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Boechat, o amigo de todas as horas

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Boechat menino, na praia de São Francisco; e com amigos numa das indispensáveis peladas

Ricardo Boechat era um ser humano tão grande, tão completo, que não haverá espaço suficiente para escrever sobre ele nas próximas décadas. Sua morte repentina me abalou tanto, que resolvo aqui rememorar meu convívio com essa pessoa extraordinária. Não vou falar do jornalista, noticiado pormenorizadamente pela imprensa nacional e estrangeira. Vou focalizar o homem de uma simplicidade franciscana, que gostava de estar perto das pessoas humildes, que não se impressionava com o poder, que não tinha medo de nada nem de ninguém.

Já no ensino médio no Centro Educacional de Niterói ele começava a se destacar e a diretora Myrtes Wenzel profetizava: “Esse Boechat vai longe!”

Morava numa casa pequena de madeira, em São Francisco, onde nasceram seus três primeiros filhos. Depois, teve mais três em dois casamentos. Só gostava de carro grande e velho para carregar a filharada nos fins de semana até um sítio que tinha na subida da serra de Teresópolis.

Muitas vezes fui socorre-lo com uma chupeta elétrica, porque o carro estava enguiçado com a bateria descarregada; ou levava até onde estava um borracheiro para reparar pneus, porque seu carro não tinha estepe.

O que gostava mesmo era de jogar peladas, nas areias de São Francisco ou em campinhos de futebol no Rio, que só interrompia quando alguém gritava: “Boechat tenho uma notícia quente para você”.

Certo dia me levou para jantar no Castelo da Lagoa. O dono, Chico Recarey, para agradar mandou servir escargot de entrada. Era novidade para nós dois. Foi uma tragédia. Quando colocávamos o talher naqueles caracóis, eles pulavam do prato. Boechat, rindo, disse: “Chico, muito obrigado, isso não é prato para gente da tribo de Arariboia, lá nós estamos acostumados a comer feijão com arroz”.

Foi ele quem me levou para O Globo. Por isso, quando Boaechat saiu do jornal, preparei um jantar surpresa, cozinhando eu mesmo em sua casa no Leblon, para reunir um grupo solidário com o querido amigo.

Com a sua saída do sistema Globo, no auge da carreira, ninguém acreditava que ele sobreviveria a tamanho baque.

Só mesmo Boechat, com seu talento, sedução, coragem, garra, incrível poder de comunicação, para dar a volta por cima e ficar mais forte do que antes, caso inédito no jornalismo brasileiro. Na Band News se tornou líder de audiência do rádio no Brasil por todos esses anos, além da credibilidade que passava no jornal da TV Bandeirantes.

Há 17 anos quando tive uma doença grave, Boechat apareceu lá em casa e me levou ao grande médico Gilberto Salgado, responsável por minha cura. Antes, cuidou de minha cirurgia na Casa de Saúde São José, usando todo o seu prestígio para que eu tivesse, como tive, um atendimento digno e de primeira linha.

Guardo muitos bilhetes do saudoso irmão, dentre eles, separei dois: “Ao querido Gilson, um amigo tão raro, quanto o hotel de que trata este livro”. É que a fila do lançamento do livro “Copacabana Palace,” de sua autoria, estava tão grande, que resolvi pegar depois o autógrafo dele no Jornal do Brasil.

Mais adiante, sem lembrar que eu já havia recebido um exemplar, me mandou outro com um bilhete:

“Querido Gilson,

É vergonhoso amigos como nós se verem e se falarem tão pouco.

Até o livro do Copa, autografado à época, está desde 1998/9 esperando para ser entregue.

Lá vai ele, com saudades, Boechat”.

Filho excepcional, que o diga dona Mercedes, pai amantíssimo e dedicado, irmão incondicional, marido amoroso, companheiro solidário, amigo em todas as horas, deixa todas essas qualidades, difíceis de serem encontradas nesse mundo, onde o celular é a coisa mais importante.

Numa das peladas de futebol que não perdia por nada, Boechat machucou a perna e eu levei a sua casa o ortopedista Ledio Maia. Quando o médico disse que precisava levá-lo ao Hospital São Lucas, para tirar um Raios X, com seu bom humor habitual retrucou: “Doutor, jornalista não pode ser engessado, ainda mais em época de revolução”. O médico mandou colocar apenas uma atadura e ficou tudo certo.

Quando nos encontrávamos em qualquer lugar ele soltava o bordão :

“Gilson Monteiro, de Niterói para o mundo inteiro”.

Boechat, eu fiquei no território fluminense, mas ao irmão que se projetou nacional e internacionalmente, digo agora no seu adeus:

Ricardo Boechat de Niterói para o mundo!

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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