Um problema de saúde pública silencioso — mas de proporções alarmantes — atinge a Região Metropolitana II do Rio de Janeiro, que abrange municípios como Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Tanguá, Rio Bonito e Silva Jardim. Estima-se que mais de 380 mil pessoas nessa área convivam com algum grau de perda auditiva. Destas, cerca de 40 mil apresentam surdez severa, o que as torna candidatas ao implante coclear, um dispositivo eletrônico que pode restaurar significativamente a audição e está previsto nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar de contar com estrutura hospitalar de alta complexidade e equipe especializada, o Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), em Niterói, segue sem habilitação para realizar cirurgias de implante coclear pelo SUS. A ausência de apoio das esferas municipal e estadual tem impedido que centenas de pacientes da região tenham acesso a um tratamento que pode transformar vidas.
O Dr. Denis Rangel, coordenador do Ambulatório de Saúde Auditiva do HUAP e médico do Serviço de Otorrinolaringologia, faz um alerta contundente: “Não pode ser aceitável que uma das cidades mais ricas do Brasil e um dos estados mais ricos do país apresentem números tão deficientes em saúde auditiva pelo SUS, mesmo tendo um hospital com capacidade para oferecer esse atendimento.”
Segundo dados do SUS, em 2024 foram realizadas apenas 25 cirurgias de implante coclear em todo o estado do Rio de Janeiro — todas no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ), atualmente o único serviço habilitado pelo SUS. O HUAP, por sua vez, tem capacidade para realizar mais do que os 24 procedimentos anuais exigidos para habilitação como centro de alta complexidade.
“Com outro serviço habilitado, dobraríamos os números no estado. Mas seguimos sem qualquer sinalização das autoridades locais”, lamenta o médico.
Em 2022, o Rio de Janeiro foi o segundo pior estado em número de implantes cocleares por milhão de habitantes (1,84), atrás apenas do Pará. A média nacional é de 4,3 por milhão, e o Rio Grande do Norte lidera com 12,43 por milhão.
O HUAP é reconhecido como uma das principais unidades hospitalares do estado, com perfil voltado para casos de alta complexidade. “Temos estrutura semelhante a outros hospitais universitários do país. Precisamos adaptar nosso serviço de saúde auditiva para oferecer dispositivos de alta complexidade, como o implante coclear, para tratar perdas auditivas severas e profundas”, explica Rangel.
Apesar de atender e encaminhar pacientes com indicação para o procedimento, nenhum morador da Região Metropolitana II foi implantado pelo SUS em 2024. “Sabemos que há candidatos. Nós os atendemos e encaminhamos. Mas não há resposta da regulação”, afirma.
Questionado sobre o envolvimento dos gestores públicos, o coordenador é direto: “Não tivemos ainda sinalização das esferas municipal ou estadual. Para nós médicos, é muito triste não termos o que oferecer aos nossos pacientes, mesmo sabendo que temos capacidade para isso.”
A ampliação da oferta de implantes cocleares no estado não é apenas uma questão de acesso à tecnologia, mas de inclusão social, educacional e profissional. Crianças com surdez profunda que não recebem o implante em tempo hábil podem ter atrasos irreversíveis no desenvolvimento da linguagem. Adultos e idosos, por sua vez, enfrentam isolamento social, dificuldades no trabalho e maior risco de depressão, acrescenta o otorrino.
A habilitação pelo SUS do Antonio Pedro para realizar implantes cocleares depende, inicialmente, do aval das esferas municipal e estadual. Com esse apoio, o hospital poderá avançar para a habilitação federal, junto à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), que administra a unidade.
“Nós, do serviço de Otorrino do HUAP/UFF, estamos prontos para ajudar nossa população. Mas precisamos que os gestores nos escutem. O silêncio institucional não pode continuar sendo a resposta para quem já vive em silêncio por falta de audição”, conclui o médico.
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