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Overdose de farmácias e drogarias domina pontos comerciais de Niterói

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“Vai abrir uma farmácia”, dizem logo quando veem algum comércio fechar em Niterói. A cidade, assim como quase todo o país, experimenta uma overdose de farmácias e drogarias. Já são cerca de 290 ocupando esquinas e ruas principais em cada bairro. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma farmácia para cada oito mil habitantes. Para atender a população de 513 mil niteroienses, 64 seriam suficientes.

Em Icaraí, somente na Rua Gavião Peixoto estão instaladas 18 farmácias (quatro de manipulação). A ocupação das esquinas da cidade não poupa postos de gasolina (como o que funcionava na esquina de Miguel de Frias com Avenida Roberto Silveira), nem o ginásio de esportes do antigo Colégio Batista, na Rua Tiradentes.

Automedicação e genéricos na veia

A profusão de farmácias e drogarias não é privilégio de Niterói. O Brasil ocupa hoje o sexto lugar no ranking mundial do mercado farmacêutico (liderado por Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França). Até 2022, a projeção é a de que ocupará o quinto lugar, com faturamento anual de R$ 35 bilhões, segundo a IQVIA (multinacional americana, auditora do mercado farmacêutico).

O crescimento desse mercado farmacêutico no país deve-se — além de a automedicação ser um costume arraigado à cultura do brasileiro — à aprovação em 2014 da Lei 13.021, pela Câmara dos Deputados. Graças a ela, as farmácias deixaram de ser um estabelecimento meramente comercial, passando a ser “unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva”. 

A intenção do legislador teria sido a de prestigiar o farmacêutico, como um profissional com atribuições clínicas, preparado para o pronto atendimento da população, orientando os pacientes ou encaminhando à assistência médica, quando for o caso. Mas a abundância de novas farmácias acabou esvaziando consultórios médicos, como se queixam principalmente os clínicos gerais.

A variedade de oferta de cosméticos e produtos de higiene pessoal também faz aumentar o faturamento, ao lado da venda de medicamentos isentos de prescrição médica (que representam o maior volume de negócios). Some-se ainda o crescimento da venda de medicamentos genéricos (15,7%, segundo dados do Sindusfarma). Os genéricos, com preços 35% mais baratos que os remédios de marca), participam com uma fatia de 32% do mercado farmacêutico.

Adeus ao fiado e à injeção de grana

Antigas farmácias de bairro, para não sucumbirem ao surgimento de grandes redes, reúnem-se hoje em redes associativistas e independentes para conseguir da indústria farmacêutica melhores preços e condições de pagamento. O modelo associativista, segundo dados da IQVIA, em junho de 2019 somou um faturamento de R$ 12,96 bilhões em doze meses, crescendo 11,94%, em comparação com o período anterior.

Ainda segundo a IQVIA, o mercado farmacêutico global ultrapassará US$ 1,5 trilhão até 2023, crescendo a uma taxa anual de 3% a 6% nos próximos cinco anos. O negócio bilionário no Brasil tem provocado fusões de grandes redes, como a Raia que se juntou a Drogasil em 2011. São 1,9 mil lojas no país que faturaram R$ 16,1 bilhões nos 12 meses de balanço encerrado em 31 de março deste ano. Em agosto, a RD adquiriu 100% do capital da Drogaria Onofre, de olho na expansão do e-commerce. Sua mais nova loja acaba de ser inaugurada no Ingá, na esquina da Rua Tiradentes com a Visconde de Moraes.

Em Niterói, foi-se o tempo do caderninho de fiado e a prestimosidade de farmacêuticos como Seu Moacir, que atendia moradores do Ingá, Boa Viagem, São Domingos, Gragoatá e até de Icaraí. Sua Farmácia Medina, na Rua Presidente Domiciano, era também o pronto-socorro financeiro de clientes que precisavam de uma “injeção de grana” e, em fins de semana, conseguiam ali trocar cheques por dinheiro, numa época em que não existiam os caixas do Banco 24h nem as fintechs agora acessadas por smartphones.

Gilberto Fontes

Repórter do cotidiano iniciou na Tribuna da Imprensa, depois atuou nos jornais O Dia, O Fluminense (onde foi chefe de reportagem e editor), Jornal do Brasil e O Globo (como editor da Rio e dos Jornais de Bairro). É autor do livro “50 anos de vida – Uma história de amor” (sobre a Pestalozzi), além de editar livros de outros autores da cidade.

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