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Falta de manutenção ameaça a vida de ciclistas e pedestres

Escrito por Luiz Antonio Mello às 08:09 do dia 14 de julho de 2018
Sobre: CicloNada
14jul

Desde que a prefeitura resolveu fazer ciclofaixas, por si só polêmicas, ciclistas e pedestres não param de reclamar. Com razão. Em várias delas as tintas de demarcação estão gastas, os “tachões” se soltaram e há uma profusão de buracos. No túnel Raul Veiga, que liga são Francisco e Icaraí, a calçada de ciclistas e pedestres parece um queijo suíço, toda furada, o que força o uso da Estrada Froes, pela contramão, uma “ciclo nada” kamikaze com tinta de demarcação anêmica. Se tivessem um bom projeto e boa manutenção, as ciclovias de Niterói seriam um sucesso, com natural repercussão eleitoral, mas do jeito que estão viraram tiro no pé.

 Um ciclista que usa a estrada Froes corre risco de vida escancarado. Pintaram a ciclofaixa na pista da esquerda, mas não proibiram o estacionamento a direita. Os carros “se equilibram” acrobaticamente entre a ciclofaixa e os veículos estacionados. Qualquer micro vacilo, invadem a ciclofaixa onde está o pacato cidadão em sua bicicleta ou um pedestre caminhando ou correndo, seja de ladrão ou fazendo atividade física.

 Muita gente está usando bicicletas elétricas, silenciosas, não poluem, custo de manutenção mínimo. Gente que não as usa só para o lazer, mas sobretudo para o trabalho, rompendo o engarrafamento crônico do trânsito em todos os pontos da cidade, principalmente Icaraí. Se houvesse incentivo (ciclovias bem feitas e conservadas) a adesão as magrinhas elétricas iria aumentar e, de fato, o slogan “um carro a menos” começaria a fazer efeito. Especialmente em Niterói, cidade média, pouco extensa, ideal para esse tipo de transporte.

Proporcionalmente, a cidade no mundo com maior número de bicicletas é Amsterdã, Holanda. São 97 para cada grupo de 100 habitantes. Com a crise do petróleo de 1973, os holandeses praticamente abandonaram os carros nos dias úteis e investiram em cicloVIAS (e não faixas) e vários outros tipos de transporte alternativo. O mundo desenvolvido foi lá ver como se faz mobilidade urbana com o uso de bicicletas. Se alguém da prefeitura de Niterói visitou a capital holandesa, não percebeu as ciclovias ou não entendeu bem o espírito da coisa porque o que temos por aqui é uma cusparada na cara do bom senso.   As ciclo sei-lá-o-que conseguem indignar ciclistas, motoristas e pedestres.

As ciclofaixas já desgastadas que pintaram pela cidade ameaçam a vida dos ciclistas, e irritam os motoristas (muitas estreitas ruas foram ainda mais reduzidas). Para fazer à Bangu seria melhor não fazer. Mas aí entra o componente ilógico, sua majestade o voto. Muitos políticos acham que, mesmo assim, feitas nos olhos da cara, as ciclofaixas dão votos. E poderiam dar, desde que houvesse a humildade da autocrítica e ajustes no projeto. Mas, no Brasil, autocrítica é ofensa.

 

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Luiz Antonio Mello
Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.
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