A motorista de ônibus Cícera dos Santos, 34 anos, é pioneira em Niterói na luta das mulheres por uma fatia do mercado de trabalho em uma atividade profissional predominantemente masculina no país. Motorista da linha 17, da Viação Miramar (Charitas-Centro), Cícera dirige profissionalmente há 12 anos e hoje faz parte de um pequeno grupo de menos de dez mulheres que dirigem ônibus na cidade.
– Quando comecei só existiam duas motoristas na cidade – diz ela, que já trabalhou em quatro empresas diferentes.
Sem abrir mão da vaidade feminina e enfrentando com sutileza algumas manifestações de preconceito, ela conquistou espaço na profissão e é respeitada por todos. Nunca ouviu piadinhas como “mulher no volante, perigo constante”, mas percebe que alguns passageiros, ao entrarem no ônibus, exibem expressão de espanto.
– Mas eles logo se convencem de que estão em boas mãos – diz sem modéstia, garantindo que dirige melhor do que muito marmanjo.
Quem conhece um pouco a história de Cícera compreende logo a sua competência profissional. O pai é caminhoneiro e a mãe, Sílvia, hoje aposentada, foi uma das primeiras mulheres a dirigir ônibus no Rio de Janeiro.
– Escolhi essa profissão por gosto. Não foi por necessidade ou qualquer outro motivo. Está no meu sangue – afirma, ao estacionar seu ônibus no Terminal Rodoviário João Goulart.
Cícera também tira de letra o preconceito quanto à sexualidade das mulheres motoristas profissionais:
– As pessoas se acostumaram durante muitos anos vendo homens dirigindo ônibus. E estranham quando veem uma mulher. Mas tudo isso é bobagem – diz ela, que faz questão de trabalhar sempre maquiada e com os cabelos nos trinques.
Confessa, no entanto, que a profissão cria alguns embaraços nas suas relações com namorados:
– Quando estou namorando um rapaz que não é rodoviário, rola um ciúme por eu ser motorista de ônibus.
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