New here? Register. ×
×

Hospital Antonio Pedro mantém pronto-socorro fechado e afasta estudantes

Escrito por Gilson Monteiro às 09:46 do dia 30 de setembro de 2021
Sobre: Braços abertos só na fachada
  • Hospital Antonio Pedro
30set

Hospital Antonio PedroDe braços abertos no Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap) somente Hipócrates, o pai da Medicina, esculpido na fachada. Em 2016, o Huap passou a ser administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Esta, em vez de reabrir a emergência para o público, tem dificultado ao máximo o atendimento de pacientes.

O contrato da Ebserh com a UFF previa a obrigatoriedade de o novo gestor do hospital apoiar o ensino universitário. Na véspera do completar 70 anos, o Antônio Pedro vê o atendimento de pacientes diminuir. Com menos consultas, exames e cirurgias, o Huap, além de estar com apenas 160 leitos quando já teve 450, vai acabar com a residência médica da Faculdade de Medicina da UFF.

Adauto Dutra Moraes Barbosa, diretor da faculdade, disse em e-mail enviado a um professor que a escola está “recorrendo aos poucos a outros locais para ensino”. Afirmou que a Ebserh “apenas cumpre o que está acordado com as secretarias municipal e estadual de saúde; assim, o que interessa à formação médica básica inicial corre sério risco de não ser mais visto lá dentro”. Adauto lamenta que “dentro do Huap ficará o que interessa mais à Ebserh do que aos alunos”.

Já foi o tempo em que os médicos andavam com um cartão no bolso onde estava escrito: “Em caso de acidente me leve para a Emergência do Antônio Pedro”. As paredes dos corredores eram sujas, tinha lâmpadas queimadas, mas o hospital naquela época funcionava a pleno vapor. O Pronto Socorro aberto era referência na região. Médicos, enfermeiros, residentes e estudantes eram preocupados em curar pessoas e salvar vidas.

Por ocasião do incêndio do circo Gran Circo Norte-americano, em dezembro de 1961, o Antônio Pedro, pertencente à Prefeitura de Niterói, estava fechado há 20 dias. Foi reaberto emergencialmente pela tragédia. Em seguida, o hospital foi cedido pelo município ao Governo Federal para funcionar como Pronto Socorro e Hospital Escola dos cursos de Medicina, Enfermagem, Odontologia, Farmácia e Serviço Social. Assim, formou gerações de grandes profissionais dessas áreas, durante seis décadas.

Hoje, nas mãos da Ebserh, o Huap anuncia uma outra tragédia: os futuros doutores vão perder o local apropriado para a verdadeira medicina prática, assim como os professores vão ficar sem um hospital de excelência para ensinar Medicina aos alunos.

Se isso acontecer o Antônio Pedro, vai ter que tirar a palavra universitário de seu nome. A UFF terá também que devolver o prédio à prefeitura, já que está se alterando o objeto da doação.

Sharing is caring

Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
|

5 thoughts on “Hospital Antonio Pedro mantém pronto-socorro fechado e afasta estudantes

  1. Muito triste 😢 ver um hospital escola de primeiro quilate ir para o ralo. Cadê nossos governantes, nos não podemos perde o Antônio Pedro 😥😥😥😥😥

  2. O HUAP funcionou bem até a década de 80. Nos anos 90, o hospital carregou nas costas todas as demandas dos municípios, de Niterói até Campos. Enquanto o hospital apagava incêndio e deixava de ter qualidade enquanto hospital universitário, as prefeituras ignoravam a sua obrigação constitucional de ter hospital próprio. Hoje, as prefeituras possuem hospitais e o HUAp pode se dedicar a ser um hospital escola. Das universidades federais, apenas a UFRJ não aderiu a Ebserh e o resultado dessa escolha política foi desastrosa pra UFRJ. O Brasil não é o mesmo da década de 60. De 2015 pra cá o país mudou radicalmente e não adianta querer se agarrar a uma realidade que, infelizmente, não voltará mais. No mais, a pauta desse texto tem único objetivo político mirando as eleições para reitoria em 2022.

    1. Discordo quanto ao caráter exclusivamente político citado, quem vivencia o dia-a-dia do hospital sabe que não comporta o ensino de qualidade tradicional desta instituição. Hoje sobram alunos para poucas salas, poucos professores para ensinar… quem frequentava as cadeiras das salas de aula com problemas estruturais ou aprende nos ambulatórios com 9 alunos para 1 paciente reconhece o sucateamento atual. Tinha problemas antes, e continua com problemas agora, novos ou velhos, o fato é que o ensino só se deteriora.

  3. Muito triste !!! No passado era sem duvidas uma verdadeira escola de formação de novos bons médicos , que faziam residência médica ´no HAP , com os maiores professores médicos da UFF que já existiram em Niterói !!!
    Professores e médicos do quilate do Manoel Almeida , dos irmãos Rogério e Luis Fernando Pires de Mello , Tarcísio Rivelllo e tantos outros grandes mestres da medicina !!!

    Todo esse conjunto , faziam do nosso amado Hospital Universitário Antônio Pedro , no passado a melhor emergência da cidade , recebendo inclusive , pacientes de outros municípios !!!

    È lamentável essa falência do HAP, que vem se arrastando a décadas !!! Pois não faltou verba para UFF, na gestão do reitor Sales, em torno de 2010 , onde obras de grande porte foram realizadas em quase todas as faculdades que compõem a Universidade Federal Fluminense e muito pouco ou nada fizeram no HAP !!!

Comments are closed.