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Leiteria Brasil, um ponto de convívio social que deixou saudades em Niterói

Escrito por Gilson Monteiro às 17:42 do dia 17 de abril de 2020
Sobre: Memorabilia
  • Leiteria Brasil
17abr

Leiteria BrasilCom quase todo mundo confinado em casa, os mais velhos ficam remoendo o passado e pedindo para a Coluna relembrar lugares de Niterói que marcaram suas vidas e deixaram saudades. Um desses lugares de grande convívio social era a Leiteria Brasil, no primeiro quarteirão da Rua da Conceição, no Centro. Funcionou de 1936 a 2002, onde hoje está a Casa Pedro.

A casa abria cedo para o café da manhã e fechava às 2h da madrugada, para atender os notívagos. O movimento na Leiteira Brasil era o dia todo, com a frequência de gente de todas as camadas da sociedade.

O desjejum era frequentado, na maioria, por lojistas, empresários, profissionais liberais, funcionários públicos e bancários. Eles aproveitavam a variedade da primeira refeição, com leite puro, pão fresquinho, queijos variados, ovos poché, frutas da estação, coalhada imbatível, torrada Petrópolis e outras guloseimas.

O almoço era também concorrido, com um cardápio leve e pequeno. A preço justo servia-se o filé a cavalo, com ovos, arroz e batata frita; o picadinho a americana, com carne, purê e arroz; o filé de peixe a americana, com o mesmo acompanhamento; o filé à francesa, com arroz e batata frita.

Na parte da tarde, as mães e as avós levavam os filhos e netos para o milk shake ou a banana split com três bolas de sorvete e cobertura de calda de chocolate, morango ou caramelo. Já os adultos tinham a sua disposição chás variados, sucos de frutas, cremes de amido e milho, mingau de aveia, arroz doce, além de sanduíches, bolos, pudins, gemadas, biscoitos e o sanduíche americano.

À noite, tribos variadas ficavam até a casa fechar. Eram estudantes, que depois viraram advogados, médicos, dentistas, professores, jornalistas, funcionários públicos. Eram de todas as ideologias e correntes partidárias, mas predominava a turma da esquerda, na cidade sede do Partido Comunista.

Tinha um garçom, o Nelson, que trabalhou uma vida inteira e virou lenda de bondade. Ele se tornou amigo dos universitários frequentadores, que pediam sempre o prato mais em conta e saboroso, que era carne moída, arroz, purê e ovo. Quando alguém não tinha dinheiro, o prestativo garçom dava sempre um jeito, arrumando um freguês para patrocinar o prato de comida.

Frequentadores assíduos

Sentaram-se nas mesas daquela histórica Leiteria Brasil, para conversar sobre política e amenidades, muita gente que brilhou nas mais diversas atividades, como Roberto Silveira, que se elegeu governador do Estado do Rio de Janeiro.

Tinha um grupo assíduo, que frequentava a casa de segunda a sábado, porque domingo ela não abria. Era a turma do sereno, que quando a Leiteria arriava as portas, saiam caminhando poucos metros até a Praça Martim Afonso e ficavam sentados ao pé do busto de Arariboia. O bate-papo ia longe, às vezes continuava em uma travessia de barca até o Rio, onde a turma ia comer o angu do Gomes, na Praça XV.

Revezavam assentos em dois grandes bancos da praça, onde se comentava de tudo o que acontecia na terra do cacique temiminó, figuras que fizeram história na ex-capital fluminense, como os ex-deputados Claudio Moacir, João Galindo e Afonso Celso Monteiro; os jornalistas João Luiz Faria Neto, Jourdan Amora, Rogério Coelho Neto e Continentino Porto; o delegado de Polícia Roulien Pinto Camilo; advogados Marlo Fabiano Seixas, Nilton Flacks, Célio Junger, Luiz Carlos Silva e Walter Ventura; e mais Orlando Carlos Navega, Amaro Pessanha, Arilo Oliveira, Joaquim Metralha, Marcos Clemente Cesar Filho e muitos outros que serão lembrados pelos leitores nos comentários.

Esvaziamento do Centro

Com a construção do terminal João Goulart e a inauguração do Plaza, os ônibus passaram a sair e a chegar naqueles dois novos pontos do Centro, acabando com a parada que havia nos dois primeiros quarteirões da Rua da Conceição.

