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Hospital Antonio Pedro, sob controle da Ebserh, está deixando de ser universitário

Escrito por Gilson Monteiro às 11:53 do dia 23 de setembro de 2021
Sobre: Menos aulas e leitos
  • Hospital Antonio Pedro
23set

Hospital Antonio PedroO Hospital Antonio Pedro, que já foi um grande formador de excelentes médicos em Niterói, há cinco anos administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), reduziu o número de leitos, de cirurgias e de exames. Segundo professores da Faculdade de Medicina da UFF, isto está restringindo o ensino universitário em todas as áreas de saúde.

O Huap que já teve 450 leitos, tem hoje menos da metade disponíveis. A Ebserh teria que repor pessoal após um ano da vigência do contrato com a UFF e reabrir os leitos fechados.  Hoje o hospital universitário tem em funcionamento 160 leitos, menos do que as 200  vagas informadas à Secretaria Municipal de Saúde de Niterói.

Adauto Dutra Moraes Barbosa, diretor da faculdade, disse em e-mail enviado a um professor que a escola está “recorrendo aos poucos a outros locais para ensino”. Afirmou que a Ebserh “apenas cumpre o que está acordado com as secretarias municipal e estadual de saúde; assim, o que interessa à formação médica básica inicial corre sério risco de não ser mais visto lá dentro”.

Em julho, o ex-reitor da UFF Roberto Salles denunciou, em reunião do Conselho Universitário, o descumprimento do contrato da Ebserh com a universidade. A empresa que assumiu fazer a gestão gratuita do Antonio Pedro, estaria deixando de contratar pessoal, levando ao fechamento de leitos.

Qualidade do ensino prejudicada

Haberland Lima, com a experiência de 35 anos como professor de cirurgia da Faculdade de Medicina da UFF e uma vida inteira dedicada ao Antônio Pedro, do qual foi diretor médico por muitos anos, diz que a qualidade de ensino está sendo prejudicada pela Ebserh.

–  Desde que assumiram a administração do Huap diminuíram o número de leitos e de ofertas de serviços (realização de menor número de cirurgias e de exames), deixando os professores com um campo restrito de ensino em todas as áreas de saúde, dificultando o aprendizado e o treinamento dos alunos de graduação e pós-graduação, como a residência médica – aponta o professor Haberland.

Lamenta o ex-diretor médico do Huap que a Ebserh “não entendeu que o Huap é, antes de tudo, um hospital de ensino e formador de recursos humanos para o SUS (Sistema Único de Saúde)”.

Obrigando a Faculdade de Medicina a procurar novo campo de ensino para seus alunos em Niterói ou em outros municípios do Estado, a Ebserh acabará prejudicando a qualidade do ensino.

–  Ocorre que, com esse deslocamento para os hospitais estaduais, municipais e até da rede privada, os alunos vão ficar sem ensino dos verdadeiros professores, aqueles que não têm vinculação com a atividade fora da sua área de atuação na UFF – conclui Haberland Lima.

Essa mudança de local das aulas práticas é confirmada pelo diretor da Faculdade de Medicina. Adauto Barbosa lamenta que “dentro do Huap ficará o que interessa mais à Ebserh do que aos alunos”.

UFF perdeu capacidade de gerir o Huap

A mudança de gestão do Antonio Pedro para Ebserh não precisaria acontecer se a UFF tivesse tido capacidade de gerir o principal hospital-escola público de Niterói. Criada em 2011, a Ebserh é uma empresa pública unipessoal, ou seja, com patrimônio próprio e capital exclusivo da União.

Vinculada ao Ministério da Educação, tem como finalidade prestar serviços de assistência à saúde de forma integral e exclusivamente inseridos no âmbito do SUS, observando a autonomia universitária. Esses serviços incluem o apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no campo da saúde pública. Hoje já são mais de 50 hospitais universitários sob a gestão da Ebserh.

A empresa recebe recursos federais via ministérios da Educação e da Saúde; do SUS e até de convênio com a prefeitura de Niterói. Por isso, deveria reabrir os leitos do Huap fechados há anos; contratar pessoal e ampliar o atendimento médico à população, conjugado com o ensino da Medicina, este por conta da UFF.

