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Apito triste marcou fim das barcaças que cruzavam a baía de Guanabara

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Até março de 1974, as barcaças faziam a travessia de carros, caminhões, triciclos e até burrinhos sem rabo entre o Rio e Niterói

O fim de 30 anos do serviço de barcaças Rio-Niterói foi marcado pela viagem da Pirajá, que partiu de Niterói para o Rio às 21h do dia 7 de março de 1974 com um longo e triste apito. Levava oito carros e um carrinho de mão. Dois dias antes, relembra o repórter Gilberto Fontes, enquanto a ponte era aberta ao tráfego de veículos às 6h daquela terça-feira, 5 de março, outra barcaça, a Jurujuba, seguia do Rio para Niterói transportando somente um triciclo.

Vejam em seguida, o relato de Gilberto Fontes, parceiro da Coluna que cobriu esses acontecimentos históricos, há cinco décadas. Ele conta, ainda, como um ano antes da fusão dos Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro a barreira fiscal das secretarias de Finanças foi “despejada” da beira mar e proibida de se instalar na ponte.

Adeus à barcaça

“O Serviço de Transportes da Baía de Guanabara (STBG) comunica que dada a insignificante demanda de usuários nas barcaças de carga, este tráfego será suspenso às 24h do dia 7 de março de 1974. A diretoria”.

O seco comunicado foi a pá de cal sobre um serviço que durou cerca de 30 anos, transportando caminhões, carros de passeio, triciclos, bicicletas e até mesmo caronas, que não tendo dinheiro para pagar a passagem nas barcas de passageiros, procuravam entrar desapercebidos no convés de uma das quatro barcaças que ligavam o Rio a Niterói.

Assim, às 21h de 07/03/74, a Pirajá, pilotada pelo mestre Pedro Cardoso, fez sua última viagem para a Guanabara, aonde chegou 25 minutos após, transportando oito carros de passeio e mais um carrinho de mão, de Manoel Pereira, que foi o último a embarcar.

O comando da última viagem ficaria a cargo do mestre Osvaldo Moura – que há 17 anos trabalhava como arrais e já aposentado. Contudo, dizendo-se muito emotivo, ele preferiu deixar o leme com seu colega Pedro.

O fim do serviço de barcaças estava previsto para o dia 30 de março, mas foi antecipado pelo STBG. Continuaram transportando veículos e cargas pela Baía de Guanabara apenas duas barcaças da Viação Atlantica (Valda), que meses depois também parou o serviço.

Manoel Pereira, o último a entrar na barcaça em sua última viagem, todos os dias transportava encomenda do Mercado de Flores do Centro do Rio para uma floricultura de Icaraí. 

Na Agência Fiscal da Cantareira, responsável pela fiscalização do Imposto de Circulação de Mercadorias (ICM), o ambiente era de saudade. Os fiscais foram remanejados para postos móveis de fiscalização da legislação tributária estadual.

Antes da fusão dos estados do Rio e da Guanabara, cada um deles tinha sua Secretaria de Finanças e mantinham barreiras fiscais nos seus limites territoriais. O Ministério dos Transportes proibiu a instalação de postos de arrecadação do ICM, junto aos boxes de pedágio da ponte Rio-Niterói. A criação de uma barreira fiscal, ponderou o Ministério dos Transportes, causaria congestionamentos no trânsito. A secretaria de Finanças fluminense criou, então, volantes fiscalizadores nas quatro saídas da ponte em Niterói, para fiscalizar o trânsito de mercadorias.

Primeiro dia da ponte

Na manhã do dia 5 de março de1974, 15 carros já estavam alinhados na Praça do Pedágio aguardando a abertura às 6h do trânsito na ponte inaugurada um dia antes pelo general Emilio Medici. O primeiro da fila era o pescador de Maricá Ciro Barbieri, com seu jipe BG-3706-RJ. Como os tempos eram ditatoriais, teve de ceder a vez ao Fusca da esposa de um coronel que era secretário geral do Ministério dos Transportes.

O pescador, que mal podia prever que mais adiante a ponte viveria congestionada nas horas de rush, saudou a inauguração com um cartaz no seu jipe: “Adeus 15 anos de sofrimentos!”. Nesse período a que se referia Barbieri, ele passou carregando peixes para o Mercado da Praça XV, atravessando a baía pelas barcaças do STBG ou da Valda.

Cento e dezesseis veículos cruzaram a ponte na primeira hora de funcionamento. Nesse mesmo instante, partia da Praça XV para a Praça Arariboia a barcaça Jurujuba, transportando apenas um triciclo que fazia entrega de malotes para a Aerojato Cruzeiro.  

Com a ponte, bicicletas, triciclos e burrinhos sem rabo que faziam pequenos fretes entre o Rio e Niterói perderam a vez. Somente veículos motorizados podiam cruzar os 13,29 km da nova rodovia, como acontece até hoje. Mas se Araribóia duvidar, ainda é capaz de ver a prefeitura de Niterói criar uma ciclovia sobre as águas da Guanabara.

Gilson Monteiro

Iniciou em A Tribuna, dirigiu a sucursal dos Diários Associados no Estado do Rio, atuou no jornal e na rádio Fluminense; e durante 22 anos assinou uma coluna no Globo Niterói. Segue seu trabalho agora na Coluna Niterói de Verdade, contando com a colaboração de um grupo de profissionais de imprensa que amam e defendem a cidade em que vivem.

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