Sobrevivente do incêndio do Gran Circus Norte-Americano, tragédia que na quinta-feira (17/12) completa 59 anos, Maria José de Oliveira Pedroza, moradora de São Gonçalo, ainda espera receber indenização pelo sofrimento que ela e sua família passaram. Zezé Pedroza, como gosta de ser chamada, teve 90% de seu corpo queimado (queimaduras de 3º grau). Ficou 20 dias em coma e oito meses internada, passou por 15 cirurgias para recuperar algumas partes do corpo. O pai precisou vender tudo o que tinha para salvar sua vida. O fundo de assistência prometido pelo governo estadual às vítimas, ninguém viu.
Há dez anos, Zezé lançou um livro com sua biografia. “Vidas em Chamas” narra as lembranças mais doloridas da sobrevivente através da personagem Natali. A autora traça um paralelo entre os ancestrais da época da escravidão, perpassando por uma análise do cenário político-econômico do Brasil antes e depois da tragédia. Os dois capítulos que narram, com detalhes, os momentos em que esteve dentro do circo em chamas ficam no meio do livro.
No dia 17 de dezembro de 1961, o incêndio do Gran Circus Norte-Americano matou cerca de 500 pessoas e deixou outras 120 mutiladas, além de dezenas que foram obrigados a conviver com marcas profundas e permanentes, físicas e psicológicas.
— Ainda hoje eu revivo aquele horrível momento; a multidão correndo em uma só direção, caindo e sendo pisoteados. Eu estava lá! Mas sobrevivi para contar a minha história de superação. E nem poderia esquecer esse dia que transformou a minha vida, meu viver e minha aparência. Vidas em Chamas, conta com detalhes o meu sofrimento, mas também fala de como dei a volta por cima e conquistei tudo que diziam que eu jamais conseguiria. Não é difícil ser feliz, basta se aceitar – diz Zezé Pedroza, que se formou professora.
A mãe dela deu entrada em uma ação indenizatória, em 1962, cobrando danos morais e materiais. Zezé lembra que foi chamada para diversas audiências, ocorridas onde hoje funciona a biblioteca judiciária, no Centro de Niterói. Em 1976 ela resolveu procurar pelo advogado contratado por sua mãe. Não achou nem ele nem o processo.
Durante anos ela fez buscas em cartórios distribuidores de Niterói, São Gonçalo e Rio de Janeiro, em vão. Até que em 2016, Zezé Pedroza encontrou seu processo. Foi então que descobriu ter perdido a causa, já que nem o município de Niterói, nem o estado do Rio de Janeiro, nem o Governo Federal se responsabilizaram pela tragédia na época, alegando que o incêndio fora criminoso. Também não recebeu o valor que cabia a ela do “Fundo de Assistência às vítimas do incêndio em Niterói”, decretado e divulgado no Diário Oficial de 19 de dezembro de 1961 pelo então governador Celso Peçanha.
A professora não desistiu de receber uma indenização. Com a ajuda de outro advogado, o processo foi refeito. Há cerca de dois anos está na lista de processos especiais de direitos humanos da ONU. “Foram tantas lutas! Tantas dores e perdas! Sempre fomos pobres, entretanto meu pai vendeu tudo o que tinha para salvar minha vida. Depois do que aconteceu comigo, não posso deixar de ser feita a justiça dos homens em minha história”, finalizou.
Casos desse tipo o STF e outros tribunais nunca têm tempo para ver pois advogados caros não estão a cuidar do caso. Absurda, inaceitável e inexplicável tal lentidão (ou descaso?) do judiciário.
O sofrimento físico, psíquico e espiritual é muito grande ao longo destas décadas todas. Mas certamente não foi 90% de área queimada, pois isso é incompatível com a vida. Deve ser por isso que Processo foi indeferido, por falta de um laudo técnico correto.
Como é possível?????