O prefeito Rodrigo Neves está na Espanha desde sábado (11/11). Viajou em meio à turbulência provocada pela delação premiada de seu marqueteiro, o publicitário Renato Pereira. Em Barcelona mostra em um congresso mundial suas “soluções inteligentes” para Niterói, como a Transoceânica e as câmeras de segurança que nada veem.
Renato Pereira denunciou aos promotores da Lava Jato que a prefeitura de Niterói contratou sua agência Prole através de licitação fraudulenta. Disse também que pagava propina mensal aos secretários municipais André Felipe Gagliano e Domício Mascarenhas. E disse mais: metade dos custos de campanha de Rodrigo a prefeito em 2012 foi paga através de caixa 2 de esquema organizado pelo ex-governador Sergio Cabral.
O prefeito viajou no sábado, mas somente na terça à noite (14/11) a assessoria de Comunicação da prefeitura divulgou nota informando que Rodrigo Neves participa em Barcelona do Congresso Mundial sobre Cidades Inteligentes, que termina dia 16/11. Levou na comitiva os secretários municipais de Urbanismo, Renato Barandier; de Conservação e Serviços Públicos, Dayse Monassa, e de Administração, Fabiano Gonçalves. Outras fontes informam que o ‘tour” deverá ser esticado até dia 21, véspera do feriado de fundação de Niterói.
Pelo expediente na prefeitura responde como prefeito interino o presidente da Câmara, Paulo Bagueira, já que o vice-prefeito eleito, Comte Bittencourt, foi licenciado do cargo até 31 de dezembro por decisão dos vereadores, para que não abrisse mão de seu mandato como deputado estadual.
Inteligência espelhada
Contrariando os maus resultados que vem obtendo em Niterói com projetos milionários como o das câmeras de segurança, dos sinais de trânsito computadorizados e da obra sem pé nem cabeça da Transoceânica, o prefeito disse em terras catalãs que “uma cidade inteligente é aquela que coloca as pessoas no centro do desenvolvimento, incorpora a tecnologia da informação e comunicação na gestão urbana e utiliza esses elementos como ferramentas que estimulam a formação de um governo eficiente”. Tudo o que não se vê em Niterói.
A Transoceânica já consome mais de R$ 400 milhões de empréstimos que os contribuintes terão que pagar durante os próximos 20 anos. Tanto dinheiro gasto para construir uma via exclusiva de ônibus que vai somente até Charitas, deixando sufocada a Estrada Francisco da Cruz Nunes, em muitos trechos sem calçadas, ciclovia nem área de estacionamento suficiente para atender o comércio local.
Construído por R$ 20 milhões, com câmeras e apoio logístico contratados à empresa espanhola ‘El corte inglés’, o Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), instalado em Piratininga deveria monitorar Niterói e apontar soluções para o trânsito, além de apoiar o combate à criminalidade. Como não foi instalada nenhuma rede de internet exclusiva para o Cisp, fizeram uma gambiarra pendurando a transmissão de dados das câmeras na rede da UFF, e a qualidade das imagens é ruim.
Também com dinheiro emprestado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Rodrigo Neves está gastando mais R$ 15 milhões para supostamente melhorar a mobilidade nos principais corredores viários de Niterói. Pelo projeto, 110 câmeras fariam o videomonitoramento das vias, pelo qual agentes de trânsito poderiam mudar o tempo dos sinais para acelerar o fluxo de uma via congestionada.
Painéis eletrônicos colocados na Alameda São Boaventura, Centro, Praia de Icaraí, São Francisco, Largo da Batalha e Região Oceânica fazem parte de um contrato de R$ 19,15 milhões assinado pela prefeitura de Niterói com a empresa Ineo do Brasil Engenharia e Sistemas para a implantação do Centro de Controle Operacional de Mobilidade sediado em Piratininga.
Essa “solução inteligente” de Rodrigo Neves, além de enfear a paisagem urbana não tem utilidade para os motoristas. Nos pontos em que estão instalados pouco serve a informação de “fluxo intenso” ou “pista interditada”. Os motoristas não têm alternativas para seguir por outro caminho. Se no acesso ao túnel do Cafubá em direção a Charitas, por exemplo, lhes é informado que o trânsito à frente está ruim, têm que se resignar e esperar pela melhora, pois não há outra opção. O mesmo acontece na Praia de Icaraí, na Alameda e no Largo da Batalha.
Pelo menos as “soluções inteligentes” de Niterói vão servir de mau exemplo para as outras cidades