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Jornal O Fluminense deixa de circular em Niterói antes de completar 145 anos

Escrito por Gilson Monteiro às 12:11 do dia 14 de março de 2023
Sobre: Pararam as máquinas
  • Jornal O Fluminense
14mar

Uma notícia triste para os niteroienses. O Fluminense, um dos jornais mais antigos do país, fundado em Niterói em maio de 1878, está com a circulação suspensa desde o início de março, quando os funcionários pararam de trabalhar reclamando três meses de salários atrasados. O velho órgão de imprensa, como é conhecido no meio jornalístico, teve papel significativo nesses seus 144 anos cobrindo fatos marcantes da República, da velha província e da ex-capital do antigo Estado do Rio de Janeiro.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, Mário Souza, vai convidar os diretores do jornal para uma reunião a fim de esclarecerem a situação. Desde 2020, O Fluminense pertence a um grupo do mercado imobiliário e do segmento de shoppings centers.

Em sua redação figuraram nomes importantes da imprensa, como o fundador de O Globo, Irineu Marinho, Euclides da Cunha e Olavo Bilac. Suas páginas também abrigaram colunas de Rubem Braga, Marcos Almir Madeira e dos imortais da Academia Brasileira de Letas José Cândido de Carvalho e Marcos Lucchesi.

O jornal que era especializado em classificados, se expandiu depois que foi adquirido em 1954 pelo jornalista e deputado Alberto Torres. Ele comandou pelas décadas seguintes O Fluminense, criando um grupo de comunicação com as rádios Fluminense AM e FM.

Alberto Torres era um político udenista, foi deputado federal constituinte e deputado estadual por muitos anos. Era irmão de Paulo Torres, que governou o Estado do Rio de Janeiro, presidiu o Senado e foi deputado federal; e de Acurcio Torres, deputado federal por várias legislaturas.

Fundado em Niterói pelos majores da Guarda Nacional Francisco Rodrigues de Miranda e Prudêncio Luís Ferreira Travassos, em 8 de maio de 1878, inicialmente o jornal era publicado três vezes por semana, às quartas, sextas-feiras e domingos. A partir de 1892 passou a ser editado diariamente.

O Fluminense sempre foi uma espécie de faculdade prática de jornalistas, formando uma geração de profissionais que ocuparam e ocupam até hoje posições de destaque nos jornais, rádios e TVs de todo o Brasil.

Foi leitura obrigatória dos niteroienses, antes do café da manhã. Seus classificados se destacavam entre os leitores à procura de emprego ou em busca de comprar, vender ou alugar algum imóvel, além de acompanhar as notícias e os acontecimentos sociais da cidade.

A sua força de penetração sempre foi Niterói onde a cobertura da vida social teve como precursor o colunista Alarico Maciel, sucedido pelos meus amigos, o gentleman Carlos Ruas e, em seguida, por Estela Prestes, a rainha das socialites.

Na mais que centenária casa jornalística tive o privilégio de trabalhar ao lado de profissionais de alto nível e conviver de perto com o amigo Alberto Torres, diretor por uma vida inteira, dono de brilhante cultura, afável no trato que fazia questão de cumprimentar, quando chegava ou saía, todos os companheiros de trabalho, independentemente da função que exercessem.

Alberto Torres sentia prazer em descer à redação no final da tarde. Sentava-se em uma cadeira ao lado do editor Olegário Wangüestel Jr e, tirando uma caneta Bic do bolso do paletó, desprezava a máquina de escrever. Era um perfeccionista, usava várias folhas de papel até encontrar o texto perfeito e sem erros.

Fiquei sabendo que a valiosa pesquisa feita há anos pelo competente e imbatível Emanoel de Macedo Soares está sem condições de qualquer consulta, bem como a coleção de jornais e o arquivo fotográfico. Perde-se, com isso, a história que O Fluminense registrou em suas páginas ao longo de mais de 14 décadas.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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14 thoughts on “Jornal O Fluminense deixa de circular em Niterói antes de completar 145 anos

  1. O Fluminense

    Uma pequena escola. Lembro que, junto a colegas do Liceu e antes de estudar Jornalismo na Uff, ajudávamos a apurar e a escrever uma página sobre Educação; saía nO Fluminense a várias mãos, nas terças. Era uma experiência, talvez a primeira que tínhamos em letra de forma e também a que nos moveu na direção de tantas laudas cometidas até há pouco (o mais novo de nós não tem menos de setenta e um). Lembro de Dona Vera (Vera de Vives, cronista e redatora), e do grande praça e editor Olegário Wengestel, ambos corrigiram o aspecto, e a cor, de nossos cueiros profissionais.

    Tudo recendia à madeira antiga das mesas e a chumbo, das oficinas. Era uma lúdica mistura de aventura e encantamento. Os anos no Brasil, diga-se, eram também de chumbo, isso acendia na gente aquele tesão de garotos pela política, liberdade e justiça social, tudo junto, tudo forte! Naqueles setenta, atravessamos então a ditadura, e uma, ainda, onírica pós-adolescência.

