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Jornal O Fluminense deixa de circular em Niterói antes de completar 145 anos

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Uma notícia triste para os niteroienses. O Fluminense, um dos jornais mais antigos do país, fundado em Niterói em maio de 1878, está com a circulação suspensa desde o início de março, quando os funcionários pararam de trabalhar reclamando três meses de salários atrasados. O velho órgão de imprensa, como é conhecido no meio jornalístico, teve papel significativo nesses seus 144 anos cobrindo fatos marcantes da República, da velha província e da ex-capital do antigo Estado do Rio de Janeiro.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, Mário Souza, vai convidar os diretores do jornal para uma reunião a fim de esclarecerem a situação. Desde 2020, O Fluminense pertence a um grupo do mercado imobiliário e do segmento de shoppings centers.

Em sua redação figuraram nomes importantes da imprensa, como o fundador de O Globo, Irineu Marinho, Euclides da Cunha e Olavo Bilac. Suas páginas também abrigaram colunas de Rubem Braga, Marcos Almir Madeira e dos imortais da Academia Brasileira de Letas José Cândido de Carvalho e Marcos Lucchesi.

O jornal que era especializado em classificados, se expandiu depois que foi adquirido em 1954 pelo jornalista e deputado Alberto Torres. Ele comandou pelas décadas seguintes O Fluminense, criando um grupo de comunicação com as rádios Fluminense AM e FM.

Alberto Torres era um político udenista, foi deputado federal constituinte e deputado estadual por muitos anos. Era irmão de Paulo Torres, que governou o Estado do Rio de Janeiro, presidiu o Senado e foi deputado federal; e de Acurcio Torres, deputado federal por várias legislaturas.

Fundado em Niterói pelos majores da Guarda Nacional Francisco Rodrigues de Miranda e Prudêncio Luís Ferreira Travassos, em 8 de maio de 1878, inicialmente o jornal era publicado três vezes por semana, às quartas, sextas-feiras e domingos. A partir de 1892 passou a ser editado diariamente.

O Fluminense sempre foi uma espécie de faculdade prática de jornalistas, formando uma geração de profissionais que ocuparam e ocupam até hoje posições de destaque nos jornais, rádios e TVs de todo o Brasil.

Foi leitura obrigatória dos niteroienses, antes do café da manhã. Seus classificados se destacavam entre os leitores à procura de emprego ou em busca de comprar, vender ou alugar algum imóvel, além de acompanhar as notícias e os acontecimentos sociais da cidade.

A sua força de penetração sempre foi Niterói onde a cobertura da vida social teve como precursor o colunista Alarico Maciel, sucedido pelos meus amigos, o gentleman Carlos Ruas e, em seguida, por Estela Prestes, a rainha das socialites.

Na mais que centenária casa jornalística tive o privilégio de trabalhar ao lado de profissionais de alto nível e conviver de perto com o amigo Alberto Torres, diretor por uma vida inteira, dono de brilhante cultura, afável no trato que fazia questão de cumprimentar, quando chegava ou saía, todos os companheiros de trabalho, independentemente da função que exercessem.

Alberto Torres sentia prazer em descer à redação no final da tarde. Sentava-se em uma cadeira ao lado do editor Olegário Wangüestel Jr e, tirando uma caneta Bic do bolso do paletó, desprezava a máquina de escrever. Era um perfeccionista, usava várias folhas de papel até encontrar o texto perfeito e sem erros.

Fiquei sabendo que a valiosa pesquisa feita há anos pelo competente e imbatível Emanoel de Macedo Soares está sem condições de qualquer consulta, bem como a coleção de jornais e o arquivo fotográfico. Perde-se, com isso, a história que O Fluminense registrou em suas páginas ao longo de mais de 14 décadas.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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