As barcas Rio-Niterói não vão parar de circular nunca. Podem mudar de timoneiro sendo entregues a uma nova concessionária ou pilotadas pelo próprio governo estadual. Pelo menos é o que a história ensina sobre a necessidade do transporte hidroviário entre as duas cidades. A concessionária CCR Barcas anunciou na sexta-feira (11) que vai encerrar o contrato com o governo do Estado do Rio de Janeiro no dia 12 de fevereiro. Segundo o governador Claudio Castro, porém, “o governo do Estado não considera qualquer perspectiva de interrupção da prestação do serviço à população”.
O vai e vem das embarcações de passageiros pela Baía de Guanabara não ficou mais de um dia paralisado nem quando aconteceu a Revolta das Barcas, em maio de 1959. Na época, era concessionário do serviço o Grupo Carreteiro. Um dia antes do quebra-quebra, o Sindicato dos Marítimos decretou greve nas barcas. A Marinha cuidou de administrar o transporte provisoriamente. Só que usou duas embarcações pequenas, conhecidas como “avisos”, insuficientes para atender a grande demanda e passageiros (cerca de 100 mil/dia).
De repente, uma pedrada contra a vidraça de uma das embarcações da Marinha foi respondida por um fuzileiro naval com uma rajada de tiros para o alto. Foi o estopim para a revolta popular depredar e incendiar a estação da Praça Arariboia e até a casa dos Carreteiro, no Fonseca. Mas no dia seguinte, a situação já estava sob controle, e o governo federal assumiu as barcas, estatizadas como o STBG (Serviços de Transporte da Baía de Guanabara).
A história mostra que desde o tempo em que o cacique temiminó Arariboia se deslocava de sua tribo na Ilha do Governador para Nichteroy, singrando as águas da Baía de Guanabara com sua canoa, cinco séculos depois, nem a Ponte Rio-Niterói foi capaz de suprir o transporte de passageiros entre as duas cidades. Nem vai ser agora que essas cidades vão deixar de contar com o transporte marítimo.
O que esperamos é que o governo estadual assuma com interesse esta questão e resolva logo de vez um modelo de concessão das barcas Rio-Niterói. Que o serviço seja entregue a uma empresa – ou consórcio – competente para administrar o transporte marítimo tão importante para as duas cidades. Que se tire das pistas da Ponte Rio-Niterói o peso do transporte rodoviário que já se revelou insuficiente para atender a muitos passageiros. E que as barcas finalmente possam chegar a São Gonçalo, desafogando o trânsito que desemboca ou passa por Niterói.