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Meninos de rua sem esmola e sem abrigo

Escrito por Gilson Monteiro às 17:24 do dia 14 de agosto de 2017
Sobre: Ao relento
14ago

A prefeitura de Niterói vai lançar quarta-feira a campanha “Não dê esmolas” para tentar reduzir a população de rua fazendo com que aceite acolhimento nos abrigos públicos. Mas a degradação desses abrigos é tanta que levou o Ministério Público a ajuizar ação civil requerendo a interdição da Casa de Passagem Paulo Freire, no Barreto, único abrigo do município destinado a receber adolescentes do sexo masculino, dos 12 aos 18 anos.

Em vistorias feitas pela Promotoria de Infância e Juventude de Niterói, foi constatado que o abrigo não dispõe de condições de habitabilidade mínimas: falta mobiliário adequado nos quartos e os móveis existentes se encontram em estado precário, com camas sem colchão e portas quebradas; os aparelhos de ar condicionado não funcionam. O banheiro não dispõe de água quente; a alimentação é feita através de quentinhas que adolescentes comem com talheres de plástico, de forma semelhante aos presidiários em um refeitório que consiste em uma mesa de cimento, com bancos do mesmo material, situada na área de serviço. Além disso, os adolescentes não fazem qualquer curso profissionalizante ou atividade externa. Não bastasse, o abrigo não dispõe de veículo próprio, internet, auxiliar de limpeza e cozinheira.

Segundo o MP, esta situação “constitui gravíssima violação aos direitos humanos dos adolescentes acolhidos que foram retirados de convívio familiar por se encontrarem em risco e vulnerabilidade social e deveriam ser protegidos. Contudo, a Instituição, ao invés de garantir os direitos dos adolescentes, está violando estes direitos, ferindo de morte o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, ao mantê-los num local abominável, onde absolutamente nada funciona adequadamente”.

Promotores revelam ter feito “esforços extrajudiciais junto à Secretaria de Assistência Social e recursos humanos”, mas a secretária Verônica Lima nada fez para resolver os problemas do abrigo Paulo Freire.

A campanha da Secretaria de Assistência Social, que será lançada dia 16 no auditório da Câmara de Diretores Lojistas, segundo Verônica Lima terá como objetivo alertar comerciantes, empresários e a população para “as consequências de dar contribuições em dinheiro a pessoas que vivem nas ruas orientá-los sobre as melhores maneiras de ajudar quem precisa”.

— Oferecer comida, agasalho ou dinheiro para quem está na rua aparenta ser um gesto de solidariedade, mas, na verdade, estimula a mendicância. Se a pessoa que está nas ruas recebe comida, tem um local para passar a noite e ainda recebe esmolas da sociedade, ela nunca vai querer sair dessa situação — disse em entrevista a um jornal do Rio a secretária Verônica Lima, sem esclarecer, contudo, a situação degradante do abrigo Paulo Freire apontada pelo Ministério Público.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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3 thoughts on “Meninos de rua sem esmola e sem abrigo

  1. O olhar de candura que temos sobre a infância e a juventude se limita apenas ás pessoas “nascidas de boa família”. Quem não se enquadra no perfil social padrão, torna-se alvo de absoluto desprezo. Nosso ideal cristão de “amar ao próximo” só vale se esse próximo for bem próximo mesmo, ou seja, do nosso convívio ou bem parecido e próximo a ele. Quanto ao resto, não passa de “um monte de escória” que temos que tolerar todos os dias, e fazemos um pequeno esforço para dar-lhes algumas migalhas, aliviando assim nossa consciência. Por isso muramos e cercamos nossas residências, nos deslocamos em veículos particulares bem isoladinhos, e colocamos nossos amados filhinhos (essa sim, a única juventude que inspira ternura) nos ambientes mais protegidos e destacados possível. Nossa hipocrisia fede a esgoto, tal qual o cheiro dessa cidade imunda.

  2. Com todo respeito ao autor da reportagem acima, não acredito, em hipótese alguma, que morar nas ruas, no frio, dormir no chão, correr todos os riscos possíveis e imagináveis e passar fome seja cômodo pra um mendigo. Por óbvio que os abrigos deveriam ter, no mínimo, condições para abrigar os moradores de rua, mas estamos vivendo uma situação de crise absoluta. Crise causada por desvios milionários daqueles que deveriam estar provendo, cuidando e vigiando a população. Agora, até que se normalize a situação caótica que se encontra nosso RJ, e no presente caso, nossa Niterói, não acredito que interditar abrigos, ou incentivar às pessoas a não ajudarem os mais necessitados seja uma boa idéia. Pelo contrário. Devemos trabalhar com o que temos. Se tem abrigo, vamos ajudar a mantê-lo. Se virmos um grupo de moradores de rua com fome, ou frio, vamos ajudar. Se cada um fizer o mínimo, muita tristeza pode ser evitada, ou minimizada. Mas incentivar o povo a cruzar os braços sob a justificativa de que se não cruzarem estarão incentivando os mendigos a permanecerem nas ruas é, no mínimo, cruel. Para essas pessoas, cada dia é uma luta, e sobreviver é a única meta que existe para eles. Se não ajudarem, o que será que pode acontecer? 1/3 irá definhar e o resto irá apelar para tirar à força do outro para não morrer. Definitivamente, não seria a melhor solução. Ademais, acredito muito que se o problema está no meu caminho, me compete, pelo menos, ajudar a minimizá-lo, seja doando um agasalho, um cobertor, ou um simples sanduíche. O que custa isso a cada um de nós? Quase nada. E a eles? A vida. Reflitam e passem a se colocar um pouco no lugar do próximo.

  3. ar condicionado ? internet ? curso ?
    VOCÊS ESTÃO DE SACANAGEM ??? QUE PARTE QUE O PREFEITO ROUBOU TODO O DINHEIRO QUE VCS NÃO ENTENDERAM ????

    Tem que sim consertar as portas e os colchões…. mas o resto realmente é complicado porra porque é tudo ladrão!!!!!!

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