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Itaipu virou favelão à beira mar

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Tempos atrás li que a praia de Itaipu ia ganhar um choque urbanístico de primeira linha. Até o decadente museu de arqueologia seria restaurado. Quem já viu o projeto de salvação de Itaipu garante que está para lá de deslumbrante, mas é só projeto, maquete digital, sonho, delírio.

O projeto deve estar mofando em alguma repartição a espera que a indolência se faça decência. É lamentável. Revoltante. Triste. Sei que a questão legal (fundiária) de Itaipu é confusa, complicada, muitas áreas do governo federal, outras do estadual, posses e encrencas jurídicas. Tudo bem. Mas, neste caso, por que fizeram tanto estardalhaço sobre a salvação de uma praia que está com o mar poluído e a faixa de areia ocupada até por barracos?

O nível de decadência da praia é melancólico, lambança geral. Por causa dos barcos que despejaram lama no fundo do mar (perto da Ilha do Pai), durante a dragagem do Porto do Rio, os peixes sumiram de Itaipu. As poucas pessoas que vivem lá graças a pesca tiveram que mudar de profissão ou abandonar Itaipu. Essa história dos barcos tipo “chatas” é polêmica até hoje porque, ne época, as autoridades ambientais juraram de pés juntos que aquela lama não continha nenhum resíduo tóxico. Já alguns ambientalistas sérios garantem que a lama era venenosa e acabou com os peixes na região.

Não é de hoje que Itaipu é a ovelha negra das praias oceânicas de Niterói. Enquanto Itacoatiara e Camboinhas são tratadas a pão de ló pelo poder público, Itaipu foi largada. Caso parecido aconteceu com Piratininga que também não tem do poder público o mínimo de carinho, dedicação. Só em época de campanha os candidatos aparecem nas duas praias com suas listas de promessas, são eleitos e somem de novo, para serem reeleitos depois pelos mesmos enganados que parecem esquecer que as promessas eram fumaça. Não consigo entender esse comportamento patológico desse tipo de eleitor.

Itaipu, praia que frequentava desde a segunda metade dos anos 80, (des) graças ao contínuo e corrosivo processo de “molambalização” tornou-se inviável. Logo aquela praia que tem um astral especial, espacial, é depositária fiel de grandes momentos afetivos que vivi (e com certeza vou continuar vivendo), enfim, Itaipu mora nos dois lados de meu peito.

Tenho muita coisa para falar de Itaipu, mas optei pelo silêncio das lembranças. Lembranças de ontem e de amanhã. Amanhã que pode sim, quem sabe, devolver a dignidade a esse ex-santuário que já orgulhou Niterói.

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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