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Coluna do LAM

Niterói virou a meca da ortopedia

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Fazendo meus ralis pelas calçadas de Niterói noto muita gente usando muletas. Todas as idades. Volta e meia um pé, uma perna, um braço imobilizado ou um cruel pescoço duro dolorido.

Clínicas de fisioterapia e ortopedia estão cheias e os algozes são parecidos: queda, torsão, mau jeito em calçadas que lembram o solo lunar, coalhadas de buracos, topadas seguidas de tombos em meio fios desnivelados e os inusitados (minoria) escorregões em folhas de amendoeira.

Entre um Torsilax e outro, o cidadão tenta sobreviver ao esculacho urbanístico e quando chega em casa tem vontade de tacar fogo em tudo ao ver o carnê do IPTU dormindo em cima da TV.

Vivemos numa cidade ortopédica.

Só que, incrível, dessa vez a culpa não é da prefeitura. A culpa é de quem deveria estar cuidando das calçadas, os donos dos imóveis, segundo a Lei. Sabemos que muitos desses proprietários investem pesado nas calçadas, construindo fradinhos (vulgo cata corno) e gigantescos jarros de planta para evitar que estacionem carros, objetos psicodélicos e toscos que lembram trilhos de trem que acabam fulminando quem? O pedestre, as mães que levam e trazem crianças, idosos, o povo em geral.

Um dia desses fui almoçar num self, comida razoável mas o ar condicionado bom pra caramba, e parecia uma enfermaria do Afeganistão. Várias pessoas (98% idosos) com muletas, bengalas, gesso, imobilizadores e o que se ouvia era “eu vinha pela Oswaldo Cruz e quando entrei na Moreira Cesar uma moto na calçada…”; “foi horrível, eu não tinha descido do ônibus mas o motorista arrancou…”; “fazendo minha caminhada no calçadão da praia, pisei numa amêndoa, depois na folha de amendoeira e caí de queixo …”; “estava de bicicleta na ciclovia da Presidente Pedreira quando um carro com placa de fora invadiu e…”;

Canhão foi um sábio que viveu em Icaraí nos anos 1960 e 70 e era tão fã dos Rolling Stones que acabou ficando parecido com Mick Jagger, mas com alma de Keith Richards. Ele é o personagem de meu conto “Siamês”, que foi censurado por uma liga de moralistas
anônimos no meu blog www.colunadolam.blogspot.com por causa da descrição de uma aula de acordeom da personagem principal em seu quartinho na Álvares de Azevedo. Um dia eu conto. Conto lá, não aqui. Aqui o traje é de gala, o amigo Gilson é um Lord.

Canhão dizia que “você sabe se a pessoa toma banho pela calçada da casa dela…se a calçada é limpa, bem tratada, a pessoa gosta de banho, de se perfumar, fazer barba, mas se a calçada está toda esburacada, suja, cheia de limo, com certeza o dono está mais pra suíno, não liga pra a limpeza.” A frase é dos tempos em que Niterói era tomada de casas e não esse paliteiro de concreto que é hoje, mas está valendo a essência do raciocínio: quem não cuida da calçada da própria casa não cuida de si mesmo. Se a calçada é de um prédio de 20 andares a Lei Canhão serve para todos os moradores.

A prefeitura poderia incentivar os cidadãos a cuidarem dos chamados “equipamentos urbanos” como a calçada, a marquise, o banco da parada de ônibus. Recentemente eu passava ali pelo início do canal em São Francisco e um jovem e empolgado casal escovava a preá debaixo de chuva porque o banco da parada de ônibus estava cheio de lixo. Sem essa de “a Clin deveria tirar”, também não é assim. Na minha opinião a Clin trabalha bem, o que atrapalha são os suínos que espalham lixo em todos os lugares.

Acredito que a Lei Canhão seja verdadeira. A calçada é um espelho do seu dono, seja casa, vila, prédio. Além da estética/higiênica, tem essa massa humana mancando porque falta respeito.

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# Pare, ouça, comente: https://bit.ly/2Uot6Jq

# Aliás, já conhece? https://bit.ly/2PfLofa

#  O que faz a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos? Quantas pessoas são empregadas? Quantos cargos de confiança? Qual o orçamento deste ano?

# Por falta de divulgação, pouca gente sabe que começou a campanha de vacinação contra gripe H1N1. Os postos de saúde estão às moscas. A campanha irá somente até 31 de maio. 

#  O jornal “Toda Palavra” traz uma matéria bombástica sobre o edifício que virou “um Carandiru no coração de Niterói”, um prédio na avenida Amaral Peixoto, 327. Com luz e água cortadas, o prédio abriga facções criminosas que vivem em guerra lá dentro. O diretor de “Toda Palavra”, jornalista Luiz Augusto Erthal. subiu a noite no prédio e fotografou tudo. O TP on line fica em http://www.todapalavra.info

#  Feliz Pascoa a todos!

Luiz Antonio Mello

Jornalista, radialista e escritor, fundador da rádio Fluminense FM (A Maldita). Trabalhou na Rádio e no Jornal do Brasil, no Pasquim, Movimento, Estadão e O Fluminense, além das rádios Manchete e Band News. É consultor e produtor da Rádio Cult FM. Profissional eclético e autor de vários livros sobre a história do rádio e do rock and roll.

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