicas de seus tratamentos continuados.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que cerca de 70% das mortes no país têm relação com a descompensação de doenças crônicas provenientes de fatores de risco, como uma alimentação não saudável, o tabagismo, o alcoolismo e o sedentarismo, ou são causadas por ela.

Dentre as principais doenças crônicas estão a hipertensão, o diabetes e as doenças neoplásicas – como o câncer – e as patologias cerebrovasculares, como os AVCs, entre outras.

Doenças crônicas negligenciadas são silenciosas

De acordo com o dr. Felipe Ribeiro, coordenador do Centro Integrado de Soluções Médicas do CHN, as doenças crônicas mais negligenciadas pela sociedade costumam ser as mais prevalentes e silenciosas – especialmente a hipertensão e o diabetes. “Muitas vezes, essas condições só começam a chamar a atenção do paciente quando já causaram danos no organismo, podendo ser irreversíveis.”, explica.

– Por causa desses sucessivos danos ao organismo causados por essas doenças, o paciente passa a perder qualidade de vida ao longo do tempo e se torna vulnerável e mais frágil, seja pela doença em si, seja pela não aderência ao tratamento ou mesmo pelos obstáculos enfrentados. Em alguns casos, a falta de frequência nos consultórios médicos dificulta a cura de doenças, como os cânceres de cólon e de intestino. Por isso, é essencial manter o acompanhamento médico para condições crônicas durante a pandemia. Trata-se de minimizar riscos – acrescenta.

Cardiologistas apontam redução de 50% das consultas

Na contramão das recomendações de especialistas, profissionais e instituições têm reportado uma considerável queda em atendimentos médicos desde os primeiros casos da Covid-19 no país. Dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencionista, por exemplo, apontam um declínio de mais de 50% de consultas médicas e cirurgias em comparação com o mesmo período no ano anterior.

Ainda que os riscos sejam consideráveis, pacientes com doenças crônicas deixaram de sair de casa integralmente com medo da infecção pelo novo coronavírus. “Temos ciência, por exemplo, de que portadores de insuficiência renal crônica não têm comparecido à hemodiálise por medo; hipertensos e diabéticos não têm ido mais à farmácia. É importante que as autoridades médicas conscientizem a população de que há maneiras alternativas para deixar o acompanhamento da saúde em dia”, comenta.

Felipe também ressalta que o abandono ao tratamento dos pacientes com doenças crônicas pode transformar quadros leves em graves. “Mais de 80% dos casos são brandos ou assintomáticos. Ainda assim, em algumas ocasiões, um quadro infeccioso em um paciente com uma doença descompensada traz grandes riscos. Temos visto, nas últimas semanas, pacientes cuja infecção por Covid-19 se tornou grave justamente por causa da doença de base não estar sendo acompanhada e a não aderência ao uso de medicações”.

Exceção para medicamentos quimioterápicos

Segundo o médico, a exceção para a obrigatoriedade do atendimento continuado se aplica aos tratamentos que causem impacto direto na imunidade. Em virtude da pandemia, o uso de imunossupressores, como no caso dos medicamentos quimioterápicos, precisa ser repensado, levando o cenário atual em consideração. É necessário haver zelo e cuidado na orientação do paciente.

– A equipe do CHN adotou algumas medidas para evitar essa evasão. Dentre elas, é preciso destacar a divisão do hospital em duas zonas distintas, em que algumas instalações e equipamentos foram separados exclusivamente em dois prédios para pacientes com sintomas respiratórios e suspeita de Covid e três torres para atendimento das doenças crônicas e emergências não Covid (adulto e pediátrico).

– Também estamos disponibilizando canais de telemedicina para mantermos o acompanhamento dos portadores de doenças crônicas. Médicos e equipes de saúde são testados regularmente e os pacientes têm sido testados nos centros cirúrgicos antes da internação. Por fim, usamos todas as nossas mídias para disseminar informações confiáveis e seguras, o que ajuda a reduzir a ansiedade motivada pela insegurança – diz o médico.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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