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Extra, extra! Em vez de manchetes, bancas de Niterói exibem jornal pra cachorro

Escrito por Gilson Monteiro às 10:46 do dia 19 de novembro de 2021
Sobre: Destino Niterói
  • jornal pra cachorro
19nov

jornal pra cachorroResolvi dar uma circulada nessa quinta-feira pelo centro da cidade. Para não perder o hábito coloquei o blazer azul-marinho e fui em destino à Avenida Amaral Peixoto, palco de grandes notícias em Niterói. Com tristeza confesso que está tudo mudado nessa área. Hoje só serve para deixar saudade. As bancas estão vendendo mais jornais a quilo para higiene de cães e gatos do que aqueles com as manchetes do dia.

Andando pelas calçadas esburacadas da Amaral Peixoto esbarro com homens e mulheres-placas anunciando  a compra de ouro e distribuindo folhetos. Vejo que a Praça da República antes frequentada pelos alunos do Liceu Nilo Peçanha está ocupada por moradores de rua. Esse colégio público tinha suas vagas disputadas pela excelência do ensino oferecido.

No entorno reconheço a importância da retaguarda histórica da cultura da velha província, a importante Biblioteca Pública, a centenária Academia Fluminense de Letras e o Museu da Justiça no antigo prédio do TJ.

Do outro lado da praça está Câmara de Vereadores, que aproveitou a onda da pandemia para manter suas grandes portas fechadas e realizar as sessões sem a presença do público. Hoje reaberta, continua gastando milhões com vereadores que, em sua grande maioria, cumprem no plenário as ordens do prefeito.

No Banco do Brasil vejo um monte de idosos no térreo se virando nos trinta nos caixas eletrônicos. Aqueles que quiserem acessar a agência têm que ter algum motivo relevante para ser atendido pelo gerente. Isto depois de ser submetido a uma revista geral.

No trecho do Edifício Nossa Senhora da Conceição, com suas lojas fechadas, há pedintes deitados por todo canto. Ocupam o espaço antes frequentado por mulheres de minissaia. Na fachada do prédio janelas podres penduradas põem em risco os carros e as pessoas que passam embaixo. atravessam a rua, sem que a Prefeitura concretize a promessa de transformá-lo em habitação popular.

Sentado na cadeira do engraxate na porta do TRT noto que com as audiências on-line os advogados circulam de camisas sociais. Nesse tempo de pós-pandemia observo que quem está usando gravatas somente os porteiros e seguranças dos prédios.

Na antiga Galeria Paz, a banca de jornais, point de encontro de políticos e onde surgiu o movimento Brizonit, em homenagem ao líder Leonel Brizola, agora está sossegada depois da morte do meu afilhado, o jornaleiro José Carlos, vítima de Covid-19.

Ao passar pela porta fechada do Restaurante Monteiro lembro (e fico com água na boca) da variedade e da qualidade que tinha sua culinária. Sem opção à la carte, tive que recorrer ao bufê a quilo. Fui ao Requinte, que servia frango com quiabo como carro chefe do dia. O prato é muito bem temperado e recomendo.

Para o almoço ficar completo fui até a Alemã. Saboreei sua tortinha de morango, feita ali desde 1951. Ainda na Avenida Amaral Peixoto, parei na banca da esquina com Maestro Felício Toledo para ver a manchete dos jornais. O jornaleiro Alex Sandro surpreendeu-me com a pesquisa de que o “Petstop” é o jornal que mais vende hoje em dia. Não em número de exemplares, mas pesado a quilo para servir às necessidades de cães e gatos.

O jornal canino publica apenas o seu diferencial: é sem cheiro e impresso com tinta à base de água. O pacote de um quilo custa R$13,00 e o de dois quilos sai a R$18,00. Essa banca foi montada em 1966 por Salvador Colonesi, na época em que os jornais e revistas tinham expressivas tiragens.

Fui tomar um expresso no Café da Entrada, no Niterói Shopping, e vi muitas lojas fechadas num prédio com a maioria das salas ocupadas por profissionais da área da saúde. Movimento maior em seus corredores é o de acesso de pessoas à loja do Detran instalada no piso G-1.

Passo por uma firma que está resistindo ao tempo na tradicional Rua da Conceição, hoje cheia de lojas fechadas: a Tinturaria e Lavanderia Nossa Senhora da Conceição ali funciona desde 1957 lavando ternos, roupas e tapetes.

Lembrei que era hora de pedir proteção à santa padroeira da igreja logo adiante, fundada em 17 de agosto de 1671. Fiz a oração da calçada, porque os portões da igreja de Nossa Senhora da Conceição estavam fechados.  Mesmo que estivessem abertos, a essa altura do campeonato, depois de uma longa caminhada, não testaria meu preparo físico subindo os mais de 60 degraus até a capela secular.

