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Villa Pereira Carneiro: um refúgio de paz e memória numa ponta de Niterói

Escrito por Gilson Monteiro às 09:28 do dia 6 de novembro de 2025
Sobre: Recanto bucólico
  • Villa Pereira Carneiro, Niterói
06nov
Segurança e privacidade a dois quilômetros do Centro de Niterói, um privilégio de quem mora na Villa Pereira Carneiro

Fui ao Mercado de Peixe São Pedro e resolvi matar saudades ali perto, onde passei minha infância e parte da juventude: a Villa Pereira Carneiro, que fica numa ponta e a apenas dois quilômetros do Centro de Niterói.

Para os meus olhos lacrimejando de alegria, constatei que a Villa continua bucólica, bem conservada e cuidada — um lugar tranquilo, de astral diferente, com segurança e privacidade.

Construída pelo Conde Pereira Carneiro, que dá nome à Villa, o conjunto foi originalmente projetado para abrigar os trabalhadores da Companhia Comércio e Navegação. Numa das primeiras crises da indústria naval, o estaleiro acabou fechando, mas as 180 casas geminadas de estilo suíço, com dois andares, ficaram conhecidas como “higiênicas” — cada uma provida de mictório, uma novidade à época. Os vizinhos eram separados por cerca viva.

O conde, dono do Jornal do Brasil, casou-se com a moradora de Icaraí, Malvina Dunche de Abranches. Ela tornou-se a condessa Pereira Carneiro e viveu por bom tempo no palacete no alto do morro da Penha. Construído estrategicamente às margens da Baía de Guanabara, na Ponta D’Areia, o casarão de três andares, com 14 amplos quartos e aparência de castelo medieval, acabou se transformando numa imagem curiosa para quem cruza a ponte.

O primeiro ato de minha visita foi agradecer a Deus pela graça daquela inesperada recordação, indo direto à Paróquia dos Sagrados Corações, onde fiz minha primeira comunhão e por anos fui coroinha do padre italiano Francesco, que certa vez me disse que eu tinha vocação para padre.

As constantes peladas nas areias da Praia da Vitamina, os rachas de basquete na quadra e as domingueiras no salão do Fluminense de Natação e Regatas ocuparam meu tempo — e nunca pensei em colocar batina, embora tenha continuado sempre e cada vez mais perto de Deus.

A praia se chamava Vitamina porque os navios ancorados na Baía despejavam frutas e legumes que sujavam o mar, e as ondas traziam esses restos para o recanto da Ponta D’Areia.

Passei na porta do Grupo Escolar Raul Vidal, onde fiz o primário, dirigido pela abnegada Jonia Fontes, que além de se preocupar com o nível do ensino, oferecia uma sopa variada e nutritiva na hora do recreio para os alunos.

Ali perto fica o Plínio Leite, onde concluí o ensino médio graças ao espírito generoso desse mestre que concedia bolsas de estudo para que os alunos não interrompessem suas atividades escolares. Roberto Silveira, que veio de Bom Jesus, foi um dos grandes protegidos do educador Plínio Leite, que uma vez por semana reunia todos os alunos no ginásio de esportes para uma palestra sobre temas atuais.

Num Estado onde campeia a insegurança e a violência em quase todos os lugares, é um privilégio abençoado morar na Villa Pereira Carneiro — um recanto de segurança, familiaridade e paz.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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