
A imagem que acompanha este texto não precisa de legenda — ela grita por atenção. O prédio histórico que um dia abrigou a antiga Secretaria Estadual de Fazenda e já serviu a Dom Pedro I está em estado lastimável. Por trás dos tapumes que cercam o palacete da Rua Marechal Deodoro pode se ver janelas quebradas, vegetação crescida e muros pichados. Um homem separava caixas empilhadas desordenadamente à frente de uma velha camionete. Reflexos do colapso de uma política pública que escolhe o que lembrar e o que deixar cair no esquecimento.
O prefeito Rodrigo Neves fala há anos em “revitalização” do Centro. Mas enquanto a Avenida Visconde do Rio Branco recebe prédios novos e atenção midiática — junto ao Caminho Niemeyer, com seu apelo turístico — as ruas adjacentes vivem esquecidas. A Marechal Deodoro, por exemplo, já foi símbolo da força comercial da colônia libanesa.
A antiga sede da Secretaria da Fazenda, com sua arquitetura imponente, poderia ser um polo de serviços públicos. Imagina se a prefeitura realocasse ali órgãos municipais — atraindo movimento, fomentando o comércio, dando nova vida à região. E ainda há o edifício do antigo IASERJ, outra estrutura no Centro que segue sem destino, talvez porque a Zona Sul, com seus pontos turísticos e bairros nobres, garanta mais retorno eleitoral.
Disputa por visibilidade política
Rodrigo Neves articula a posse de imóveis como o Palácio do Ingá e o Caio Martins, ambos na Zona Sul. Localizações privilegiadas, que impulsionam prestígio político. Já os espaços no Centro, mesmo com alto potencial funcional e simbólico, são ignorados. O prédio em ruínas da Marechal Deodoro é reflexo dessa escolha de onde investir, onde reformar, onde aparecer.
Revitalizar não é construir o novo ignorando o velho. É dar novos usos àquilo que já carrega história. É olhar para o Centro não como estorvo, mas como coração da cidade. A foto, com seus muros pichados e silêncio desconfortável, pergunta o que muitos cidadãos também querem saber: será que essa “revitalização” é para todos?
O Palacete da Praia Grande
O prédio histórico que abrigou a antiga Secretaria Estadual de Fazenda, localizado na Rua Marechal Deodoro, no Centro de Niterói, tem uma trajetória marcada por transformações profundas. Originalmente, ele pertenceu a um negociante de escravos conhecido como “O Cheira”. Posteriormente, foi adquirido por Dom Pedro I, que pagou 6.000$000 réis pela propriedade. A partir daí, passou a ser chamado de Palacete da Praia Grande.
Com a morte do imperador em 1834 e a elevação da vila à condição de cidade e capital da província em 1835, o palacete foi alugado pelo governo provincial para sediar a Tesouraria Geral e a Guarda Policial. Mais tarde, tornou-se sede do governo estadual até 1892, quando a Revolta da Armada levou à transferência da capital para Petrópolis.
Durante o período republicano, por volta de 1910, o então presidente do Estado, Alfredo Backer, ordenou a reconstrução do edifício, que passou a abrigar diversos serviços públicos. Essa rica história faz do prédio não apenas um marco arquitetônico, mas também um símbolo da evolução política e administrativa do Estado do Rio de Janeiro.
Parabéns poderoso Gilson monteiro. Seu artigo e uma boa aula de História de Niterói (e do Estado) tão carente de informações culturais que saciem a sede de cidadania dos cidadãos desta cidade que imortalizou Araribóia e o primeiro prefeito José Clemente Pereira..