Parei por aqui para não ter mais uma decepção ao deparar com a entrada do Santa Cruz, um hospital que está fechado e se deteriorando há anos. Ali nasceu e foi salva tanta gente graças à competência de uma plêiade de médicos de alto nível que honravam com louvor o juramento de Hipócrates.

Fui pegar o carro num estacionamento da Rua da Conceição e me cobraram R$ 10,00 por cada meia hora. Fiz os cálculos e faria melhor se tivesse vindo de táxi ou de Uber. No balanço geral, isso foi o de menor importância.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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9 thoughts on “Extra, extra! Em vez de manchetes, bancas de Niterói exibem jornal pra cachorro

  1. Ótima matéria! Infelizmente, a cidade de Niterói está abandonada, pois o grupo de governa há mais de 10 anos, investe em publicidade e gosta da miséria, pois faz troca de favores nós cargos comissionados, enquanto isso, IPTU exorbitante e o atual prefeito, vai governar com o sobrenome, sem fazer nada de concreto para a cidade.

  2. Frequentei muito o Bar e Restaurante Municipal. Sinto falta do caju amigo, o chope sempre bem gelado e para comer o tirá-gosto o famoso testículo de porco. Quanta saudade. Parabéns pela matéria. Um abraço.
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  3. Excelente matéria, Gilson. Você mostrou o que eu falo sempre. Niterói está um lixo. Não é somente o centro que está abandonado. O meu bairro, o Ingá, está cheio de moradores sem teto, dormindo nas calçadas e, muitos chegam a ser agressivos ao pedir ajuda. Estudei no Liceu, aquele Liceu, com aulas do Professor Nilo Neves, Professor Carias, etc. Estudava as tardes na Biblioteca me lembro da D. Branca nos pedindo silencio. Não precisava fazer cursinhos para passar nos vestibulares da UFF e UFRJ.. enfim tudo destruído. só nos resta lamentar e chorar.

  4. É triste, mas é como o Manoel disse aí no seu comentário, a vida e a forma de viveê-la mudam e só nos resta a saudade de outros tempos cheios de vida naquelas localidades. Tem razão também quando diz que no Rjo também é assim. Trabalhei lá a vida inteira e hoje estranho demais tantas lojas e restaurantes fechados e um comércio de qualidade e aparência sem atrativos.

  5. Parabéns Gilson, pela brilhante narrativa de seu “passeio” na Amaral Peixoto. Se antes da Pandemia as coisas já tinham mudado tanto, hoje então, ficou pior ainda. Pelo menos, seu almoço valeu á pena. Abraços.

  6. Concordo com você amigo; O centro de Niterói hoje esta depressivo, a maioria das lojas fechadas. Os pontos de encontros como o café Municipal e o Santa Cruz , onde sempre encontrávamos amigos para um boa conversa, também não resistiram .

    Esse fato não se refere só ao centro de Niterói, pois a poucos dias, tive que ir a Rua da Quitanda no Rio de Janeiro, e como você, fiquei pasmo, ao me depara com um enorme deserto, com calçadas vazias, prédios de escritórios e lojas com placas de aluga-se , sem se falar no outrora clamor, dos desfiles executivos de terno e mulheres bem vestidas.

    Na visão do urbanismo, esses fatos são naturais, na medida da evolução do conforto, segurança e mobilidade . Novos projetos surgem, novos bairros crescem trazendo junto novos empreendimentos comerciais .

    1. Com ctz andar pelo centro só nos traz recordações e decepção. O foco hj é outro: extorsão dos niterolenses. Nada de investimento em mobilidade urbana apesar da liberação irresponsável da explosão imobiliária. Nenhum prefeito ou vereador se preocupou em criar fundo para melhoraria urbana, financiado pelas construtoras que encheram os bolsos.
      Absurdo a cobrança de estacionamento em ruas exclusivamente residenciais, como está ocorrendo no Jardim Icaraí. Niterói hj só pensa em extorquir seus moradores. Vergonhoso o que está acontecendo na cidade, de maior custo de vida do Estado. Trânsito caótico, áreas abandonadas e extorsão irritante em multas e cobrança de estacionamento ilegal.
      Infelizmente, meu amigo Gilson.

  7. Amei a matéria muito boa, realmente temos que lembrar do passado com muita saudade dos velhos tempos.

  8. Essa sua peregrinação pelo centro da cidade é um retrato fiel, do descaso e incompetência da administração municipal, que apesar de um orçamento milionário ( royalties ), é só marketing.

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