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Estado do Rio enxovalhado paga o preço da corrupção

Escrito por Luiz Antonio Mello às 09:01 do dia 3 de outubro de 2020
Sobre: Imagem linchada
03out

Morro da Coca Cola em Arraial do Cabo. As ocupações irregulares – com anuência das autoridades – atraem facções criminosas e afastam o turismo

Por suas belezas naturais que ainda restam, o Estado do Rio poderia ter no turismo uma importante fonte de sustento, mas o avanço do banditismo, em muitos casos por causa do conluio de gestores públicos com organizações criminosas tem linchado imagem do estado no Brasil e no exterior.

Por exemplo, no fim de semana passado Arraial do Cabo ilustrou vergonhosa manchete no noticiário nacional: “Tiroteio deixa um morto e 5 baleados na Prainha, em Arraial do Cabo, no RJ”.

A notícia:

Um tiroteio na Prainha, em Arraial do Cabo, na Região dos Lagos do Rio, deixou um homem morto e cinco pessoas baleadas na tarde deste sábado (26).

De acordo com a delegada titular da 132ª DP, Patrícia de Paiva, a principal linha de investigação é de que o crime tenha sido motivado por guerra de facções.

Um detalhe que não é tão detalhe assim. Segundo o portal G1, no último 29 de julho (https://tinyurl.com/y9qovjk7) o prefeito de Arraial do Cabo foi acordado com polícia no portão.  Segundo o Ministério Público a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão “contra o prefeito e integrantes de uma organização criminosa investigada por corrupção e fraudes em licitações, disse o G1.

Caro leitor, em que você votou para prefeito de sua cidade na última eleição? Pela proximidade com a população o prefeito é uma forte referência para os cidadãos em se tratando de moralidade política.

Aqui no surrado Estado do Rio já são cinco ex-governadores presos por corrupção e um afastado pelo mesmo motivo. Sobre o governador em exercício, há suspeitas de ilícitos ainda não confirmadas.

O marco zero do declínio do RJ foi quando a Guanabara perdeu a condição de capital do país. Trocaram o Rio por Brasília, uma das decisões mais insanas da história do Brasil. Esvaziaram o Rio e criaram o doentio inchaço onde hoje é o Distrito Federal. Muita gente pensa que o D.F. é Brasília, Asa Sul, palácios, mas a dura realidade vive nas cidades satélites, periferia, terra de miséria e gangsters.

Mancando, pé quase na cova, a antiga Guanabara deu um jeito de sobreviver ao esvaziamento econômico, cultural, social, o avanço das ocupações irregulares. O antigo Estado do Rio, com capital aqui em Niterói (era no atual Museu do Ingá), também começou a fazer água até começar a naufragar de vez em 1975, quando o general presidente Geisel determinou (por mera picuinha eleitoreira, burrice e teimosia) a fusão com a Guanabara. Jogou os dois estados no Titanic da história, sabendo que havia um iceberg no meio do caminho.

O novo Estado do Rio acabou nos braços de alguns representantes da mais pura e mafiosa escória da política. No interior do RJ havia agricultura e pecuária, havia qualidade de vida, havia empregos, havia autonomia, havia turismo, tudo jogado fora.

Soma-se a isso seis gangsters ocupando o palácio Guanabara (total de quase 20 anos) e não é preciso ser adivinho. Em muitos casos, a política rasteira se aliou ao crime organizado (milícias e narcotráfico) que já ocupam postos nos três poderes.

Há pouco tempo fizeram o teatro da intervenção militar no Estado do Rio. O que poderia ser resolvido com ações de inteligência básicas e primárias (secar o dinheiro da bandidagem, por exemplo) acabou se transformando num espetáculo (caro, evidentemente) de enxugamento de gelo.

Paródia de si mesma, a esquerda mofada, tomada pelo populismo falso moralista, ao invés de formular soluções concretas para o nosso moribundo estado prefere discutir distopias, costumes, rosa e azul, seria Pluto filho da Pluta? e outras estéreis teorias de academia velha, decadente.

Todo mundo tem o direito de opinar porque, parece, democracia é ser livre para falar, escrever e mostrar. Mas pregar o combate ao crime organizado distribuindo bala juquinha para genocidas armados de AK 47 é coisa de pequeno burguês ainda deslumbrado (com 60 anos de atraso) com o homem novo de Ernesto Guevara ou a dialética marxista vendida como virgem, mas que não passa de carne barata e requentada traficada como cheirinho da Loló por placebos de Lenin, Trotsky e Stálin, Mao Tsé-Tung.

Na Alerj sustentamos 70 deputados, mas muitos NADA fizeram para conter, por exemplo, a ganância perversa de Witzel que teria avançado no cofre da pandemia. Querem coisa mais hedionda do que isso? Caro leitor, o que o seu deputado (aquele que você elegeu em 2018) fez para conter Witzel e a gang que estupraram o nosso Estado do Rio em plena luz do dia? Não vale esse 7 a zero em cachorro morto que estão fazendo agora na CPI só para mostrar serviço; onde o seu deputado estava quando o cheiro de esgoto começou a tomar o ambiente. Ou você não lembra em quem votou? Se não lembra, não se avexe porque lamentavelmente isso é normal numa democracia em las cochas, como diria Pablo Escobar, que por aqui seria estagiário.

Os seis governadores agiram sozinhos, sem cúmplices ou anuentes? Cabral ficou lá 8 anos, o outro 4, o outro…onde estavam os representantes dos poderes legislativo e judiciário (que pela Constituição são fiscalizadores) enquanto eles nos assaltavam e faziam esbórnias de milhões, enchendo a cara de Dom Perignon, dançando com guardanapos enfiados na cabeça em Paris?

Em tempo, há solução para o Estado do Rio? Há sim.

Em janeiro deste ano, a repórter Júlia Barbon, da Folha de S. Paulo, publicou um estudo da Fundação Getúlio Vargas que constatou que o aumento de mortes no Estado do Rio foi maior no interior.

“Enquanto a capital tem quase todo o seu território marcado por uma diminuição moderada (até 5% de queda ao ano) ou acentuada dos óbitos violentos (mais de 5%), o resto do estado tem diversas áreas com um movimento de crescimento.

As altas mais intensas no interior ocorreram em quatro cidades: Paracambi, Porto Real, Casimiro de Abreu e Miracema —a campeã, com um aumento anual de 7% na letalidade violenta.

A matéria acrescente: “Para se ter uma noção mais concreta do fenômeno, pense que a cidade do Rio representava 43% das mortes violentas do estado em 2003. Em 2018, a fatia caiu para 29%, mesmo com a proporção populacional variando pouco.”

Lembrando (e a quem interessar) que no dia 15 de novembro tem eleições para prefeito e vereadores.

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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