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Máquinas voltam a escrever na oficina de Luiz Cláudio, em Niterói

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Luiz Cláudio volta no tempo restaurando máquinas de datilografia

Em pleno século XXI, na era dos avançados equipamentos eletrônicos, o mecanógrafo Luiz Cláudio Rodrigues de Souza é uma raridade profissional. Hoje com 61 anos, desde os 13 trabalhou consertando e restaurando máquinas de escrever em uma pequena oficina no Centro de Niterói. Com a pandemia, levou a oficina para casa, onde atende pelo telefone (21) 99696-1045.

Aprendeu tudo com o pai Abel, que lhe ensinou a técnica, os segredos e os macetes para fazer a retificação do cilindro, o alinhamento dos tipos, a pintura e a lubrificação das máquinas de datilografia.

Luiz Cláudio acompanha a evolução do antigo ao moderno. Antes da chegada dos computadores e impressoras, trabalhou um período na autorizada da Olivetti. A empresa lhe proporcionou vários cursos manutenção de máquinas eletrônicas, em São Paulo, desde os tempos das chamadas “margaridas”, na década de 80.

Não há máquina que bata nas suas mãos que não saia funcionando. Pode ser da Olivetti, Remington, Facit, Royal ou IBM. Até hoje seus olhos brilham quando recebe uma máquina bem antiga para pintura, lubrificação, retificação do cilindro, alinhamento dos tipos ou troca de alguma peça que ele manda trazer de um fornecedor de São Paulo.

Um detalhe: muitos cartórios ainda usam máquinas de escrever antigas para consertar pequenos erros de datas ou de nomes, utilizando no final do ato cartorário o famoso “digo”. Recorrem até hoje aos serviços de Luiz Cláudio.

Ele lembra de máquinas que eram o bicho papão da época “pelos defeitos cavernosos”, termos usados pelos técnicos que levavam horas e às vezes dias para descobrir o problema. Uma delas era a elétrica Olivetti Tekne 3. Tinha uma peça chamada de âncora 20, apelidada de bailarina, “mas que era o bicho para encontrar o defeito”, diz Luiz Cláudio.

A soldagem dos tipos requeria muita paciência. Perdia muito tempo alinhando letra por letra até ter a certeza de que todas as teclas estavam com a tangência correta de maiúsculas e minúsculas. Para conferir se o alinhamento estava ok digitava a frase em inglês: “The Quick Brown Fox jumps over the lazy dog”.

Até em máquina de escrever com caracteres em hebraico Luiz Cláudio dava jeito. Lembra que um dia o Consulado de Israel mandou para conserto na oficina em que trabalhava no Rio uma de suas máquinas. O hebraico, assim como o árabe, é escrito da direita para a esquerda, ao contrário dos idiomas românicos, lidos da esquerda para a direita.

– A máquina era manual, estava com o cordão de puxar o carro quebrado e um tipo de letra solto. Aprovado o orçamento, consertaram na oficina a máquina que escrevia da direita para a esquerda. O caso é que, como ninguém sabia hebraico, botaram a letra soldada de cabeça para baixo. O cliente reclamou no dia seguinte, e eu reparei o erro – conta Luiz Cláudio.

Outra que também dava muito trabalho era a máquina de somar Olivetti Summa Prima. Por causa da alavanca que precisava ser acionada a cada parcela adicionada à conta, era apelidada de reco-reco.

Só em Niterói, terra do cacique Arariboia, a gente encontra um profissional do nível de Luiz Cláudio dando continuidade à profissão do pai e impedindo que a mecanografia seja extinta pela revolução tecnológica.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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