Fubá, um simpático cachorro da raça shih tzué, virou atração em todas as mídias no começo desta semana.
Ele estava no carro dos donos sábado passado quando foram assaltados as 6 e meia da manhã no trecho Niterói-Manilha da BR-101, (conhecida como BR). Fortemente armados, os bandidos mandaram parar e queriam levar uma criança de 13 anos. Os pais imploraram e eles acabaram levando o cachorro, malas e um celular.
A notícia ganhou os sites dos principais jornais e rádios, além das redes sociais, que divulgaram a história. Várias fotos do Fubá foram postadas, milhares de pessoas compartilharam e na noite de terça-feira ele foi encontrado, próximo ao piscinão de São Gonçalo, imediações do bairro Boaçu.
A dona, Rafaella Azevedo, 28 anos, resolveu ir ao local depois de receber a informação de que havia uma concentração de cachorros perdidos por lá. Fubá estava um pouco sujo, muito assustado e acuado, mas logo reconheceu a dona. Emocionada, a família agradeceu a todos pelas redes.
O fato chama mais uma vez atenção para a situação cada vez mais grave da Niterói-Manilha, principal via de ligação para São Gonçalo cidade que está sob o jugo do narcotráfico e das milícias. Segundo a Delegacia de Homicídios, milicianos já são responsáveis por 40% dos assassinatos na cidade que tem cerca de 1 milhão e 100 mil habitantes.
Especialistas dizem que se os governos federal e estadual resolvessem agir, implantando um regime de intervenção na rodovia – que passaria a contar com vários postos policiais, ronda intensa com várias viaturas com apoio aéreo – as organizações criminosas perderiam a sua principal via de operações. Mas, como se sabe, em muitos casos as milícias se tornaram intocáveis por causa de questões políticas. Segundo o jornal O São Gonçalo, na cidade já existem várias “firmas” formadas entre milicianos e traficantes.
Esse trecho da BR-101 que passa por São Gonçalo foi o recordista de roubos de veículos em todo o país em 2019, segundo levantamento realizado pela empresa de segurança MoviSafe, divulgado em janeiro. O relatório foi elaborado a partir de dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
De acordo com o documento, de janeiro até novembro de 2019, a região atendida pelo 7º BPM (São Gonçalo) computou 4.402 roubos de veículos e 1.300 roubos de carga, sendo o principal município de abordagem de bandidos para esse tipo de crime em todo o estado do Rio.
Um ano antes, em 2018, das sete áreas com a maior concentração de roubos de cargas em todo o estado, quatro ficavam em São Gonçalo: Complexo do Salgueiro, Porto do Rosa, Lagoinha e Jardim Miriambi. Ao analisar os incidentes nessas localidades, o estudo aponta que a maior parte (31,9%) das 1.576 cargas roubadas foi de alimentos, o que representa 503 casos.
De acordo com o dossiê a maioria das abordagens criminosas (54,4% ou 857) ocorreu das 8h às 13h, com pico entre 10h e 11h, e 80,2% aconteceram entre terça e sexta-feira. Sozinha, São Gonçalo anotou 18,7% dos registros de roubo de carga em todo o estado em 2018: quase um a cada cinco ocorrências.
O trecho entre Niterói e Manilha é considerado por vários órgãos de segurança como um dos mais violentos do país. Junto às suas margens estão, por exemplo, os complexos do Salgueiro e do Jardim Catarina, áreas dominadas há anos pela mesma facção criminosa.
Em relação aos arrastões, os pontos mais críticos, mostra o levantamento, são a altura dos quilômetros 309 e 310, em Itaúna e no Portão do Rosa, respectivamente; a região do viaduto do Tanguá, próximo ao quilômetro 280; e os bairros do Gradim, do Boaçu e do Boa Vista.
Uma situação que só piora e nada é feito.