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Bar Sul América sucumbe à pandemia e fecha de vez no Centro de Niterói

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Quem nos áureos tempos ia pegar ou chegava de barca à Praça Martim Afonso, tinha o hábito de tomar um cafezinho no Santa Cruz ou no Sul América, beber um copo de hidrolitol na Hidrovita, comprar uma bisnaga na Pão Quente, comer uma coalhada na Leiteria Brasil, degustar um salgadinho na Sportiva, provar a pizza da Italiana, assistir a um filme no Central ou até tomar uma injeção com seu Acácio na Farmácia Ponciano.

A partir de hoje, o Sul América, único resquício da história do Centro da cidade da ex-capital fluminense, que ainda restava em pé na Visconde do Rio Branco esquina com José Clemente, fechou as portas de vez, depois de mais de um século de existência.

Esses dois tradicionais bares de esquina – o Sul América e o Santa Cruz (na esquina da Rua da Conceição) – , foram points de políticos, jornalistas, lojistas, profissionais liberais, gerentes de bancos, que iam ali para se ver, bater papo, fechar um negócio e, claro, tomar um café bem quente.

Fim de uma tradição

Marcelo Pinto de Souza, 53 anos, conta que seu pai Carlos comprou o Sul América há 72 anos, que já existia há 30 anos. O filho começou a trabalhar no bar aos 14 anos. Hoje, obrigado a fechar café, diz que não há negócio que resista ficar fechado por mais de quatro meses, pagando aluguel de R$ 23 mil, salários de 18 empregados antigos, IPTU altíssimo, contas de água, energia, gás, telefone, contador, encargos sociais, impostos e outras despesas.

– O comércio já vinha passando por uma crise financeira e a pandemia foi o fim. Depois de muita angústia, sofrimento e preocupação para pagar os encargos, chegamos no limite, pondo fim a uma atividade que fazíamos desde garoto, com dedicação, sempre procurando prestar um bom atendimento ao cliente – lamenta Marcelo ao arriar a porta de uma história de mais de 100 anos.

‘Despejados’ pela terceira vez

Na porta do Sul América reunia-se um grupo de senhores que, chovendo ou fazendo sol, ali estava desde 1970 nos finais de tarde, de segunda a sexta-feira, para disputar uma rodada de água mineral e cafezinho na porrinha (um jogo de adivinhação em que cada participante coloca até três moedas nas mãos fechadas; vence quem acerta o total delas).

Preocupados em encontrar um novo ponto de encontro, vão tentar o Galeto na José Clemente, e até a calçada do prédio dos Correios.

É o terceiro ‘despejo’ dessa turma que começou a se encontrar em 1962, no Riviera da Rua da Conceição. Depois foi para a porta do Cinema Central e há 50 anos estava na frente do Sul América.

O grupo sofreu baixas, mas continua grande. Fazem parte Ney Lopes, René Jorge, Adailton Campelo, Carlos Rad, Carlos Evaldo, Adelmo do Banerj, Roberto Carnaúba, Carlos Nery, Hilário Pinheiro e Antônio Leonardo.

Na praça agora só resta o cacique Arariboia, de braços cruzados em seu pedestal. Sozinho, pois nem a companhia do relógio Rolex de Germano Grand tem mais, o valente índio continua aguardando as promessas feitas pelos governantes, de revitalização do Centro, com a expansão do setor habitacional e o desenvolvimento do comércio local.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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