A centenária figueira que recebia os frequentadores na entrada da Praça César Tinoco, no Ingá, foi abatida na manhã deste sábado (30/10). Ao som estridente de motosserras, funcionários da equipe de Arborização Urbana da Secretaria municipal de Conservação (Seconser), fizeram em pedaços a enorme fícus religiosa sob protesto de moradores do bairro.
Num pedestal em frente já havia sido “suprimida” uma das placas de bronze que marcavam a reforma da praça feita em 1992. A praça também perdeu o busto do poeta Casimiro de Abreu, que sumiu, ninguém sabe, ninguém viu.
Segundo os funcionários da Seconser, a árvore poderia tombar sobre pedestres e veículos que passam pela Rua Presidente Pedreira. Estaria de pé, mas sem vida, sustentada somente pela sua casca. Com a supressão (nome técnico dado à derrubada de árvores), o Jardim do Ingá, como é conhecida a praça, perdeu mais uma de suas 14 figueiras. Restam somente outras quatro ainda de pé.
As figueiras são plantas exóticas bastante utilizadas por paisagistas europeus contratados para fazer jardins urbanos no Brasil, no século passado. As fícus religiosas do Ingá vinham sendo abatidas desde 1980, quando uma desabou na Presidente Pedreira depois de uma ventania. Na época, a praça estava sendo remodelada pela prefeitura, recebendo uma pista de patinação e gradeamento em toda a volta. Há quatro anos, a praça já havia perdido outras duas figueiras, suprimidas pela Seconser. A prefeitura anunciou o plantio de 21 novas mudas de espécies nativas da Mata Atlântica na praça, como compensação.
Depois de passar mais de um ano ocupada pelo canteiro de obras da empreiteira contratada para reformar a Rua Paulo Alves, a Praça César Tinoco foi reaberta ao público no dia 4 de outubro. Recebeu uma mão de cal, mas reabriu sem rampa para carrinhos de bebês e de cadeirantes. Estava também sem o escorrega e com as grades da quadra das crianças quebradas e enferrujadas.
O busto do poeta Casimiro de Abreu, que ficava sobre um pedestal no centro da praça continua sumido. Já o busto de Jorge Loretti, jurista e ilustre morador do Ingá, ainda continua no lugar. Mas em volta não se veem mais os aparelhos de ginástica usados pela turma da terceira idade.
Não canso de reclamar. Já é a terceira arvore centenária que eles derrubam na praça do Ingá. A primeira árvore, chegue a escrever uma carta para o globo Niterói com o título “assassinato no Ingá” . A árvore lutou tanto que até hoje não conseguiram remover o tronco que está abaixo da terra. Disfarçaram, fizeram um jardinzinho que serve de lixeira, dormitório e banheiro. Mataram outra árvore, reclamamos, mas contra o poder das canetas pouco se pode fazer. Agora, a terceira. É muito triste. Não adianta dizer que vão plantar não sei quantas mudas, nós queríamos as nossa figueiras, que nós brincamos. Eu sou mais uma sem arvores da praça do Ingá. E é uma tristeza profunda. Eu, os pássaros, as lagartas, as formigas e todos os insetos que nelas habitavam. Muita dor.