Ela trabalhava com a mãe e oito irmãos numa lavoura de café em Manhuaçu, Zona da Mata de Minas Gerais, até vir para Niterói em busca de uma vida melhor.
A guarda municipal Ivania Martins conta no livro “Sobrevivência Urbana”, que vai ser lançado pela Editora Altadena, dia 9/10, às 19h, no Solar do Jambeiro, todo o seu sofrimento até chegar à operadora de trânsito e depois passar no concurso da Guarda Municipal.
A autora chama de Manual Prático o relato de sua experiência no dia a dia das ruas. Ivania chegou à cidade em 1997, para encontrar uma irmã, mas teve a maior decepção, pois a dona do quarto não a deixou ficar alegando que alugara o cômodo para outra pessoa.
O resultado foi que ela acabou virando moradora de rua, dormindo na praia de Icaraí, em frente à Álvares de Azevedo, onde fica o campo do Praiano. Graças a Deus, sempre um peladeiro solidário se prontificava a bater papo até o dia amanhecer.
– Vendo o risco que eu corria quando ficava sozinha, motoristas da linha 49 me socorriam, deixando eu entrar no ônibus e circular o trajeto várias vezes. E ainda me davam lanche. Durou cinco meses essa minha perambulação de rua, até eu completar 18 anos e arrumar um emprego na NitTrans – conta Ivânia.
Enfrentando a violência das ruas
Vivenciando de perto a violência das ruas, a guarda diz que quando vestiu a farda aprendeu a se proteger e a proteger os outros. “Acho que, por isso, passei a me preocupar com as crianças e as senhoras, ajudando-as em todos os sentidos, até na travessia de ruas”, acrescentou.
Com a morte do noivo em um acidente de carro, ficou abalada e tirou uma licença da Guarda Municipal, indo parar em Moscou, onde gostou tanto, que permaneceu na Rússia por um ano e dois meses.
Estudou até o 7° período de Direito na Universo, fez vários cursos, como o de Inteligência em Segurança Pública e o de Direitos Humanos na UFF, além de treinamento na Polícia Militar para uso de arma de choque.
Atualmente está à frente da Quarta Inspetoria Regional do Fonseca, cujas dificuldades são muitas, mas hoje menos do que quando assumiu o cargo. Quando chegou, deparou com homens e mulheres desmotivados e uma equipe desunida. Em pouco tempo, praticamente zerou o número de faltas, uniu as equipes, que, juntas, puderam trazer mais dignidade à Inspetoria, o que reflete sua capacidade de liderança.
Antes de assumir a Quarta Inspetoria, coordenou a Quinta Inspetoria nas mesmas condições que a Quarta Inspetoria, com o adendo de ter lá alcançado a meta da segurança pública municipal.
Tudo isto só reflete a personalidade de uma mulher que não se intimida com dificuldades, e é dona do próprio destino, construindo, assim, uma bela história de sucesso, garra e determinação.