Na história da imprensa brasileira, seu nome é uma referência destacada. José Alves PINHEIRO JUNIOR faz 90 anos neste sábado (16). Nasceu repórter desde quando veio de Cachoeiro do Itapemirim (ES) para Niterói. É jornalista dos bons há 72 anos, sempre buscando a verdade como a melhor notícia.
– Vivo o mesmo espírito do foca que se inaugurava aos 18 anos cheio de ideais humanos e de defesa da comunidade e do bem comum. Continuo acreditando que se pode mudar de opinião sem se despojar de princípios fundamentais. Esse escopo é posto à prova quando observamos que os senhores da mentira parecem haver tomado o poder – diz Pinheiro Junior a propósito das tão (mal)faladas fake news.
Nosso grande mestre vive até hoje a febre de notícias que, como conta em seu mais novo livro, agitava o fechamento das edições vespertinas de Ultima Hora. Foi ali no jornal de Samuel Wainer que, aos 18 anos, assinou sua primeira grande reportagem, “Juventude Transviada”. A série foi publicada em 30 edições do jornal, em 1955. Mostrava o comportamento dos jovens da Zona Sul carioca.
Inteligente, competente e sagaz logo passou para o comando do jornal sem perder a flama de repórter. Chefiou a redação de importantes órgãos de imprensa: Última Hora, O Jornal, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo, A Crítica de Manaus, O Fluminense e O Globo. E mais as revistas Manchete, Brasil Mais e Revista da Semana. Atuou nas tevês Globo, Rio e Educativa, sempre em funções jornalísticas. Produziu programas para as rádios MEC e JB.
Pinheiro é Imortal da Academia Fluminense de Letras, ocupante da cadeira 11, que tem como patrono José Clemente. Diz que “se rejuvenesceu escrevendo novelas e romances”. Sua obra mais recente, lançada este ano, é “A febre de notícias ao entardecer”. E já tem um outro em retoques: “A fúria da casa grande”.
– Mas minha fúria pelo romance se iniciou há muito tempo com “Mefibosete e outros absurdos”. Continuou com “A Última Hora (como ela era)”, “Bombom ladrão” e a cumplicidade de coautoria em “Aventuras dos meninos Lucas-Pinheiro”, “Voo de Ícaro” junto com Byafra (sobrinho), e o ‘Esquadrão da Morte”, com o repórter Amado Ribeiro. Ele próprio também é personagem do livro “Samuel Wainer – o homem que estava lá”, de Karla Monteiro.
Morador de uma vida inteira do tranquilo bairro de Fátima, em Niterói, mantém o faro apurado da notícia. Não deixa passar em branco um fato ou foto na sua frente. Ligado na internet, posta no Facebook ou manda pauta pelo Zap para algum companheiro em atividade.
A internet deu maior velocidade à comunicação, isto é inegável. Mas em quanto ela aumentou a responsabilidade do jornalista em checar com rapidez a informação? Pinheiro Junior diz como:
– Os senhores da mentira criaram uma espécie de subversão da verdade com versões oficiais que se chocam sempre com a capacidade do repórter de apurar os fatos reais e separá-los das distorções e ficções. Podemos estar lembrados que sempre foi mais ou menos assim. Agora, porém, parece que a mentira conquistou apoios tecnológicos capazes de interferir na apuração. É aí que entra o jornalismo de pesquisa e investigação, impondo ao repórter responsabilidades não maiores, porém mais refinadas. Como por exemplo fazer uso de ferramentas da internet, como o Google, com mais conhecimento e responsabilidade. Se antes as nossas preciosas enciclopédias impressas eram dóceis e estáticas, os imprescindíveis esclarecimentos para pesquisa agora exigem novas e aguçadas habilidades inclusive mentais. Eis então que o jornalismo se transforma em agente social que o projeta como “o quarto poder”.
Qual seria a relação das fake news de hoje com os antigos jornais sensacionalistas, aqueles que o povo dizia que se torcesse sairia sangue?
– A chamada imprensa amarela ou marrom do passado não se exauriu. Antes se converteu em ponta de lança do engodo e das fake news fazendo uso das redes sociais.
O repórter deve ser fiel ao fato ou à “verdade” do dono do jornal?
– A verdade nunca deixará de ser a melhor notícia, mesmo que haja interesse financeiro inconfessável em jogo. Donos de jornais sabem muito bem disso.
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