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Orêncio de Freitas: hospital enjeitado pela prefeitura é dirigido na base do amor

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Hoje vesti o blazer azul marinho e botei gravata para subir o Morro dos Marítimos. Fui ao Orêncio de Freitas visitar a diretora Célia Maria de Freitas, uma médica com doutorado em servir ao próximo. Encontrei-a percorrendo as enfermarias, fazendo a visita aos pacientes (foto).

Enjeitado pela prefeitura de Niterói, o hospital fundado em 1937 por iniciativa de operários e moradores do Barreto está prestes a ser reduzido a uma simples unidade de apoio a outros hospitais do município, como o Getulinho e o Oceânico, geridos por dispendiosas organizações sociais de saúde.

Referência em cirurgias do aparelho digestivo, o Orêncio de Freitas funciona graças à abnegação de sua diretora, dos médicos, residentes e funcionários. Da Secretaria de Saúde de Niterói o hospital que faz cerca de 250 cirurgias por mês recebe R$ 19 mil mensais para compras emergenciais de medicamentos, materiais hospitalares e despesas miúdas de pronto atendimento.

Apesar de ser um hospital de excelência, recebe da prefeitura o mesmo tratamento dispensado a um simples posto de saúde. Já as OS que administram os hospitais Getulinho, no Fonseca, e Oceânico, em Piratininga, estão sendo remuneradas, este ano, com R$ 44,8 milhões, e R$ 100 milhões, respectivamente.

Doutora em medicina social

Com seu jaleco branco bem passado, mas sem vaidade nenhuma, Célia Maria conta que o hospital tem hoje 78 leitos. Já pediu a atual administração municipal para ampliar a capacidade para 100 leitos e aumentar o CTI de quatro para dez vagas.

— Temos que pensar no futuro e passar a fazer cirurgia robótica, acompanhando a modernidade, afinal praticamos uma medicina social – diz com seu jeito tranquilo a doutora Célia.

A diretora lembra que o Orêncio é um hospital-escola respeitado e credenciado pelo Ministério de Educação. Por longos anos seu Centro Cirúrgico foi chefiado pelo dedicado e competente mestre Guilherme Eurico; na chefia da Clínica Médica esteve o renomado professor Agnaldo Zagne. Os dois formaram gerações de excelentes profissionais hoje espalhados pelo Brasil e o exterior. “Por isso temos que manter o alto padrão de ensino para médicos e enfermeiros”, diz a diretora Célia Maria.

O hospital não tem unidade orçamentária própria. Recebe da prefeitura de Niterói praticamente o mesmo que um posto de saúde. Por isso está sempre faltando alguma coisa, principalmente insumos. Mas em compensação o Orêncio conta com uma família de servidores abnegados.

– Os médicos, por exemplo, que um dia aqui foram residentes, têm um amor muito grande por esse hospital. Muitas vezes trazem seu próprio material para usar nas cirurgias – diz a doutora Célia Maria.

A diretora conhece todos os meandros da antiga comunidade dos Marítimos. Mantem a boa vizinhança empregando alguns moradores em vagas de serviços gerais. Tem um entrosamento solidário com o pessoal da Umei e do Médico de Família vizinhos. Seu sonho é reativar a Associação dos Amigos do Hospital dando-lhe o nome de Guilherme Eurico, um ícone da cirurgia.

Essa niteroiense extraordinária só estudou em escola pública. Saiu do Liceu Nilo Peçanha para se formar em 1969 na Faculdade de Medicina na UFF. Fez residência médica no Antônio Pedro e chegou à professora de cirurgia da Universidade Federal Fluminense.

Célia Maria entrou no Orêncio de Freitas por concurso, há 48 anos. Já chefiou o Centro Cirúrgico e há anos merecidamente é a diretora geral do hospital.

Depois que presenciei o tratamento digno recebido pelos doentes nas limpas e bem cuidadas enfermarias, a abnegação dos médicos, enfermeiros e funcionários, os residentes de medicina e enfermagem compenetrados em seus deveres, observei a quantidade de gente humilde que busca atendimento nesse hospital.

Desci a ladeira na certeza de que nenhum governante terá a coragem de desativar o setor cirúrgico do Orêncio, que há décadas se tornou referência na região, para levar o serviço para o Hospital Oceânico, sob o risco de manchar de sangue a própria carreira administrativa e política.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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