Rodrigo Neves quis que empresas de ônibus bancassem sua campanha à reeleição na prefeitura de Niterói “em troca de uma contrapartida”, revelou o marqueteiro Renato Pereira em sua delação ao Ministério Público Federal. Este tipo de envolvimento de políticos com empresários de ônibus já levou à cadeia três poderosos deputados estaduais: Jorge Picciani, Paulo Mello e Edson Albertasi. Tiveram a prisão em flagrante decretada pelo Tribunal Regional Federal (TRF-2), por decisão unânime de cinco desembargadores.
Renato Pereira, que denunciou fraude na contratação de sua agência para administrar a publicidade da prefeitura de Niterói durante os últimos quatro anos, e por isso ter pagado propina mensal a dois secretários municipais (André Felipe Gagliano Alves e Domício Mascarenhas), contou que Rodrigo Neves quis contratá-lo para fazer a campanha de 2016.
Na campanha de 2012, segundo o marqueteiro, sua agência Prole Serviços de Publicidade recebeu metade dos R$ 8 milhões contratados através de um esquema de caixa 2 organizado pelo ex-governador Sergio Cabral. Com a Lava Jato em curso, em 2016 ele diz que não aceitava mais receber por caixa 2.
A Prole cobrou R$ 7 milhões, mas Rodrigo Neves disse que só poderia pagar “por dentro” R$ 3 milhões. O restante poderia ser bancado pelas empresas de ônibus de Niterói, em troca de uma contrapartida.
Na delação feita ao MPF, o publicitário afirma o seguinte:
“Diante da impossibilidade de fazer a campanha por tal valor, passei a oferecer outras opções pois não queria receber valores não contabilizados. Nesse momento, presenciei Neves questionar Domício (Mascarenhas, secretário de Obras) sobre a possibilidade de as empresas de ônibus de Niterói arcarem com a despesa, caso a prefeitura atendesse determinada demanda deles, ao que o secretário respondeu não saber.”
Com a recusa de Pereira receber por fora ele acabou sendo subcontratado por outra agência que ficou à frente da campanha de reeleição de Rodrigo Neves.
Ônibus caro
As tarifas de ônibus de Niterói são as mais caras do país, considerando o percurso pequeno da maioria das linhas que operam na cidade. Independentemente da distância, todas cobram R$ 3,90 pela passagem, enquanto no Rio de Janeiro custam agora R$ 3,40 e os ônibus percorrem distâncias muito maiores do que as linhas de Niterói.
Em abril de 2015, também em viagem à Espanha com alguns secretários municipais, Rodrigo Neves negociou a compra de um sistema de câmeras de monitoramento, pagando R$ 20 milhões à empresa El corte inglês. Até hoje, o Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), instalado em Piratininga não consegue inibir nem mesmo os assaltos que acontecem a poucos metros de sua sede, em Piratininga.
Na ocasião, Rodrigo e o então secretário de Ordem Pública, Marcus Jardim, conheceram um sistema de vigilância implantado em cerca de dois mil ônibus de Madri, que pretendiam trazer para Niterói.
Curioso, mas não havia uma única denúncia de corrupção ativa ou passiva contra Dilma Roussef (ela caiu por atos administrativos), e houve uma mobilização impressionante para exigir seu afastamento imediato, o que acabou ocorrendo. Já contra o prefeito de Niterói há várias, uma após a outra, e não vejo mobilização alguma para sequer sugerir seu afastamento. Será que Dilma foi vítima de alguma espécie de misoginia? Porque somos mais intolerantes com uns e lenientes com outros? Qual o critério?