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Coluna do LAM

Com porteiras abertas, passa a “boiada” do desmatamento em Niterói

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Morro do Preventório no começo do século 20 e como se encontra hoje tomado por construções

Nem o ecocida assumido, Ricardo Salles (ministro do meio ambiente), que se auto define ambientalista teria feito pior. Com a pandemia (que virou desculpa para tudo), o desmatamento e ocupações irregulares em Niterói avançam como se não houvesse amanhã. Literalmente.

A percepção de muitos cidadãos ganha sentido a medida em que a verdade é mostrada. Verdade para quem olha a pandemia ambiental de baixo ou de cima ou de cima para baixo, caso do supervisor de vendas Péricles Rocha Pires, horrorizado.

Ele viajava na ponte aérea e nos escreveu um e-mail, ano passado. “Niterói está sendo devastada, mansões, casebres, barracos avançando mata a dentro. Vejo muitas construções em clareiras, muitas…”.

Chamar de fake news, negar até o último pé de couve é a estratégia das autoridades responsáveis pela qualidade de vida (ou de morte) na tentativa de desmoralizar a verdade.

O Globo Niterói de domingo passado publicou uma reportagem de Leonardo Sodré intitulada “Ocupações irregulares avançam na pandemia” que revela o desprezo/descaso da prefeitura e do governo do estado com a questão ambiental e a ocupação do solo aqui na cidade.

Com o apagão da fiscalização durante a pandemia (a prefeitura chama de “otimização das rondas ostensivas de meio ambiente”), a cidade padece:

– Construções embargadas voltaram a ser erguidas, no Morro das Paineiras Altas, que fica dentro da Unidade de Proteção Integral do Parque Municipal de Niterói (Parnit) no Maceió, em Pendotiba.

Segundo moradores do condomínio Reserva Natural é intenso o movimento de entrada de caminhões com materiais de construção na área. Entram pela Estrada Pacheco de Carvalho. Os moradores dizem que estão construindo muito, fazendo puxadinhos.

– No alto do Pé Pequeno, Santa Rosa, parte da vegetação está sendo derrubada para a construção de imóveis ilegais. A matéria diz que no local mais de 30 casas foram interditadas depois das chuvas de 2010, mas muitas voltaram a ser ocupadas.

– No Morro do Preventório, em Charitas, existem cerca de 15 casas nas laterais de entrada do túnel Charitas-Cafubá que foram interditadas pelo município em 2016.

Há três anos foram ocupadas de novo e uma liminar que determinava a saída imediata dos moradores de uma das casas foi derrubada no último dia 14. A reportagem informa que entre outras justificativas o desembargador Horácio dos Santos Ribeiro Neto citou a pandemia para a permanência da família.

– As margens do Morro da Viração, no Cafubá, moradores denunciam a retirada de árvores em uma párea particular, dentro da Zona de Amortecimento do Parnit.

– Um morador do Vale Feliz, no Engenho do Mato, denuncia a ação de um grupo que vem invadindo propriedades da região, próxima ao Parque Estadual da Serra da Tiririca. São grileiros, invadiram a sua propriedade arrancando as cercas para fazerem loteamentos.

O morador alerta que “se não fizerem nada, vão desmatar tudo”. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), responsável pela fiscalização na área não respondeu a reportagem do Globo.

O fator ambiental ganhou tamanha dimensão no mundo que nenhuma cidade, estado ou país que permite descalabros ambientais consegue fazer negócios com governos ou corporações do mundo desenvolvido.

Por isso há um certo mal estar (na verdade é pânico não assumido) no governo federal com a devastação da Amazônia que pode negativar o Brasil junto a dinheirama mundial.

Em ano eleitoral, apelidado de “cio da ema” pelo folclore do planalto central, os ânimos se alteram, perde-se a cabeça e, por isso, começa a tentativa de demolição da verdade.

O caos ambiental de Niterói – desmatamento, morte da Lagoa de Piratininga, descaso com o lixão do Morro do Céu, etc – está entre as urgências que a prefeitura não atendeu. Ao lado do trânsito insuportável, da desordem pública que permite, inclusive, que centenas motociclistas circulem pela cidade sem canos silenciosos, transtornando a população.

Na área ambiental, não falta gente na prefeitura. Existem: Grupo Executivo para o Crescimento Ordenado de Preservação das Áreas Verdes (Gecopav), Secretaria do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Sustentabilidade, além do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Coman). Pelo visto, uma multidão. Quantos serão? Quanto custam por ano?

Ou perguntar é ofensa?

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Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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