Na tarde de ontem tive a sorte e a alegria de encontrar casualmente Annita Baptista de Souza, ela que aos 95 anos de idade votou na urna eletrônica do colégio estadual Raul Vidal, na Ponta d’Areia, em Niterói, onde vai voltar dia 30/10 para cumprir o segundo turno da eleição de presidente da República.
Seu voto, Annita não revela. Memória viva da história do Estado do Rio de Janeiro, conviveu com a família do conde Pereira Carneiro no castelo da Ponta d’Areia, bairro onde passou grande parte de sua vida. Foi diretora executiva do Jornal do Brasil, presidido pela viúva e segunda esposa do conde, a condessa Maurina Dunshee de Abranches. A primeira esposa de Pereira Carneiro, Beatriz Correia de Araújo, pernambucana como ele, era madrinha de Annita.
Apesar da dúvida inicial, meu faro de repórter e a memória visual da infância e juventude vividos na Ponta d’Areia descobriram que aquela senhora, mesmo usando máscara, era uma fisionomia conhecida. Annita, que saía de um supermercado de Icaraí, tinha sido por muitos anos minha vizinha nas cercanias da Vila Pereira Carneiro.
A conversa na calçada foi rápida e girou em torno do saudosismo. Ela lembrou que o pai Francisco foi trabalhar no palacete do conde Pereira Carneiro, dono de um estaleiro e do Jornal do Brasil. O empresário construiu a vila que leva seu nome para servir de moradia aos empregados. Com a crise da indústria naval, Pereira Carneiro vendeu as casas.
Afilhada de Beatriz, primeira mulher do conde, Annita morou com sua família no castelo de Pereira Carneiro. Além do estaleiro, o conde foi dono do Jornal do Brasil, que com a sua morte passou para o controle da família da segunda esposa, Maurina.
A Ponta d’Areia sempre foi o bairro preferido dos portugueses que chegavam a Niterói. Ali abriam alfaiatarias, barbearias, armazéns, padarias, botequins e restaurantes. Lá se come um bom bacalhau até hoje e sempre teve o Mercado de Peixe por perto. Annita lembra que a Vila com muitas casas, igreja e um pensionato de freiras continua sendo até hoje lugar aprazível de moradia.
Nas rápidas pinceladas de nossa conversa, Annita lembrou dos colégios Joaquim Leitão, Raul Vidal, Plínio Leite, Liceu Nilo Peçanha e da Faculdade Direito da UFF, onde ela se formou bacharel.
Por mais de meio século foi o braço direito e esquerdo do conde e da condessa Pereira Carneiro, e lembra dos bons momentos e da fase áurea do Jornal do Brasil, importante e respeitado órgão da imprensa brasileira.
Sente saudade da boa convivência e dos papos de alto nível sobre todos os assuntos com os famosos jornalistas que povoaram a redação do jornal. Diz que a maioria deles fumava muito. Certa vez, lhe ofereceram um cigarro, mas na primeira tragada desistiu de ser fumante.
Atualmente, ocupa o tempo lendo livros, fazendo palavras cruzadas, trocando mensagens com as amigas por WhatsApp ou se distraindo vendo televisão. Mora sozinha desde quando perdeu o irmão Joel, no ano passado.
Uma senhora com as histórias de vida e profissional da encantadora Annita Baptista de Souza a gente só encontra mesmo é na terra do cacique Arariboia.
Que bela crônica, recordações históricas do poderoso JB de tantos ornamentos humanos como dona Annita.
Que beleza!!! É muito
bom lembrar do nosso passado. Parabéns para dona Anita pelos 95 anos e lúcida. Recordar é viver.