Faltou na contratação da Ebserh a inclusão de uma cláusula que a obrigasse a reabrir o até hoje fechado pronto-socorro. Era uma unidade de referência em Niterói, que salvou muitas vidas desde o incêndio do circo, em 1961.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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16 thoughts on “Hospital Antonio Pedro, sob controle da Ebserh, está deixando de ser universitário

  1. Tristeza ver o que se tornou o Huap.
    Sem qualidade de atendimento, os médicos até querem fazer alguma coisa mas são engessados pela péssima administração. Meu setor realizava em média 24 exames por dia e hoje no máximo 12.
    Rjus oprimidos, sem voz e sem vez.

  2. Não se iludam, o pano de fundo do texto mira a campanha para reitor em 2022. Na década de 90 e nos anos 2000 o hospital vivia lotado, atendimento péssimo e carregando os municípios nas costas. Hoje ele voltou a ser um hospital escola.

  3. Tenho a impressão que essa tal de EBSEH ,seja uma empresa onde políticos tem seus tentáculos, se for fazer uma avaliação hoje o que tem de ONGS gestando a saude pública com aval de governos não esta no gibis, entram dis que esta fazendo isso é aquilo nos postos de saúde e hospitais, mais no fundo esta se benificiando do dinheiro público que cai nas contas dessas ONGS e elas beneficia os políticos que o ajudaram a ganhar concorrência (?) Basta vê o que esta ocorrendo no município do Rio.

  4. Quem conheceu o Hospital Antônio Pedro antes da EBSERH só tem a lamentar, seu pronto socorro, apesar de estar sempre lotado, tinha um grupo de trabalho altamente qualificado e que foi referência no estado e contituia um imenso campo de aprendizado para os estudantes. Espero que os gestores da UFF enxerguem o erro que cometeram e coloquem o hospital no patamar que ele merece.

  5. Lamentável vê a situação atual do Hospital Universitário Antônio Pedro.
    O maior hospital, de referência em Niterói. A emergência, era superlotada.
    sim !
    Mas tínhamos, médicos, e profissionais de enfermagem qualificados.
    Que temos hoje?
    Hospital sucateado, com profissionais novos inesperientes, e médicos que não aprendem nada , como antes com a emergência aberta.
    Nós meus 43 anos, dentro da universidade.
    Fico imaginando, qual vai ser o futuro do hospital, a beira de um colapso. Desde a entrada da EBSERH, nosso hospital era falido. Muito triste, ver acabar ,os ensinos pesquisas e extensão. Esperamos que volte o nosso hospital de antigamente.

    1. A emergência na gestão com a prefeitura era caos, corredores superlotados de pacientes, falta de insumos básicos e medicações. E inacreditável pedir para a emergência, se o azavedo lima que tem a obrigação de disponibilizar vagas. Quanto a ebersh péssima, insegerente.

  6. Decadente a olhos nus, é decepcionante ver hoje um Hospital-Escola, que formou e manteve uma equipe de alta competência, estar sob a administração de uma empresa que pouco se preocupa com a formação de alunos nas fase acadêmica e pós-acadêmica com consequências imediatas na população carente na área de saúde. Mais decepcionante ainda e sabermos que alguns, que lá ainda administram e/ou permitem essa continuidade, são servidores da UFF, ou seja, cúmplices dessa decadência.

  7. Trabalho no HUAP há 30 anos , fora o tempo de faculdade e infelizmente concordo que ocorreram muitas mudanças , a maioria para pior, não condizentes com as necessidades da população da região Metropolitana II. Sofremos nós os servidores, sofre a população . Tenho esperança de ver dias melhores…

  8. Essa política urgentemente necessita mudar para o sistema Universitário Antônio Pedro.
    Era o melhor hospital do Estado do Rio de Janeiro, com todas as possibilidades de ensino, excelente professores, e todo tipo de pacientes para formar médicos capacitados com experiência comprovada por digníssimos professores.
    Não deixem a burocracia esvaziar o HUAP. Os profissionais bem formados são valiosos por toda vida!!!!

  9. Hospital Escola de uma Universidade Pública não pode fazer jogo com o mercado de Saúde. A formação acadêmica desses profissionais tem objetivos sociais claros. O resto é especulação de um ministério hoje voltado para o lucro. Um absurdo!

  10. Lastimável. Trabalhei lá por37 anos como farmacêutica nu época melhor. Excelentes médicos, profissionais da enfermagem, farmacêuticos dedicados, etc… fico na torcida que tudo se restabeleça e volte a ser o que já foi um dia. Sou imensamente grata por ter feito parte do staff do HUAP um dia. Um abraço Gilson.

  11. É uma pena o Antônio Pedro hospital escola de referência em Niterói. Que absurdo a universidade deixar isso acontecer por incompetência

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