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Incompetência e inércia transbordam em Niterói onde a culpa é da chuva

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Motoristas tiveram que esperar quatro horas para água escoar em Charitas, um problema que se repete há anos

A desculpa da Prefeitura de Niterói é sempre a mesma: choveu não-sei-quantos milímetros acima do esperado para o mês… O fato é que o contribuinte que paga um dos IPTUs mais caros do país precisa se conformar com a vontade de São Pedro, porque os “santos” municipais acreditam que o cidadão tem que aceitar o sacrifício de ficar horas preso no trânsito ou ter suas casas e lojas inundadas. As nuvens cumulus nimbus são o bode expiatório da incompetência e inércia que transbordam em Niterói.

Beneficiada por royalties bilionários do petróleo, a prefeitura gasta mal esse dinheiro. Mete bilhões de reais em obras faraônicas enquanto o contribuinte não vê a conservação da cidade. Bueiros entupidos, rede de drenagem velha e mal dimensionada para o crescimento da cidade contribuem para o caos. Depois de cada temporal, pás e vassouras só se veem nas mãos de moradores e comerciantes, quando era de se esperar uma força tarefa da Prefeitura com operários e garis na faina de limpar a sujeira do temporal.

Tudo isto é resultado da incompetência e inércia do poder público, que faz obras milionárias sem nenhum planejamento, como a Transoceânica que desemboca na praia de Charitas interditada por alagamentos crônicos agravados após a construção de uma garagem subterrânea atualmente sem serventia. Na tarde/noite desta terça-feira (07), motoristas que pretendiam acessar o túnel Charitas-Cafubá ou por ele seguiam da Região Oceânica para a Zona Sul tiveram que esperar quatro horas para a água baixar na Avenida Sylvio Picanço.

Moradores de Itacoatiara, por sua vez, precisaram esperar mais tempo até a água baixar, por volta da meia-noite de ontem, para entrar ou sair do bairro. Toda vez que chove, não importa qual seja o volume de água medido pelos pluviômetros, é assim. A prefeitura permitiu a construção de prédios que encobriram um riacho que dava vazão à água que desce do morro até a lagoa de Itaipu. O valão foi concretado e teve o acesso à lagoa impedido; daí basta qualquer chuvinha para ficar impossível passar pela cabine da PM na Avenida Mathias Sandri.

Em Charitas, uma ambulância certamente para salvar uma vida precisou subir no canteiro central da Sylvio Picanço e seguir na contramão. No Ingá, a Rua Presidente Pedreira e a Praia João Caetano viraram um rio caudaloso, cujas águas barrentas invadiram a Igreja de Nossa Senhora das Dores, lojas e garagens de prédios.

Em Icaraí, Santa Rosa, Fonseca, Largo do Barradas e em todos os outros bairros foi mantida a tradição das ruas alagadas, uma situação à qual os moradores, na visão das autoridades municipais, têm que se resignar e aceitar. Isto apesar das 65 secretarias da prefeitura repletas de apaniguados e dos mais de mil comissionados da Emusa, com altos salários, mas que só aparecem no fim do mês para receber o pagamento nos caixas eletrônicos.

Como observa um leitor da Coluna: “Ficar parado no trânsito porque choveu muito, ou por alguma outra calamidade, é caso de força maior. Agora, ficar parado por décadas de displicência do poder público e falta de ação dos órgãos controladores é piada”.  Ele lembra que o alagamento da Avenida Sylvio Picanço próximo ao Aeroclube tem mais de trinta anos. Com a construção da garagem a área inundada se expandiu até a porta do Restaurante Verdana.

O que se assiste em Niterói é o dinheiro público jorrado em shows milionários, obras políticas desnecessárias e uma Câmara de Vereadores apoiando toda essa sinecura em troca de cargos para seus cabos eleitorais. Só resta o Ministério Público entrar firme e forte usando todos os instrumentos de que dispõe para acabar com esse descalabro administrativo e financeiro que vem corroendo volumosa verba pública, sem nenhum retorno para o pobre do contribuinte.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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