Um abismo profundo divide o significado prático e filosófico de esperança e expectativa. Em 2015, Lobão levantou essa lebre num show. Começou a falar sobre o significado (e as significantes) das duas expressões, mas a falta de educação da ruidosa e irritante plateia não deixou o lobo uivar até o final do raciocínio.
Esperança é o possível, expectativa é o ideal, que não existe. Felizmente tento manter um pacto com a esperança desde a hora em que nasci. Com a expectativa, não. Relação zero.
A expectativa é prima da ansiedade, da correria, da falta de ar, faz nossos pés molharem em Manaus quando ainda está chovendo em Porto Alegre. Já a esperança é centrada, amena, racional. A esperança faz projetos, a expectativa cisma.
Minha esperança em 2018 é grande, mas faço procuro fazer a minha parte. Não corro, não fujo, parto para cima com todas as forças disponíveis e depois, atento, aguardo a hora da colheita deixando o destino trabalhar. Pilhar o tempo todo, insistir, forçar a barra, chutar portas, em geral levam ao desespero sob o manto da expectativa. Em todos os setores da vida.
Há milhares de anos, os asiáticos costumam escrever que o silêncio é uma forma de comunicação. Pode até ser, mas não sou asiático, sou latino. Logo, não comunicou nada disse. Quando os sinais não veem (ou vão e não voltam), nada aconteceu. A esperança ensina que se não há declaração de amor ou declaração de guerra, não existe uma coisa nem outra. Cínica, a expectativa insiste que nem sempre os sentimentos emitem sinais. Como mente essa senhora, que eventualmente se traveste de tola.
Desde o dia em que Lobão tentou falar sobre expectativa e esperança no tal show, mas acabou atrapalhado por galinhas, codornas e barangas da plateia, o tema ficou perambulando por mim. O que acabou me levando ao passado, a uma longa tarde que passei na casa do Lobo quando ele morava no alto da Estrada das Canoas, em São Conrado, Rio. Falamos muito sobre o flagelo da culpa. Culpa, ela mesma, a canalha que não nos deixa olhar no espelho mesmo quando somos totalmente inocentes.
Gerar expectativas leva a culpa. Falar de esperança, não. A expectativa é volátil, enganadora e induz suas vítimas a impregnar a humanidade de promessas enquanto prepara uma desculpa para se livrar da situação. A esperança resolve, a expectativa tenta se livrar. Esperança leva a reflexão, a expectativa traz a insônia. Esperança não teme o início, o fim, e muito menos o meio.
Nossas esperanças são poluídas por expectativas de que as coisas poderiam ser assim ou assadas. Não espere dos outros aquilo que VOCÊ acredita ser o certo. Apenas, viva SUA PRÓPRIA VIDA de acordo com suas expectativas, pois as dos outros são diferentes. Nossas motivações são frutos de nossas experiências pessoais. É imaturo (para não dizer idiota) acreditar que todos têm as mesmas experiências, portanto as mesmas expectativas e desejos. O universo é diverso, e nós, como sub-produto dessa diversidade, também o somos. Menos regras! Menos padrões! Mais entendimento! Mais reflexão! Não é difícil, basta deixar para trás ranços do passado. Como diz Claudio Prado: “o passado não tem solução. A solução está no futuro.” Que cada um reflita sobre si e sobre as diferenças. Assim, o futuro será melhor.