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Uma volta no tempo com o Le Petit Paris, berço da MPB em Niterói

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Foto de Angela de Vasconcellos Ramos/1967

Com esse confinamento compulsório em casa, sem tempo certo para acabar e com a massificação do noticiário sobre o coronavírus, a gente acaba pirando de vez se não ocupar a mente com outras notícias. Por isso a Coluna resolveu lembrar um lugar onde a alegria reinava e foi point da boa música, gastronomia internacional, boemia e da sociedade de Niterói. De lá saíram artistas para brilhar no Brasil e no exterior nas décadas de 50 e 60.

O Le Petit Paris, que a turma da antiga recorda foi aberto por três franceses: o casal Brigitte-Raymond com Paul. Contavam com o inestimável apoio do baixinho Rubens Ferah. Este tinha o francês afiado na língua e deu todas as dicas e apoio para a casa de três quartos e um varandão ser transformada num restaurante em frente à Praça Getúlio Vargas, próximo do Cinema Icaraí.

Festa toda a noite

Para se ter uma ideia, tudo começou quando Sérgio Mendes, então com 16 anos, chegava com seu teclado debaixo do braço para tocar acompanhado pelo seu parceiro, o contrabaixista Tião Neto. Tocavam à noite, recebendo de cachê, cada um, dois cubas livres e batatas fritas. Tanto Sérgio como Tião viraram celebridades da música internacional.

A partir daí começou a festa, com outros craques chegando para dar canja, como o famoso cantor, compositor e arranjador Danilo Caymmi, o percussionista Naná Vasconcelos, eleito oito vezes, o melhor do mundo, o premiado percussionista, baterista e compositor Chico Batera, referência no baixo elétrico, era requisitado, pelo grandes cantores, o conhecido violonista Silveira, a turma do destacado MPB4, com Aquiles, Miltinho, Rui e Waghaby.

A princípio, o cardápio sofisticado incluía pratos tradicionais da culinária francesa, oferecendo como entrada Les crevetettes a St. Tropez. Os pratos mais pedidos eram o Le coq au vin, Le poulet farci, Le poisson a la Saulieu. Nas sobremesas, para alegria das mulheres, mousse au chocolat  e La mousse au  fruits, feitos pela madame Brigitte.

Com o tempo, foram incorporados os pratos da culinária brasileira.

Os drinques, viraram uma mistura das bebidas francesas e brasileiras, uns preferindo licores e outros batidas de limão.

Corriam também fofocas como a de que alguns pais, frequentadores do Le Petit, para não serem vistos bebendo ali à noite, proibiam as filhas de passarem pela calçada. As moças tinham que passar pela praça em frente.

O simpaticíssimo Rubens Ferah permaneceu fiel à casa, desde a abertura até o seu fechamento, quando por longo tempo, virou sócio de Roberto Lacerda Precht, uma figura bonita e popular, que tinha o apelido de Andarilho.

A Praia de Icaraí 139, que foi palco de muita noitada, canjas musicais, momentos de descontração e de alegria, início e fim de muitos namoros, e de todo tipo de comemoração, virou o edifício Modigliani. Hoje, a maioria de seus moradores desconhece que a casa que deu origem ao prédio de apartamentos, guarda uma história da música nacional e internacional, numa época em que a cidade tinha pouca opção de lazer e de gastronomia.

Nesse momento de tanta aflição, um brinde à saúde e à vida.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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