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Escombros da Lava-Jato em Niterói

Escrito por Gilson Monteiro às 09:37 do dia 21 de abril de 2017
Sobre: Desperdício público
21abr

As rampas da ponte Rio-Niterói escondem um passado do antigo Estado do Rio de Janeiro. Na Avenida Feliciano Sodré e no início da Avenida Jansen de Mello jazem insepultos a sede do Tribunal de Contas fluminense, o antigo Mercado Municipal e um galpão em ruínas da Empresa de Obras Públicas (Emop). Muitos outros bens públicos estão largados também ao deus-dará na cidade.

A administração estadual está quebrada, a economia estagnada e, a cada delação mostrada noite e dia nos jornais e noticiários na televisão, o eleitor vê  mais escancarada a política que praticavam com o seu voto.

Além dos imóveis pertencentes ao falido Estado do Rio — que na mesma área dos acessos à ponte mantém outros prédios ainda funcionando, como o da Cedae e o do Detran –, a prefeitura de Niterói coleciona também seus escombros históricos, dentre eles a Casa de Norival de Freitas, na Rua Maestro Felício Toledo, no Centro, que desde quando foi desapropriada em 1974 nunca viu uma reforma sequer. Mas está listada como bem cultural ativo, pela Secretaria de Cultura de Niterói.

Do “bolo de noiva”, como era conhecido o edifício do Tribunal de Contas, ladrões já tiraram tudo o que podiam. Roubaram portas, gradis e até aparelhos de ar condicionado que foram deixados para trás pelo governo.

O terreno da Emop chegou a ser oferecido pelo ex-governador Sérgio Cabral ao prefeito Rodrigo Neves, para que o município o vendesse juntamente com outras 19 áreas de propriedade do Estado para garantir a contrapartida da prefeitura em um projeto ambicioso de revitalização do Centro que seria tocado por quem? Pela Odebrecht, pela OAS e pela Andrade Gutierrez.

A cessão desses terrenos chegou à Assembleia Legislativa, que acionou o Ministério Público. Na época, em junho de 2013, o deputado Comte Bittencourt (que hoje acumula esse mandato com o de vice-prefeito licenciado de Niterói) pediu uma investigação sobre a doação de bens públicos para fins privados.  Essa cessão acabou não acontecendo, assim como a Operação Lava-Jato acabou engavetando o projeto de entregar o Centro da cidade ao consórcio Odebrecht/OAS/Andrade Gutierrez.

O triste é que a população vê tudo se deteriorando sem ouvir uma voz sequer em defesa do patrimônio público. Exemplo maior desse descaso é a velha casa que mal se sustenta de pé na Rua Maestro Felício Toledo. Quem passa por ela acha estranha aquela propriedade com suas grades de ferro desenhadas em estilo art nouveau escondidas por velhas folhas de fórmica cobrindo a vergonha de como os administradores cuidam da coisa pública.

O prédio do Mercado Municipal, inaugurado em 1920, é um próprio estadual. Em 2014, o prefeito Rodrigo Neves acertou com o governador Cabral a cessão do imóvel em estilo neoclássico para nele criar um centro gastronômico e de floricultura. Dinheiro para obra o prefeito disse, em 2014, que levantaria R$ 11 milhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), através do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), do Ministério do Turismo.

Em 2016, o projeto que deveria ser inaugurado em 2015 voltou às promessas de campanha na reeleição de Rodrigo Neves, mas continua no papel, enquanto ele prossegue gastando R$ 15 milhões por ano (desde 2014) em campanhas de publicidade executadas pela agência Prole, cujos donos estão cada vez mais enrolados na Operação Lava-Jato, como suspeitos de participar do esquema de corrupção de Sérgio Cabral.

Assombrados com a “delação do fim do mundo” feita pelo presidente e por ex-diretores da Odebrecht, aos eleitores resta assistir hoje como o dinheiro público era manipulado por empresários e políticos. Talvez agora muitos entendam por que o Estado do Rio quebrou, a saúde faliu e as ruas foram tomadas por ladrões de todos os calibres.

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Gilson Monteiro
Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.
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5 thoughts on “Escombros da Lava-Jato em Niterói

  1. Uma pergunta para reflexão: quem de nós, no lugar dos administradores públicos ou dos administradores privados fazendo negócios com o setor público não faria RIGOROSAMENTE A MESMA COISA que se vê por aí todo os dias (a bandalha com o dinheiro público em benefício privado)? Quem de nós, que adoramos apontar a desonestidade da classe política – e só dela – como única responsável pelas piores mazelas do país, não tem, lá no fundo, a mesma motivação que eles têm para “se dar bem enquanto todo o resto que se dane”? Algum de nós tem lastro moral para empunhar bandeira de ética e clamar por decência? O que cada um de nós está fazendo para mudar o estado geral de coisas? Os filósofos antigos já ensinavam: quer mudança? Comece mudando por você primeiro!

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