    Boas lembranças! Hoje, quando desaparece um jornal, vai com ele um pedaço da Civilização.

    Quem éramos? Alguns se foram: Martinho Santafé (que depois seria repórter do jornal), Wallace Greco, Elio Demier… Outros estão aí, Osvaldo Maneschy, Cezar Motta, eu…

    Eduardo Varela

  2. Quando dos 100 anos do jornal, em 1978, eu trabalhava na sucursal do O FLUMINENSE da Zona Oeste do Rio de Janeiro e também na Rádio Fluminense-AM. Tínhamos um caderno voltado para os fatos e acontecimentos da região e eu assinava uma coluna social onde a sociedade de Campo Grande, Santa Cruz, Sepetiba, Bangu, Mangaratiba, Itaguaí e outras da região nos prestigiava.
    Uma pena que o jornal tenha parado pois era uma folha importantíssima, não só para Niterói, mas para o Rio de Janeiro em si.
    Com a chegada da internet muitos jornais impressos pararam de circular. Eu mesmo mantive um jornal (A Trombeta-Jornal DeBolso) impresso até pouco tempo depois do início da internet e das redes sociais. Tive que parar. Hoje sigo nas páginas sociais, no youtube, Instagram e meu blog (debolso-web.blogspot.com) procurando levar informação e notícias para quem me segue nas redes.
    Vamos torcer para que o jornal O FLUMINENSE volte a circular.

  3. A era dos jornais impressos está acabando e quem não se adequou aos serviços digitais, infelizmente irá fechar as portas.
    Uma pena que os detentores do jornal “O fluminense” não tiveram esta visão.

  4. Frequentei muito a gráfica onde era produzidas as edições do jornal, minha madrinha tinha um cumpadre que era redator, (Figueiredo) se não me engano era na Dr. Celestino.Isto nos meados de 50.

  5. Realmente lamentável. Uma empresa que foi uma grande escola para tantos profissionais, com os quais tive o prazer de conviver entre 79 e 84 naquela grande família, pois assim era o Jornal O Fluminense!!

  6. Muito triste !!! Mas a era dos jornais impressos está no fim, e no caso do nosso amado O Fluminense. sua edição on-line era péssima !!! Faltou um bom gestor,!!!!,

  7. Lembro do meu avô. Comprava o jornal e ficava na barbearia o dia todo. A noite o jornal era disputado por todos quando ele chegava em casa. Décadas de 70, 80 e 90.

  8. O Jornal que marcou a vida de fluminenses e de cariocas também.
    No meu ponto de vista, uma pena a situação apresentada. O Fluminense, para além de um jornal que sempre contou a historia do estado do Rio e principalmente de Niterói, era um espaço de convergência entre novos e experientes jornalistas. Um espaço para a prática universitária na seara do jornalismo.
    Lembro de muitos jornalistas que demonstraram excelência em seus campos de atuação. Com artigos imprescindíveis no combate às injustiças de cunho social. Sem querer desmerecer outros tantos excelentes jornalistas que passaram por este veículo, peço licenca para citar um que marcou muito minha vida. Um daqueles que deixaram saudades com seus textos perspicazes, o jornalista Reinaldo Silva, que usou este importante veículo de comunicação como uma eloquente voz daqueles mais oprimidos.
    Espero que haja uma boa solução tecnologica e financeira, se for o caso, para o retorno deste grande Jornal ao convívio dos fluminenses.

  9. Meu Deus, até um Jornal que ajudou a fazer a história do antigo Estado do Rio virou moeda de troca de uma classe que, a meu ver, só visa o lucro? E não aparece uma autoridade pública, municipal, estadual ou federal – que só entende que ajudar um veiculo de comunicação social é por intermédio dos cofres – para ajudar a evitar que esse absurdo aconteça. Ótima a matéria lamento do Gilson.

  10. Triste fim de um jornal que realmente marcou Niterói,quer por suas notícias, quer por seus anúncios. Lembro muito do amigo de outras épocas sr. Carlos Ruas, que morou muitos anos no segundo andar do edifício Nobel, em frente ao Abel. Deixarão saudades.!

  11. É uma pena, que o surgimento de novas mídias possa ter sido um dos fatores que contribuiu para o fim do tradicional jornal ‘O Fluminense’. Nos últimos anos, a indústria da mídia passou por muitas mudanças significativas, especialmente com o aumento da popularidade da internet e das redes sociais.
    Muitas pessoas agora consomem notícias online, em vez de comprar jornais impressos, o que pode ter afetado a receita do jornal. Além disso, a concorrência com outras fontes de notícias online pode ter tornado difícil para o jornal manter sua relevância e atrair novos leitores.

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