Foi aí que começou o esvaziamento da rua tradicional. Fecharam três pontos de encontro de quem ia para a Zona Sul: a Leiteria Brasil; do outro lado A Sportiva, que tinha na frente um balcão  de vidro aquecido com os melhores salgadinhos; e ao lado a Farmácia Ponciano. Esta era procurada também por quem precisava tomar injeção. A equipe de seu Acácio, um português simpático, dono da farmácia, tinha a fama de aplicar a agulhada sem que o cliente sentisse fisgada alguma.

O boom imobiliário de Icaraí provocou ainda mais o esvaziamento da Rua da Conceição. Mudaram-se para a Zona Sul profissionais liberais, empresas e lojas, como a Construtora Pinto de Almeida e a Grand Joias.

Niterói tinha esperança de ver acontecer a tão falada revitalização do Centro. Só que, que pelo andar da carruagem, esse projeto já foi para as calendas gregas.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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15 thoughts on “Leiteria Brasil, um ponto de convívio social que deixou saudades em Niterói

  1. Bela lembrança. Um amigo no Porto em Portugal me enviou o seu artigo, voltei à época de 1978/82. Abs.

  2. Era frequentador assíduo, gostava muito do lanche que ficava ao lado do caixa , pão com goiabada e açúcar por cima e pão com queijo em pedaços, eram dois tabuleiros grandes com plásticos trampando eles saudades

  3. Lanche obrigatório na Leiteria Brasil com os colegas do Liceu: banana split com 3 bolas de sorvete e calda de chocolate. Doces lembranças

  4. Caro Gilson. Esse seu post fez um bem danado, ainda mais nesses tempos de isolamento. Fiquei com uma vontade doida de saborear aquela coalhada maravilhosa. É uma torrada Petrópolis.

  5. Eu quando mais novo ia á Niterói pra jogar videogame em frente a leiteria Brasil,e depois ia comer um lanche,muito bom,saudades!

  6. Sou de 63, a Lembrança da leiteria Brasil abre um estuário de saudades gastronômicas: a média de café com leite acompanhada das torradas Petrópolis (sempre repetidas); a lingua com purê de batatas; o milk shake de flocos, para o lanche da tarde; e a canja de galinha (sobretudo nas noites frias de inverno. <3

  7. Na década de 80 quando fazia pré vestibular no curso Acadêmico, (onde hoje funciona o Plaza ), a canja de galinha da leiteria era o meu jantar , alem do mingau de aveia e torrada Petrópolis nos lanches a tarde . Memória afetiva.

  8. Frequentei muito a L. Brasil, mas lembro também da Casa Borges (ferragens) Cada das Linhas( minha mãe contureira), Banco Mercantil de Niterói, mais antiga de todas, naquela época, a Confeitaria Luso-Brasileira. Sou genro de Murilo Guedes, também grande frequentador da L.Brasil. tenho hoje 85 anos, por isto lembro-me, feliz de tudo e quase todos ora lembrados!

  9. Gilson, parabéns por lembrar os tempos da Leiteria Brasil. Eu fui frequentador assíduo do inesquecível estabelecimento. Só lamento vc não ter mencionado a famosa é excepcional “canja de galinha”, minha refeição predileta. Eu nem precisava fazer o pedido. O Nelson já dizia para mim: “sua canja já vai sair…” Que Saudade. Forte abraço.

  10. Passei anos da minha vida encontrando meu saudoso pai na saída do trabalho e fazíamos dois programas aos sábados. Cinema Central e lanche na Leiteria Brasil, que tinha a melhor coalhada e o melhor mingau de maizena que comi na vida. Tudo lá era maravilhoso, desde uma simples média de café com leite, até as famosas torradas Petrópolis. Isso sem falar no arroz doce, que traz até hoje água na boca!!! Muitas saudades e boas lembranças!!

  11. Valeu Gilson, parabéns e obrigado por nos trazer notícias daquela Niterói antiga em seus escritos. Te acompanho, morando em Curitiba-PR.

  12. Eu quando voltava do Rio na parte na noite, costumava passar por lá e saborear a deliciosa canja de galinha com torradas Petrópolis.

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